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Doença ocupacional

Lesão por Esforço Repetitivo, a LER: sofrimento invisível

O preconceito de companheiros de trabalho em relação às vítimas de doenças ocupacionais aumenta o sofrimento de quem convive com dores, afastamento de suas funções e adaptações a novas atividades

Imprensa SMetal/Fernanda Ikedo
Lucas Delgado

Eduardo Maluche: ‘eu preferia não ter adoecido e ter meus movimentos de volta’

Na década de 90 pouco se conhecia sobre Lesões por Esforços Repetitivos (LER) e predominava o preconceito até entre companheiros de fábrica contra os trabalhadores acometidos pela doença ocupacional.

Por se tratar de uma doença que não é visível aos olhos, as ofensas contra os lesionados giravam em torno de ‘preguiçoso’ ou ‘vagabundo’. Acontece que, mesmo após tantas epidemias de LER, estudos da medicina, avanços nas prevenções e relatos sobre o tema, o preconceito continua a fazer suas vítimas.

O montador Otacílio Eduardo Maluche, 45, pegou carona recentemente para ir ao trabalho porque o ônibus da fábrica tinha quebrado. O motorista, trabalhador da mesma empresa, comentava com ar de desconfiança, durante o trajeto, sobre os ‘restritos’, como são chamados os lesionados na fábrica. Sem saber que Maluche era um deles.

O diagnóstico

Maluche entrou na ZF Sistemas em Sorocaba, em 1994 e chegava a carregar até 72 eixos de 32 quilos por dia em sua rotina como montador. Rotina que, na maioria das vezes, atingia 12 horas diárias. “Eu pedia para colocar uma talha, que ajudaria na diminuição do peso, mas ficava com receio de ficar batendo na mesma tecla”, afirma. E na própria linha de produção tudo era feito a mão.

Dois anos depois, o metalúrgico passou a sentir as consequências dessa rotina de trabalho com fortes dores nos punhos e braços. “Meu supervisor recomendou que eu procurasse um médico e fui para a Santa Casa. Os tendões já estavam comprometidos”, lembra.

O braço direito foi engessado e Maluche ficou nove anos afastado. Entrou no Programa Reabilita do INSS (CRP, na época). Pai de dois filhos, ele teve a vida virada de ponta cabeça. Entrou em depressão e se separou. Em sua própria casa ele não conseguia carregar certos objetos. “Nem fazer a manutenção em casa, as tarefas domésticas eu conseguia”.

Quando voltou ao trabalho na ZF, em 2006, Maluche relata que muita coisa já tinha mudado. Havia braços mecânicos na produção e não se usava mais a força braçal como antes. Mesmo assim, mais três Comunicações de Acidente de Trabalho (CAT) foram abertos porque ele voltou a atuar como montador numa área de bomba a óleo.

“Depois, me mudaram de setor porque o serviço ainda era incompatível com minhas condições físicas”, conta. Mas, as dores continuam e agora ele está de licença médica por depressão e aguarda na Justiça a aposentadoria por invalidez.

O secretário-geral do SMetal, Leandro Soares, é enfático ao dizer que esses acidentes de trabalho são frutos de uma lógica capitalista direcionada para as metas de produção, na lucratividade além da exploração de horas extras. “É preciso ainda muita fiscalização e cobrança para que se diminua o ritmo de produção e para que se tenha ergonomia nos postos de trabalho. Por isso, continuamos nessa luta, que não se esgota, pela melhoria nas condições de trabalho”.

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