As eleições gerais de 2014 entram para a história brasileira por terem sido a mais disputada desde o restabelecimento da democracia em nosso país. Entram também para história pelo acirramento dos embates ideológicos travados ao longo das campanhas do primeiro e segundo turnos.
Os resultados nas urnas indicaram que, a despeito da reeleição da presidenta Dilma Rousseff – uma vitória fundamental para a continuidade do projeto político defendido pela classe trabalhadora – o movimento sindical e os movimentos sociais terão ainda mais desafios pela frente.
Teremos de tensionar muito mais nossa relação com o Congresso Nacional – que a partir de 2015 será muito mais conservador do que o atual. Será necessário muita mobilização para garantir direitos já consolidados e para avançar em nossa pauta.
Uma amostra de que não podemos cochilar aconteceu no último dia 28, quando a Câmara dos Deputados derrubou o decreto da presidenta Dilma que regulamenta a participação social (prevista na Constituição). Ou seja, dois dias depois da eleição, as forças conservadoras do Legislativo comprovam que não querem participação popular e sinalizam, com isso, quais interesses representarão com mais vigor a partir do próximo ano.
Além de defender o projeto vitorioso nas urnas, no paralelo as entidades de classe e sociais terão de cobrar da presidenta Dilma Rousseff a ampliação do diálogo com o sindicalismo e as organizações da sociedade civil, para que suas demandas sejam contempladas e para impedir que os setores retrógrados – que têm os meios de comunicação como principais aliados – imponham a sua agenda ao país, fazendo com que o Executivo fique na defensiva.
Mas o desafio maior será garantir o nível de mobilização que alcançamos no segundo turno da eleição, que trouxe para o nosso campo milhares de jovens – entre os quais, certamente, estavam os que conseguiram suplantar o repúdio contra partidos, sindicatos e organizações ligadas à esquerda demonstrado nas manifestações de junho de 2013.
Temos de ter clareza que a presença significativa de jovens na campanha de Dilma Rousseff não representou a adesão imediata deles ao nosso projeto, mas sim a adesão à luta contra a direita e o retrocesso representado pela candidatura tucana e seus apoiadores.
Isso nos dá uma nova possibilidade de nos reencontrar com os segmentos que podem se somar à batalha para aprofundar as transformações sociais em nosso país. O movimento sindical, particularmente, tem muito trabalho pela frente.
Temos, efetivamente, de abrir cada vez mais espaços de participação para a juventude trabalhadora nas instâncias sindicais, formulando junto com ela (e não no lugar dela) as ações para que as entidades de classe sejam um dos principais pontos de aglutinação de suas demandas e um dos principais caminhos para consolidar conquistas e aprofundar o projeto político que acabamos de reeleger.
A eleição deste ano deixou bem claro que o processo de disputa “de corações e mentes” está aberto. O resultado foi, por um lado, enorme – diante do jogo sujo deflagrado pela direita, principalmente pelos meios de comunicação. Por outro lado, cabe reconhecermos que foi um resultado apertado porque, até esta eleição, nós – movimento sindical, partidos de esquerda e movimentos sociais – não mobilizamos e não atuamos com o vigor necessário para atrair os jovens para o nosso campo.
Não podemos mais deixar o “barco correr” e apenas lembrar de que isso é necessário às vésperas de cada eleição. Enfim, temos de manter acesa a chama das mobilizações do segundo turno, nem que, para isso, tenhamos de nos “reinventar” e rever as lutas cotidianas, para continuar construindo o país pelo qual temos dedicado toda a nossa trajetória.