Os trabalhadores da Johnson Controls, fabricante de baterias automotivas instalada na zona industrial de Sorocaba, participaram de protestos na entrada de todos os turnos entre ontem e hoje, dias 26 e 27, devido aos acidentes de trabalho que vêm acontecendo na fábrica.
Logo após a manifestação de ontem à tarde, a empresa chamou o Sindicato e o CSE para conversar. Juntos devem construir uma agenda de negociação sobre meios de evitar novos acidentes.
Mesmo após esse contato da Johnson, o SMetal manteve seu cronograma de manifestações e realizou protestos no terceiro turno de ontem e no primeiro de hoje.
De acordo com o Sindicato dos Metalúrgicos (SMetal), que coordenou os protestos, desde setembro já aconteceram 13 acidentes na empresa. Os ferimentos têm atingido as mãos dos trabalhadores. Os casos envolvem cortes com pontos de sutura e fraturas. Um trabalhador perdeu a falange de um dedo.
A principal reclamação do Comitê Sindical de Empresa (CSE) é pelo fato da empresa chamar trabalhadores em período de recuperação pós-acidente para trabalharem, realocando-os em outras funções.
Ritmo intenso
SMetal e CSE também afirmam que a sobrecarga de trabalho dos funcionários atuais têm sido a principal causa de acidentes. “O ritmo de produção na Johnson requer o aumento urgente do quadro de funcionários”, defende Everton da Silva Souza, membro do CSE.
A Johnson hoje conta com 1 mil trabalhadores no chão de fábrica e 500 no setor administrativo. A produção atual gira em torno de 500 mil a 700 mil baterias por mês.
Os protestos duraram entre 40 minutos e uma hora. Os trabalhadores aprovaram a apresentação de denúncias contra a empresa ao Ministério Público do Trabalho e ao Ministério do Trabalho, caso os acidentes continuem acontecendo.
Sem crise
A Johnson é uma das poucas indústrias da região que não foram afetadas pela crise nos últimos anos. As baterias automotivas fabricadas por ela destinam-se principalmente ao mercado de reposição.
“São baterias de qualidade, de fato. E como a situação da maioria da população não permite que se troque de carro com frequência, como acontecia nos anos em que a economia estava aquecida e quase não havia desemprego, a pessoa tem que fazer manutenção periódica do veículo que já possui, mantendo o mercado de reposição desse produto em alta”, explica Joel de Oliveira, membro do CSE.
“Portanto, a fábrica tem condições de fazer mais contratações ao invés de aumentar a pressão, acelerar o ritmo e exigir horas extras”, completa Joel.
Minuto de silêncio
Durante o protesto, os metalúrgicos da Johnson fizeram um minuto de silêncio ao homenagem a Jailton Teixeira da Silva, que morreu no último dia 22, vítima de um acidente de trabalho na Metso Fundição.
O forno onde trabalha Jailton explodiu no dia 21, provocando queimaduras em cerca de 90% do seu corpo.
“Foi comovente a adesão dos metalúrgicos da Johnson ao minuto de silêncio em respeito à memória de Jailton. É essa solidariedade entre trabalhadores que precisamos resgatar na categoria, a fim de que, juntos, possamos exigir melhores condições de trabalho e quaisquer iniciativas que retirem direitos ou prejudiquem a dignidade dos metalúrgicos e da classe trabalhadora”, defende Izídio de Brito, secretário de organização do SMetal.
Aumento real
Além dos acidentes de trabalho, a manifestação sindical na Johnson serviu para informar que, fruto de negociações entre o SMetal e a empresa, os trabalhadores terão 1,27% de aumento real de salários este mês.
O aumento real surgiu na continuidade das negociações da campanha salarial de 2017, quando o reajuste básico dos metalúrgicos se limitou à reposição da inflação que,m segundo o IBGE, foi de 1,73%.
Reajustes acima dos 1,73%, que aconteceram em muitas fábricas, dependeram do grau de mobilização dos trabalhadores, que, no caso da Johnson, resultou no 1,27% de aumento real (acima da inflação).