Nesta quinta-feira, 15, 85 crianças e adolescentes que integram os projetos da Pastoral do Menor de Sorocaba, foram levados ao cinema para assistir o filme Pantera Negra, no Shopping Panorâmico.
De vários bairros, como Parque São Bento, Nova Esperança, Jardim Sueli e Jardim Magnólia, essas crianças e jovens lotaram dois ônibus e tiveram uma sessão de cinema exclusiva. A história do filme não foi apenas mais uma história de um herói do universo Marvel.
A atividade foi possível devido ao sonho de militantes do movimento negro em dar visibilidade à cultura com raízes na ancestralidade africana em Sorocaba, para que crianças e jovens pudessem ter contato com as artes feitas por negros e, assim, valorizar uma cultura rica, porém tão discriminada.
Após alguns encontros e discussões surgiu o “Rabo de Arraia”, nome dado em referência a um golpe da capoeira, o grupo conseguiu, com o apoio do Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba e Região (SMetal) e do Sindicato dos Rodoviários promover a primeira atividade, a sessão Pantera Negra.
Conforme o presidente do SMetal, Leandro Soares, “o filme Pantera Negra tem tido um alcance incrível de representatividade para a comunidade negra e foi importante que em Sorocaba conseguimos proporcionar essa experiência para essas crianças se verem no cinema”.
Para além do ícone negro
O roteiro traz a ancestralidade dos povos africanos no fantasioso universo da Marvel, a trilha sonora que remete aos tambores africanos, o elemento da dança nos integrantes dos cinco reinos de Wakanda, o dialeto da cidade, que pode sim remeter aos diversos dialetos africanos. Fora a força da beleza das guerreiras de Wakanda, que não se enquadram no padrão convencional, são carecas.
Aliás, fugir dos padrões é uma das reflexões que o filme traz à tona. Afinal, numa ditadura de moda e de beleza – onde é estipulado o que “é certo e errado” ao invés de se dizer, com todas as letras, preconceito – é uma batalha diária. É assim com o cabelo do negro, com a cor da pele, com a religião, com tantas outras discriminações.
“Não é uma estética padrão, mas uma força que vem de dentro para fora”, comenta a professora da cultura de raízes africanas Daniela Andrade Lopes Sena Francisco, uma das integrantes do grupo “Rabo de Arraia”.
Daniela se emocionou no filme ao lembrar das crianças de três anos para quem dá aulas. Ao pensar na trajetória de cada uma delas, dos desafios a vencer.
A força das mulheres de Wakanda é ancestral, a mesma que faz com que cada jovem nas periferias de qualquer parte do mundo, faça soar a voz pela liberdade e por direitos e que se fazem ouvir.
Uma delas é a estudante Emilly Hagatta, 13 anos, integrante do projeto Pastoral do Menor do Parque São Bento, onde passa o contraturno escolar. Como fã do universo Marvel, estava ansiosa no ônibus, junto com amigas, para assistir Pantera Negra.
Para o produtor cultural Melquisedeque Luis da Silva, a intenção do grupo de levar crianças e adolescentes para ver Pantera Negra é mostrar as referências dos povos negros. “Temos escritores, artistas, intelectuais que representam nossas culturas e isso precisa ser visto. O filme traz além do herói preto, a luta coletiva”, afirma.
“O SMetal sempre teve uma preocupação cidadã, de trabalhar além das fábricas. Sabemos o quanto a população negra sofre com o racismo, com a falta de espaço na sociedade. Por isso, apoiar essa ação é só uma contribuição rumo a uma sociedade mais igualitária”, afirma o secretário de organização do SMetal, Izídio de Brito.
O presidente do Sindicato dos Rodoviários de Sorocaba e Região, João Paulo Eustasia, pontua que “a sociedade não quer nossos jovens negros e pobres ocupando os espaços. Por isso, levar as crianças para um espaço que elas têm direito de ocupar e ver um filme que celebra a representatividade do povo negro é uma ação que o Sindicato dos Rodoviários tem prazer em apoiar”.
Além dos integrantes do grupo idealizador da atividade, os dois ônibus contaram com acompanhamento de coordenadoras pedagógicas da Pastoral do Menor, resultando em 135 poltronas ocupadas da sala de cinema.