Cerca de cinco mil metalúrgicos da região do ABC paralisaram o trânsito na Rodovia dos Imigrantes, em Diadema, na última terça-feira, dia 7, em protesto às reformas previdenciária e trabalhista. A mobilização regional é considerada um “esquenta” para o ato nacional que será realizado no dia 15 de março com a união de diversas categorias.
Para o presidente do sindicato, Rafael Marques, este é o momento de pressionar ainda mais os deputados para impedir a aprovação das medidas. “A população de forma geral já é contra as reformas, temos pesquisas que mostram isso, e é por esta razão que precisamos estar nas ruas para evidenciar a indignação popular aos governantes, porque não vamos aceitar perda de direitos”, afirmou.
Este foi o segundo grande ato organizado pelo movimento sindical metalúrgico no ABCD. O primeiro, em dezembro, levou aproximadamente 12 mil pessoas para ocupar a Rodovia Anchieta. Os participantes demonstraram contrariedade às regras propostas pelo governo federal, em que todos os trabalhadores deverão atingir a idade mínima de 65 anos e pelo menos 25 anos de contribuição para poder se aposentar – neste caso, serão recebidos 76% do valor da aposentadoria. Para receber a aposentadoria integral, o trabalhador precisará contribuir por 49 anos, sendo os 25 anos obrigatórios e 24 anos a mais.
O sindicalista apontou preocupação, ainda, com as publicações do governo para convencer a população sobre a necessidade das reformas. Na última quinta-feira (02/03), o PMDB – partido do presidente Michel Temer – publicou na própria página no Facebook a seguinte campanha: “Se a reforma da Previdência não sair: Tchau, Bolsa Família; Adeus, Fies; Sem novas estradas; Acabam os programas sociais”.
“Estão usando de mentiras e fazendo chantagem para justificar à população uma proposta que só serve aos patrões e ao sistema financeiro brasileiro. Isso não será aceito pelos trabalhadores e vamos continuar lutando para que não se torne realidade”, afirmou Marques.
“TRABALHAR ATÉ MORRER”
A trabalhadora Elessandra Fernandes, 32 anos, é montadora de peças na empresa Delga, em Diadema, e está preocupada com o futuro da aposentadoria. “Eu tenho 15 anos de carteira assinada, comecei a trabalhar nova, mas esse período vai ser estendido. Se for aprovada [a reforma] vou me sentir explorada, porque a jornada de todas as mulheres não é apenas na fábrica. Tenho dois filhos e a casa para cuidar, mas nada disso vai ser levado em consideração”, disse.
Outra trabalhadora que demonstrou revolta pela reforma é a Esmerinda Silva Rolin, 52 anos, que possui 24 anos de contribuição à Previdência Social. “As mulheres e os trabalhadores rurais serão os mais prejudicados, além de toda a população que fica mais velha e as empresas descartam”, relatou a metalúrgica na TRW.
Para a vereadora de São Bernardo, Ana Nice, o governo precisa estar atento às diferenças sociais.
“A mulher tem jornada tripla, o trabalhador rural não tem facilidade para pagar carnê de previdência e a população mais pobre pode morrer sem se aposentar. Além disso, o governo ainda quer aprovar o projeto de terceirização e jornada de trabalho flexível de até 12 horas por dia. É a volta da escravidão no mercado de trabalho brasileiro”, apontou.