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Glaucoma

Mais de 1,5 mil aguardam na fila por consulta em Sorocaba

Para que possam ter acesso ao colírio, os pacientes precisam passar por atendimento médico

Jornal Cruzeiro do Sul/Esdras Felipe Pereira
Erick Pinheiro/JCS

Milde espera por atendimento para obter a receita médica desde agosto de 2014

Uma idosa de 67 anos, diagnosticada com glaucoma há oito meses, nunca teve acesso ao colírio necessário para o tratamento da doença. A aposentada Milde Ruiz foi informada que estava com a patologia após uma consulta no Banco de Olhos de Sorocaba (BOS) no ano passado. Para obter o medicamento ela precisaria passar por novo acompanhamento clínico para, assim, conseguir a receita médica, o que não é possível desde agosto de 2014, quando foi a um posto de saúde do bairro Aparecidinha tentar encaminhamento à Policlínica, agora responsável pelo atendimento oftalmológico municipal. O problema é grave, mas o caso de Milde não é exclusividade no município, já que dados fornecidos pela Secretaria de Saúde (SES) indicam que outras 1.559 pessoas estão na lista de espera por consultas nesta especialidade médica. “Desde total, 744 aguardam a consulta para verificar a necessidade do uso do colírio para tratamento e 815 já para aquisição do medicamento”, diz a pasta em nota.

Segundo Milde, desde que foi à unidade do Aparecidinha, liga quase que diariamente em busca de possíveis informações sobre o agendamento de sua consulta. Apesar disso, explica que não recebe a notícia tão esperada. “Sempre me dizem que a fila está enorme e que não há previsão de data”, lamenta. Ela acredita que os problemas para conseguir o acompanhamento médico começaram a piorar quando os atendimentos oftalmológicos, antes feitos pelo BOS, passaram a ser realizados na Policlínica. “E agora fui avisada de que todos os procedimentos e exames que já fiz no BOS terão que ser repetidos na Policlínica”, reclama. A Central Municipal de Regulação de Vagas, por sua vez, informa que houve uma tratativa com a Unidade Pré-Hospitalar (UPH) da Zona Leste para o atendimento da demanda de glaucoma dos munícipes de Sorocaba.

Em maio de 2014, o fornecimento do colírio de tratamento da doença, até então realizado exclusivamente pelo BOS, passou a ser feito pela Farmácia de Medicamentos Especializados da Secretaria de Estado de Saúde, a Farmácia de Alto Custo, após mudança sistemática no repasse de recursos pelo Ministério da Saúde. Para que possam ter acesso ao medicamento, porém, os pacientes precisam passar por consulta médica na rede municipal, na qual recebem as receitas. Por isso, muitas pessoas acabam enfrentando problemas semelhantes ao de Milde.

A SES não respondeu aos questionamentos do Cruzeiro do Sul sobre o tempo médio de espera de cada paciente para passar por um médico oftalmologista. Sobre o caso da idosa em especial, a pasta declara que sua consulta está marcada para o dia 12 de março. O número da ouvidoria geral da Saúde é o (15) 3238-2526 e os contatos também podem ser feitos pelo e-mail ouvidoria @sorocaba.sp.gov.br.

Risco de cegueira

Acometida pela doença, a aposentada afirma que o principal sintoma sentido é a pressão intraocular. O glaucoma causa danos ao nervo óptico do portador e, conforme dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), a cada ano são registrados 2,4 milhões novos casos. Ainda segundo o órgão, a falta de sintomas é a principal dificuldade para se detectar o surgimento da patologia. “O que percebo é que sempre escorre um líquido, uma gosminha do meu olho”, conta a aposentada.

De acordo com o médico oftalmologista Rodrigo Favoretto, especialista em glaucoma, o longo período sem o medicamento pode levar até à cegueira da paciente. “Pois o colírio visa principalmente baixar a pressão intraocular e, se ela está sem, muito provavelmente a pressão está maior do que o nervo óptico pode tolerar”, explica. Ele diz que em alguns casos o tratamento da doença pode ser feito através de laser ou cirurgia. “Mas isto é quando o colírio não está fazendo efeito, pois o ideal é tentar o controle do glaucoma com o medicamento”, afirma.

No estágio inicial da doença, entretanto, Favoretto declara que o portador pode ter a visão periférica prejudicada, assim como sua sensibilidade ocular. O médico diz não ser possível precisar qual é o período (dias, meses, anos) sem o colírio que pode levar à perda total da visão. “Depende muito de pessoa para pessoa, e qual é o tipo de lesão no nervo”, completa.

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