A categoria metalúrgica soma 1,69% com perdas salariais desde a última data-base (setembro de 2022). É o que mostra o balanço de janeiro deste ano do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), que é utilizado como base para as negociações de reajuste salarial da categoria no país.
No mesmo período do ano passado, este índice estava em 4,68%. Mas isso significa que a inflação está baixa? Não necessariamente. É o que explica o economista Fernando Lima, membro da subseção do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos (Dieese) dos metalúrgicos de Sorocaba.
Para o especialista, os índices observados em 2020, 2021 e 2022 é que estavam fora da curva e foram influenciados pelos impactos durante e pós pandemia da Covid-19 e, também, pela omissão do governo na hora de agir. Ele explica que, durante esse período, os estoques reguladores – que são mecanismos de ajuste de preços por meio da oferta de produtos – foram liquidados; assim como algumas matérias primas começaram a faltar no mercado.
O resultado disso, o trabalhador viu: preços exorbitantes nos supermercados e, não somente, sensação de menos dinheiro no bolso devido aos preços em vários outros setores: vestuário, saúde e cuidados pessoais, combustíveis, entre outros. Esse ciclo fez com que em 2022, por exemplo, os metalúrgicos tivessem 8,83% de perdas salariais no acumulado anual.
Neste ano, passados cinco meses da data-base, o INPC está em 1,69%. Em janeiro, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o indicador teve alta de 0,46%. “Estamos caminhando para um cenário que chamamos de normalidade inflacionária. Isso não significa que não houve perda salarial para a categoria, mas, sim, que os salários estão perdendo seu poder de compra com menos rapidez”, explica Fernando.
Esse movimento se chama “desaceleração da inflação”, que acontece quando o patamar do indicador está em níveis considerados aceitáveis e não sobem ou descem tão rápido quanto os últimos anos, por exemplo. Isso significa que os impactos ainda chegam, mas em ritmo menos acelerado.
O cenário de inflação normalizada não indica que a Campanha Salarial será fácil. Em outros anos, anteriores à pandemia, os diretores do Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba e Região (SMetal) tiveram a mesma dificuldade em negociar com as bancadas patronais. “Não importa se o INPC fecha abaixo dos 3% ou acima dos 10%. Todo ano temos uma ressalva dos empresários quando o assunto é reajuste salarial. Por isso, a desaceleração não torna o período mais simples”, comenta Leandro Soares, presidente da entidade.
Taxa Selic
Outro ponto que o economista do Dieese pede atenção é a Taxa Selic. O Sistema Especial de Liquidação e Custódia (Selic), à grosso modo, é o principal mecanismo de controle da inflação no Brasil. Essa taxa serve para nortear as demais taxas de juros, sejam nos empréstimos, financiamentos e outras aplicações financeiras.
Sua política de taxação é definida pelo Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom), este escolhido e empossado pelo presidente da república em questão. Neste caso, atualmente a política monetária do BC é conduzida por Roberto Campos Neto, indicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), em 2021, junto a mais sete diretores que ficam no cargo até 2024.
O Copom decidiu estagnar a taxa Selic em 13,75% ao ano, percentual de juros relativamente alto. O economista do Dieese conta que, ao aumentar a Selic, ocorre uma desaceleração da economia, impedindo a inflação de ficar muito alta. Já quando o percentual está baixo, se estimula o consumo da população e, consequentemente, há um aquecimento na economia.
Leandro Soares lembra que a política monetária vigente caminha na contramão de uma economia aquecida. “Neste momento, o que estamos vendo é que os indicados por Bolsonaro para o BC optaram por manter a Taxa Selic alta, como no ano passado. Isso é contraproducente para a economia brasileira, uma vez que não permite que a classe trabalhadora acesse bens de consumo”, comenta.
Fernando Lima esclarece, ainda, que essa taxa beneficia a economia financeira, praticada pelas instituições como os bancos, mas a massa de assalariados sai perdendo.