Quanto maior a qualificação, maior é a diferença salarial entre homens e mulheres, essa é a realidade da trabalhadora brasileira. De acordo com estudo do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), mulheres que trabalham em ocupações que exigem nível superior recebem 39,6% a menos (PNAD Contínua/IBGE).
Se analisarmos os cargos de chefia nas empresas metalúrgicas de Sorocaba e Região, como supervisora, gerente, encarregada, diretora e coordenadora, o percentual de participação é equivalente ao encontrado em toda a categoria, de 19,33% (dados da RAIS). Em toda a base do Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba e Região (SMetal), a participação das mulheres é de 18,93%.
Porém, quando o assunto é salário, a diferença entre homens e mulheres aumenta significativamente e chega a 36,95%. Enquanto eles ganham, em média, R$ 13.386,22, a média do salário delas é de R$ 8.439,54.
Por exemplo: na categoria, há 90 homens em cargos de gerente administrativo e 45 mulheres. Enquanto eles ganham, em média, R$ 19.185,52, o salário médio feminino é de R$ 8.989,34; uma diferença de 53,15%. Disparidades como essa se repetem em diversas outras colocações, como diretor administrativo (-59,49%); gerente de vendas (-55,71%); gerente de marketing (-57,98%); supervisor de montagem (-45,52%) e diretor de recursos humanos (-30,43%).
De acordo com socióloga Adriana Marcolino, técnica da subseção do Dieese da CUT Nacional, a maioria das trabalhadoras brasileiras estão na base da pirâmide salarial, que possui o salário mínimo como piso. “A política de valorização do salário mínimo empurrou todas as pessoas da base da pirâmide para cima, o que ajudou a reduzir a desigualdade salarial entre homens e mulheres que recebem o mínimo”.
Porém, ela explica que, quando você vai subindo para ocupações de maior qualificação, a primeira questão é que as mulheres são em menor quantidade nesses espaços, o que já afeta a média salarial dessas ocupações. Além disso, quando elas chegam a cargos de maior qualificação, não conseguem evoluir na carreira.
“As engenheiras do setor automotivo, por exemplo, até são contratadas. Porém, nos planos de cargos e salários, os homens que conseguem promoções dentro da carreira e as mulheres não. O que tem tudo a ver com a cultura machista da sociedade”.
Leandro Soares, presidente do Sindicato critica a discriminação feminina em cargos de maior qualificação, especialmente devido ao grau de escolaridade encontrada na categoria. Conforme demonstra os dados da subseção Dieese do SMetal, 28,06% das trabalhadoras metalúrgicas de Sorocaba e região possuem ensino superior. Enquanto entre os homens, apenas 18,65% são graduados.
“Sabemos que em alguns setores da metalurgia é mais comum a contratação de homens, especialmente na produção, e temos batalhado para ampliar a participação feminina em todos os campos. Porém, há ainda mais dificuldades para as mulheres chegarem à chefia e, quando conseguem, ganham bem menos, independente da formação, das jornadas triplas e do empenho. Esse machismo enraizado na nossa sociedade é algo que todos devemos combater”, destaca Leandro.
Perfil da mulher metalúrgica
De acordo com o estudo da subseção Dieese do SMetal, que tem como base os dados da RAIS de 2020, quando analisado o número de contratações em toda a categoria, nos últimos anos, não é possível identificar um aumento significativo na admissão de mulheres, o que explica a participação feminina se manter praticamente estável, entre 18% e 19%.
No quesito salário, mulheres recebem, em média, 25% a menos que os homens. Já se analisarmos apenas funcionários da produção, a diferença é ainda maior, de 31%. Enquanto homens do chão da fábrica recebem a média de R$ 3.053,38, o salário médio da mulher é quase R$ 1 mil a menos, de R$ 2.104,97. Leia mais sobre o perfil da trabalhadora metalúrgica aqui.