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Vidas Negras Importam

Juventude negra de Sorocaba marcha contra o racismo

Com máscaras de proteção contra a Covid-19, jovens protestam contra o genocídio da população negra e a violência institucional; ato começou na praça Frei Baraúna e seguiu até à Praça do Campolim

Fernanda Ikedo e Vanessa Ramos para CUT-SP
Daia Moura/CC
Ato acontece neste sábado, 6

Ato acontece neste sábado, 6

Há anos o povo preto grita e não é ouvido. Isso tem que acabar. Esta foi a tônica que se ouviu nas ruas neste sábado, 6, quando jovens negros de Sorocaba (SP) realizaram um ato antirracista, no centro da cidade, para protestar contra o genocídio da população negra e a violência institucional que tem ceifado vidas, incluindo crianças e jovens.

“A resistência do povo preto nesse momento está sendo foco dos holofotes. A sociedade saiu do comodismo racista para lutar e falar que é “antirracista”. O povo preto grita há anos e nunca é ouvido, um preto é morto no Brasil a cada 23 minutos e nunca nada é feito”, afirmou a estudante de Pedagogia, 21 anos, Michelle Andrade, uma das idealizadoras do protesto.

Segundo Michelle, o ato é uma oportunidade de expor e dialogar com a sociedade sobre a violência comumente praticada no Brasil. “Isso é só o começo da união de todos os Movimentos Negros de Sorocaba. Não iremos cessar. Enquanto o sangue preto continuar escorrendo, iremos gritar e lutar até quando for necessário”, completou a militante.

Diretor do Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba e Região (SMetal), Everton Souza ressalta a forma como a juventude vem se mobilizando. “Existe um brilho no olhar dos jovens protestando. Novas consciências estão se construindo, as lutas e combates têm se intensificado. Sorocaba despertou nisso e agora vão ter que segurar a gente”, disse o sindicalista.

Chega de violência

O governo de Jair Bolsonaro (sem partido) é, na avalição da secretária de Combate ao Racismo da CUT-SP, Rosana Aparecida Silva, a expressão máxima do que há de reacionarismo com explícitas posturas sexistas, xenofóbicas e racistas.

“A violência se expressa de diferentes formas. Além do assassinato de nosso povo, que tem suas vidas ceifadas, seus sonhos interrompidos e famílias destruídas, a população negra recebe os menores salários e é a menos representada na política e nos espaços de poder”, pontuou a dirigente.

Para a advogada e presidenta do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Sorocaba, Emanuela Barros, o protesto é uma representação de resistência frente “a um governo fascista que ameaça a vida da população em detrimento do capital financeiro e da própria família Bolsonaro”, afirmou.

É contra essas formas de violência apontadas por Rosana e Emanuela que dezenas de jovens e militantes de movimentos negros, com álcool em gel nas mãos e máscaras de proteção contra a Covid-19, levantaram faixas com pedido de justiça, entoando o grito “Fora Bolsonaro”.

Um rosto sorocabano também apareceu nas faixas e banners levados pelos militantes do movimento negro. A do locutor Milton Dinho, integrante da União de Negros pela Igualdade (Unegro), morto em uma ação da Polícia Militar (PM) em Sorocaba, em dezembro de 2018.

Daia Moura
Manifestantes sentaram na rua, ergueram os punhos e entoaram a frase “eu não consigo respirar”

Manifestantes sentaram na rua, ergueram os punhos e entoaram a frase “eu não consigo respirar”

Num dos momentos mais emocionantes da marcha, que iniciou na praça Frei Baraúna, no centro, em direção à Praça do Campolim, na zona sul, os manifestantes sentaram na rua, ergueram os punhos e entoaram a frase “eu não consigo respirar”, em referência às palavras do norte-americano George Floyd, cuja morte por um policial branco em 25 de maio desencadeou um movimento de protesto nos EUA como não se observava há anos.

“Estou aqui por todas as mães pretas que neste momento estão chorando a morte dos filhos, dos netos. É uma dor que ninguém apaga, estamos clamando por justiça em todos os lugares do mundo. É um dever cívico, de memória, dever para com nossos ancestrais para que, de alguma forma, a justiça seja feita. Precisamos de justiça para que essas pessoas racistas saibam que não saíram impune! Respirar é nosso direito”, disse a atriz e doutoranda em Educação, Daia Moura.

O ato antirracista neste sábado (6) também prestou homenagem à mãe de Miguel Otávio Santana da Silva, de 5 anos, que morreu ao cair do nono andar, na terça-feira, dia 2, enquanto a “patroa” da mãe fazia as unhas e obrigava Mirtes, a mãe do menino, levar os cachorros para passear.

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