Manifestantes protestam nesta sexta-feira, dia 5, contra o governo interino de Michel Temer, na Praia de Copacabana, na zona sul do Rio de Janeiro. Organizadas pelas frentes Povo Sem Medo, Brasil Popular e Esquerda Socialista, milhares de pessoas pedem a volta da presidenta Dilma Rousseff. Na noite desta sexta-feira, os Jogos Olímpicos serão abertos oficialmente com a presença do presidente interino e a organização do evento preparou um aparato técnico para abafar os protestos durante o pronunciamento.
Mas o movimento contra Temer está nas ruas e dificilmente será calado. “A manifestação denuncia para o mundo o golpe que está sendo dado contra o governo democraticamente eleito da presidenta Dilma Rousseff. Esse golpe representa um retrocesso para o conjunto dos trabalhadores. É um golpe que coloca em xeque os direitos dos trabalhadores. É por isso que estamos aqui, junto com as frentes, nessa grande manifestação. Nenhum direito a menos”, disse o presidente da CUT-SP, Douglas Izzo, por Facebook.
“Lula trouxe as Olimpíadas para o Brasil e colocou o país no mapa das nações com capacidade para organizar grandes eventos”, lembrou o presidente nacional da CUT, Vagner Freitas. “Já temos um primeiro lugar no pódio garantido: o ouro contra o golpe vai ser da classe trabalhadora, dos jovens, dos estudantes, dos movimentos sociais e sindical, dos negros, LGBT, de moradia, dos sem-terra e de todos os que lutam por democracia.”
Pela manhã,os manifestantes que se dirigiam de São Paulo para o Rio encontraram nas estradas diversas blitz da polícia. Oficiais revistaram minuciosamente os 14 ônibus da Frente Brasil Popular que seguiam para o estado, segundo disse o coordenador do movimento, Raimundo Bonfim, à Rádio Brasil Atual. “Queremos denunciar, mundialmente, para toda a imprensa internacional, atletas e turistas, que estão no Rio para acompanhar os Jogos, que o que está acontecendo no Brasil é um golpe de Estado com aparência de legalidade”, disse.
As principais bandeiras de luta são ataque ao golpe, defesa da democracia e contra o desmonte das políticas públicas executadas pelo governo interino. “Eles podem tomar todas essas medidas, fazer operação-abafa, vaias, mas, para nós, dos movimentos sociais, do povo brasileiro, sempre haverá maneira de gritar ‘Fora, Temer, Não ao Golpe, Nenhum direito a menos!'”, disse Bonfim.
“Em governos autoritários e ilegítimos, não tem jeito, tem que tentar reprimir e sufocar a reação, as mobilizações e protestos. Estamos vivendo um período muito perigoso para a democracia brasileira, onde nem sequer temos o direito de trafegar, de forma tranquila, nas estradas do Brasil, para participar de um protesto livremente”, disse o ativista.
A praia de Copacabana já é um tradicional ponto de protestos no Rio e também um dos locais por onde passou o revezamento da tocha olímpica na manhã de hoje. Participam do ato também a Plenária dos Trabalhadores em Luta do Rio e o CSP-Conlutas.
“O Brasil viveu 21 anos de ditadura. A democracia ainda é muito frágil. Esse golpe é completamente inaceitável. Importante que haja resistência, nas ruas, redes e praças. É muito importante dizer que esse golpe não passará”, disse o deputado estadual Marcelo Freixo (Psol), em entrevista à Mídia Ninja: “Há uma agenda de resistência ao golpe, que inclui organizar atos, manifestações culturais, conversar com os diferentes. Nessa agenda tem que estar derrotar o PMDB, o mesmo partido que criou essa situação de calamidade olímpica. No Brasil, não tem tsunami, terremoto, a nossa calamidade é o PMDB. O grande legado é: queremos mais democracia”.
O deputado federal Jean Wyllys (Psol-RJ) disse que, apesar da crise política, espera que os jogos ocorram da melhor forma possível. “Espero que as Olimpíadas deem certo. As coisas têm que acontecer. Independentemente disso, quero que o PMDB e essa camarilha de corruptos que assaltaram a República e o Rio de Janeiro sejam depostos nas próximas eleições, seja nas municipais, seja nas de 2018. As Olimpíadas não têm culpa, têm culpa os gestores que conduziram da pior maneira possível, com remoções, com repressão e violência aos movimentos sociais. Um legado que não vai servir à população”, afirmou, em entrevista a Mídia Ninja.
A deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ), disse em sua página no Facebook, citando texto do jornalista Janio de Freitas, que o relatório da comissão de impeachment no Senado podia vir só com a expressão “Dilma culpada”, não precisava conter mais nada. “Nenhum argumento da defesa significou nada para aqueles senadores.” Em Copacabana, Jandira fez um apelo: “Seja no Rio, seja em outra parte do Brasil, faça a denúncia do golpe chegar ao mundo”.