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Comunicação

Jornal Cruzeiro do Sul entrevista presidente do Sindicato

A entrevista com Ademilson Terto foi publicada na edição de 26/06/2011 do Jornal Cruzeiro do Sul, no caderno de Economia

Carolina Santana - Jornal Cruzeiro do Sul
Foguinho/Imprensa Smetal
Ademilson Terto assmiu seu primeiro mandato como presidente eleito no último dia 24 de maio

Ademilson Terto assmiu seu primeiro mandato como presidente eleito no último dia 24 de maio

Presidente eleito tem 16 anos de história sindical
Sindicato agrega 44 mil trabalhadores de Sorocaba e região

Aos 44 anos, Ademilson Terto da Silva encara a presidência do Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba e Região pela segunda vez. Apesar de ser o segundo mandato, Terto enfrentou uma eleição pela primeira vez este ano (em sua primeira gestão ele assumiu a presidência substituindo o agora vereador Izídio de Brito, que assumiu uma vaga no Legislativo sorocabano pelo PT) e disse ter sido “Fantástico”.

No movimento sindical há 16 anos, Terto vivenciou diversas evoluções na luta pelos direitos trabalhistas. Ele conviveu diretamente com Wilson Fernando da Silva, o Bolinha, falecido em 2008 – ele foi o responsável pela implantação do sindicalismo como hoje é conhecido em Sorocaba. “O Bolinha foi meu grande ídolo. Digo que ele sempre foi um exemplo e um guia para mim”, revela Terto.

O envolvimento com o sindicalismo aconteceu no meio da década de 80 quando ingressou na Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (Cipa) da empresa gráfica em que trabalhava. “Quando eu me envolvi vi o tamanho da luta. Não tinha como não me envolver”, diz Terto, contratado do grupo Schaeffler desde os inícios dos anos 90.

Durante a crise de 2008 o sindicalista teve importante papel na conservação de empregos na região. Na região foi tomada a decisão de não aceitar a redução salarial proposta por diversas empresas. Muitas negociações foram feitas e o posicionamento foi mantido até o final de 2009, quando os problemas na economia mundial ultrapassaram o período mais crítico. “Não foi fácil pois todos os outros sindicatos aceitavam a diminuição salarial, mas nós fomos firmes e não aceitamos isto”, lembra.

CS – Como e quando você ingressou no movimento sindical?

AT – Antes de ser dirigente sindical eu trabalhava em uma empresa gráfica que na época tinha mais de mil trabalhadores. Eu entrei na Cipa (Comissão Interna de Prevenção de Acidentes) e foi o meu primeiro contato com dirigentes do sindicato. Eu era bem dedicado e eles começaram a me chamar para as assembleias, o Bolinha, inclusive, me fazia esses convites. Até então, eu só trabalhava a questão de trabalho, segurança de trabalho, que era minha área. Mas quando eu vi a quantidade de problemas e o tamanho do compromisso que eu tinha assumido não tinha o que fazer. Quando eu me deparei com a realidade eu estava envolvido com temas das mais diversas ordens. Isto foi em 1986 para 87, em empresa gráfica. Eu fui demitido de lá pois nós fizemos uma greve que acabou em várias demissões, inclusive um casal de companheiros, o marido e a esposa, não teve nenhuma consciência social. Por causa desta história nós ficamos em estado de luto usando uma faixa preta no braço. Isto foi uma ofensa ao diretor da empresa que acabou demitindo quem estava usando a tarja. Ele pediu para eu tirar mas eu não tirei, disse que estava muito triste, em luto, aí me demitiram.

“Dirigente sindical tem que ser fiscalizador”
“As empresas precisam do sindicato, precisam fazer acordo e são auditadas sempre. Mesmo não querendo, têm que engolir a presença do sindicato”

CS – Depois desta demissão, o que aconteceu?

AT – Depois disto eu fui contratado pela Metalac, uma metalúrgica. Trabalhei lá por três meses mas fui demitido também. Nós fizemos uma greve lá. Não tinha jeito de não fazer. O pessoal estava em uma luta danada lá em busca de benefícios e eu fui ajudar os companheiros. Certo que eu era novo, solteiro…. mas acho que se não fosse, faria a mesma coisa, não tem jeito de não fazer.

CS – Por que?

AT – A luta que a gente faz não é para nós. O que a gente conquista vai ser válido para todo mundo e outras pessoas que virão, terão as garantias. Nesta greve da Metalac eu me expus demais, lembro que eu pulei na frente do ônibus… mas eu acho que também não foi só por causa da greve que me demitiram. Na verdade eles não renovaram meu contrato depois da experiência.

CS – Hoje você é do grupo Schaeffler?

AT – Eu estou lá desde 1989. Quando eu entrei era a LUK do Brasil, não tinha ainda a fusão. Eu pensei que eu também seria demitido, pois 89 foi um ano muito bacana para os trabalhadores. Aconteceu a eleição do Lula contra o Collor. Os encarregados chamavam os trabalhadores para saber em quem votar. Se você respondesse Lula, eles tentavam te convencer do contrário. Aí, o que a gente fez? Montamos um comitê do Lula dentro da fábrica e os caras queriam saber quem estava encabeçando isto. Foi muito bacana pois quanto mais eles faziam, mais a gente angariava companheiros e os trabalhadores sabiam quem estava organizando.

CS – Qual o papel de um dirigente sindical dentro de uma empresa?

AT – Esta é uma boa pergunta. É um representante dos trabalhadores e um braço dos sindicatos dentro da fábrica. A primeira coisa que ele tem que ser é fiscalizador. Ver se está sendo feito o papel da jornada correta, se está respeitando as determinações da convenção coletiva. É de bom tom que o dirigente ande com uma convenção no bolso. Ele é que vai cobrar se tiver alguma coisa errada. Outro papel é negociar as reivindicações dos trabalhadores. Teve uma época em uma fábrica aí que mais de 90% dos trabalhadores era nordestino e sabe o que eles pediram? Pediram para que tivesse buchada de bode no cardápio. Fizeram paralisação e tudo.

CS – Você já contou por cima suas histórias de demissões mas eu gostaria de saber se você já sofreu algum tipo de perseguição por ser do sindicato?

AT – Olha…. eu já sofri. As empresas, na verdade, tinham uma cultura de tratar o dirigente sindical com muito conflito. Tinha encarregado que orientava os funcionários para não sentarem no almoço comigo. Então eu mudei minha estratégia. Comecei a sentar com os encarregados. Diziam que iam mandar embora quem almoçasse comigo eu queria ver se eles iam demitir os encarregados. Mas a coisa foi mudando.

CS – O que mudou, então?

AT – Somos contra o assistencialismo e viemos com um novo formato. Isto foi um choque porque na cabeça dos empresários tinha que permanecer o outro modelo. Quem era do sindicato então, era taxado como uma pessoa baderneira, que vai parar a empresa e causar problemas. Quando o Bolinha chegou com a CUT e um novo formato de sindicalismo no Brasil foi muito conflitante com as empresas pois não estavam acostumados com isto. Até então, tinha o sindicato, a aplicação da CLT (Consolidação das Leis Trabalhistas), uma colônia de férias e só. Tinha a contribuição sindical, que existe até hoje, e eles achavam que era o suficiente, que sindicato não precisava de sócios. Nós viemos e quebramos tudo isto. As empresas precisam do sindicato, precisam fazer acordo e são auditadas sempre. Mesmo não querendo, têm que engolir a presença do sindicato pois a gente precisa participar dos acordos e a empresa tem que prestar conta disto. Década de 80 tinha mais trabalhadores, em 90 caiu para 19 mil por conta das demissões. Hoje, mesmo com as empresas automatizadas e reestruturadas, estamos com 44 mil. Os 19 mil foi até o final dos anos 90 e em dez anos fomos para 44 mil. Isto provou que mesmo as empresas reestruturadas podem gerar emprego.

CS – Vamos falar um pouco desta marca. O que significa para a categoria ter 44 mil trabalhadores?

AT – Para nós, metalúrgicos, isto é muito positivo pois nunca chegamos a ter um número destes em Sorocaba e região. Isto é sem a Toyota estar aqui pois ela só chega em 2012. A Toyota disse que vai trazer mais 10 mil empregos, entre diretos e indiretos e a categoria vai aumentar mais ainda. Acho que o diferencial mesmo foi a política adotada pelo governo Lula, com uma proposta de crescimento econômico, as negociações que foram feitas para reduzir os impostos nos veículos durante a crise ajudou muito… prioritariamente foi o ritmo das empresas, a produção aumentar… isto deu uma alavancada na nossa categoria que a gente ficou até preocupado. Ficamos tão preocupados que mudamos o nosso modelo no local de trabalho. O nosso estatuto permitia que a gente tivesse 34 dirigentes sindicais. Nós alteramos o nosso estatuto e aí foi também uma ousadia pois a lei não nos permitia que a gente o mudasse. Este modelo de comitê foi adotado em 2002 e hoje estamos com 130 diretores. É um salto enorme, mas ainda é pouco. Na época da crise, se tivesse apenas 34 dirigentes a gente não ia conseguir das as respostas necessárias. A gente decidiu que faríamos todos os tipos de negociações desde que não tivesse rebaixamento de salário. Foi muita pressão, pois em volta da gente todo mundo fez a redução de salário. A gente segurou a barra de muita empresa pois todas elas vinham com esta proposta

CS – O Bolinha começou o movimento aqui em 1983 e é tido como um marco no movimento sindical do interior. Como foi seu relacionamento com ele?

AT – Conviver com ele fez parte da minha formação sindical. Ele é minha grande referência de ser humano. Antes de ser presidente eu fui presidente da Federação dos Metalúrgicos e eu pegava carona com ele para a CUT em São Paulo. Só conversar com ele durante o trajeto já era uma aula. Ele foi o grande mentor disto aqui, de trazer um sindicato autêntico e humano. Ele entrou na chamada lista negra. Era uma lista que corria dentro dos RHs das empresas e se seu nome estivesse na lista negra não conseguia emprego em nenhum lugar. Ele era um ferramenteiro espetacular, mas não parava dentro da empresa pois tinha esta coisa de organizar os trabalhadores e teve que vir para o interior para arrumar emprego.

CS – Muito dos direitos trabalhistas que são aplicados a todos os trabalhadores vieram da luta dos metalúrgicos. Hoje, na sua opinião, o que ainda falta?

AT – Nós temos uma cláusula na nossa convenção que dá garantia de emprego, até a aposentadoria, para o trabalhador que adoece por causa do trabalho. Se foi a empresa que causou aquela doença, tem que arcar com isto e absorver esta pessoa até a aposentadoria. Isto existia em outras categorias mas o pessoal foi arrancando. Nós fortemente resistimos e esta cláusula não sai. Eu acho que tem uma série de reivindicações, como as férias em dobro. O trabalhador que saiu de férias, quando volta, não tem salário. Você só pode gastar o um terço das férias. Acho que esta poderia ser uma conquista legal. Então ele receberia dois salários, um na saída e outro na volta das férias. Isto ainda não foi discutido mas vai ser colocado na convenção salarial. É uma discussão a ser feita. De modo geral, acho que os sindicatos avançaram bastante mas ainda falta a valorização da negociação.

A entrevista acima foi publicada na edição de 26/06/2011 do Jornal Cruzeiro do Sul, no caderno de Economia

Repórter: Carolina Santana

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