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Entrevista

Inclusão de Deficientes: Comunicar para incluir

Confira entrevista com Dariene Rodrigues, fisioterapeuta e editora de veículos de comunicação voltados para a inclusão de pessoas com deficiência na sociedade e no mercado de trabalho

Imprensa SMetal
Lucas Delgado/Imprensa SMetal

Dariene Rodrigues é fisioterapeuta e diretora da ONG Assossiação Desportiva dos Deficientes de Sorocaba

Criadora de um jornal impresso e de um programa de rádio, ambos dedicados às pessoas com deficiência, a fisioterapeuta Dariene Rodrigues aposta na comunicação como ferramenta de transformação de uma sociedade mais inclusiva.

Também diretora da ONG Associação Desportiva dos Deficientes de Sorocaba, Dariene é uma das palestrantes da 9ª Sesispat na manhã desta sexta-feira, dia 18 (veja programação clique aqui ).

Em entrevista à Folha Metalúrgica, ela fala sobre os avanços e os desafios no processo de inclusão dos mais de 45,6 milhões de brasileiros com deficiência.

Sobre o mercado de trabalho, a profissional e militante destaca que a lei que garante cota para trabalhadores com deficiência já completou 22 anos, mas, por resistência e preconceito dos empresários, ainda não é cumprida.

De maneira geral, o poder público, as empresas, as cidades e mesmo as famílias, estão preparadas hoje para incluir as pessoas com deficiência?

“A sociedade, de maneira geral, ainda não está preparada. Em muitos casos, o preconceito já vem da própria família da pessoa com deficiência. Então, se dentro da família já existe esse preconceito, imagina fora, na sociedade. Você vê que os municípios, tanto a parte de estrutura física como o tratamento no dia-a-dia, eles não estão aptos, não conseguem receber essas pessoas. Quando elas conseguem chegar, acabam enfrentando esse desafio de buscar o seu espaço. Existe, ainda, muita barreira e muito preconceito. Aos poucos, vão surgindo leis e os próprios deficientes começam a se organizar para buscar mais espaço na sociedade, mas é um processo que vai durar um longo período para que a gente construa uma sociedade mais inclusiva.

As leis específicas e políticas afirmativas que visam à inclusão das pessoas com deficiência na sociedade e no mundo do trabalho são fundamentais neste processo?

Sim, elas são. No Brasil existem várias leis que favorecem as pessoas com deficiência. A legislação brasileira, nesse sentido, é avançada, mas muitas dessas leis não são cumpridas. Por exemplo, existe o artigo 93 da lei 8.213, que obriga as empresas com mais de cem funcionários a contratarem entre 2% e 5% dos trabalhadores com deficiência. Este ano essa lei completa 22 anos, mas a gente ainda vê a batalha dos deficientes tendo de lutar para buscar o seu espaço, tendo que provar que é capaz. O ideal, com certeza, seria que de início não houvesse leis específicas, mas, se com leis já é complicado, imagina como seria sem elas. Esperamos que, daqui a alguns anos, os empresários percebam que esses profissionais também estão aptos a desenvolver o trabalho, afinal isso é benéfico tanto para a empresa quanto para o trabalhador com algum tipo de deficiência.

Quais são as maiores dificuldades que a pessoa com deficiência enfrenta para ingressar no mercado de trabalho?

Além de todas as questões relacionadas à própria acessibilidade, o primeiro impasse, como com qualquer outro trabalhador, se refere à qualificação. Em muitos casos, quando a qualificação da pessoa é baixa, não é porque ela não quer ou não gosta de ir à escola. É porque muitas vezes no bairro onde ele mora a escola não é acessível. Às vezes não tem equipamento específico para a deficiência dele. Depois, tem a questão social da família, do transporte. E fora isso, às vezes dentro da própria escola, nem sempre os profissionais estão qualificados em atender as pessoas com deficiência. Então, são várias as barreiras externas.

Também existe preconceito por parte do empregador, em contratar pessoas com deficiência?

Com certeza. Às vezes também pela falta de informação, mas, de maneira geral, eles querem o mais próximo da não deficiência. Porque se você tiver uma qualificação até melhor que a minha, mas se você anda de cadeira de rodas e eu ando de muletas, eles vão me contratar, pois, na cabeça deles, eles vão ter menos gastos comigo do que com você.

O IBGE estima que aproximadamente 24% da população brasileira têm algum tipo de deficiência. Existe um censo que aponte o número de pessoas com deficiências aptas ao mercado de trabalho?

Nos últimos anos, principalmente no estado de São Paulo, as cidades que têm políticas públicas para a inclusão das pessoas com deficiência têm realizado esse levantamento. Sorocaba já deveria ter feito, já que até cidades menores da região já fizeram, mas infelizmente até agora não fez. Então, como o poder público vai planejar políticas públicas se ele não tem o mapeamento dessa população?
A sua palestra na Sesispat, na sexta-feira, dia 18, no Sindicato, terá como tema “Pessoas com deficiência na mídia: Uma abordagem humanizada”.

Em sua opinião, quando o assunto é pessoas com deficiência, de que forma a mídia tem tratado?

Até cinco anos atrás, a gente mal ouvia falar sobre pessoas com deficiência na mídia. E quando surgia alguma coisa, na TV, rádio e jornal, eram assuntos que acabavam reforçando o preconceito. Agora, começa a surgir meios mais específicos para pessoas com deficiência e a difusão de informações que, até então, eram completamente desconhecidas. Hoje já se fala sobre esporte adaptado, educação inclusiva entre outros assuntos que ajudam a potencializar a inclusão de forma positiva. Mas essa mudança de postura da mídia é bastante recente.

Você tem um amplo trabalho voltado à inclusão de pessoas com deficiência como o jornal Inclusão, o Rádiojornal Inclusão (transmitido de segunda a sexta, das 6h50 às 7h pela rádio Cruzeiro FM, 92.3Mhz) e o site Portal Inclusão . Fale um pouco desse trabalho de apostar na comunicação para, de certa forma, ajudar a tornar a sociedade mais inclusiva.

No início de 2010, lançamos o jornal, cujo objetivo é facilitar e difundir informações às pessoas com deficiência e mobilidade reduzida. Em maio deste ano, em uma parceria com a Uniso e a rádio Cruzeiro FM, iniciamos o rádiojornal, que nos ajudou a ampliar ainda mais esse trabalho. Em seguida, lançamos o portal que, além de reunir todos os trabalhos que nós realizamos, nos permite oferecer informações ainda mais atualizadas e guia de serviços para pessoas com deficiência. O nosso próximo desafio, mas que depende de muitas parcerias, é criação de um programa na televisão que será a TV Inclusão.

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