Um incêndio no final da tarde desta sexta-feira, dia 23, no Parque Vitória Régia, em Sorocaba, destruiu 20 toneladas de materiais recicláveis e também os equipamentos de trabalho dos catadores da Cooperativa de Reciclagem de Sorocaba (Coreso). Há suspeita de vandalismo.
O incêndio começou pouco depois das 17h e às 19h já havia sido contido pelo Corpo de Bombeiros. No entanto, o prazo foi o suficiente para as chamas destruírem produtos de plástico (incluindo garrafas pet), papel, papelão e outros materiais destinados à reciclagem; além de prensas e balanças utilizadas no beneficiamento dos produtos. Fogão e geladeira que serviam à alimentação dos cooperados no trabalho foram igualmente destruídos. A estrutura metálica do local também ficou comprometida.
Patrícia de Sene, presidente da Coreso, estima R$ 250 mil o prejuízo causado pelo incêndio, que ela classifica como um ato de vandalismo. De acordo com Patrícia, o vandalismo e o roubo de materiais são constantes no local. Vários boletins de ocorrência foram registrados e a Prefeitura foi comunicada dos riscos de prejuízo material e ambiental. “Mas nenhuma providência concreta foi tomada”, conta.
Já foram registrados roubos de cabos de cobre, latas de alumínio, panelas e materiais ferrosos recicláveis. Também foram furtados, várias vezes, cabos de instalação elétrica do local.
Vandalismo e drogas
O terreno de 5 mil metros quadrados no Vitória Régia foi cedido em 1999 pela Prefeitura para o serviço de coleta seletiva. A área construída com recursos da própria Coreso, hoje tem apenas 400 metros quadrados, mas já foi maior. Incêndios anteriores destruíram parte da estrutura. O local é cercado apenas por um alambrado em um terreno em declive, o que propicia a utilização do terreno, à noite, por traficantes de drogas e viciados.
“Cada vez que denunciamos os riscos ou quando acontece um ato de vandalismo, a Prefeitura vai para a imprensa e faz uma declaração de ajuda futura ou de mais investimentos e valorização das cooperativas. Mas, na prática, nada é feito após a imprensa se esquecer do caso”, afirma a presidente.
Segundo ela, o incêndio desta sexta-feira acentua o desamparo a quem quer trabalhar com reciclagem na cidade. “É uma situação lamentável. São mais catadores vitimados pela exclusão social e pela desatenção da Prefeitura. São pais e mães de famílias que vão deixar de produzir”, denuncia.
“Somente no galpão do Vitória Régia, quatro famílias tiram seu sustento desse serviço considerado de utilidade pública em várias cidades do Brasil e em muitos países do exterior”, explica Patrícia.
Em fevereiro de 2012 o local já havia sido alvo de incêndio suspeito de ser criminoso. No início dos anos 2.000 também houve um incêndio potencialmente suspeito e registrado nos órgãos responsáveis. Mas não foram tomadas medidas de segurança permanentes pelo poder público.
Prejuízos acumulados
Em agosto de 2014, outro galpão de reciclagem da Coreso, na zona oeste, teve que ser interditado devido a problemas de infiltração de água. A cooperativa solicitou, sem sucesso, ajuda da Prefeitura para sanar o problema, visto que a coleta de resíduos sólidos deveria ser objeto de interesse imediato da administração municipal, por força de uma legislação federal que trata do assunto e que ainda não é cumprida pelo Paço de Sorocaba.
Recentemente o prefeito Antônio Carlos Pannunzio declarou sua intenção de passar o serviço de coleta de recicláveis a empresas privadas, nos moldes da que recolhe o lixo comum da cidade, ao invés de investir em cooperativas de catadores.
Potencial desperdiçado
“Sorocaba hoje produz pelo menos 500 toneladas de lixo por dia, dos quais aproximadamente de 25% a 30% são potencialmente recicláveis ou reaproveitáveis”, afirma o vereador Izídio de Brito (PT), que já teve um projeto de lei de valorização dos catadores rejeitado pela administração tucana.
“Desse material valioso, a maioria é misturada ao lixo comum, pelo qual a Prefeitura vai pagar cerca de R$ 100 milhões este ano a empresas privadas pela coleta, transporte e depósito do lixo em um aterro em Iperó”, critica o parlamentar.
A Coreso, com cerca de 80 catadores cooperados e responsável pela coleta de 130 toneladas de recicláveis por mês, é a maior organização do gênero na cidade, com quatro galpões de separação e beneficiamento de produtos: Vitória Régia e Itavuvu (ambos na zona norte), Jardim Capitão (zona oeste) e Jardim Colorau (zona leste). Porém, dois deles, do Vitória Régia e do Jardim Capitão, agora estão desativados e sem perspectivas de investimentos da Prefeitura, segundo a direção da cooperativa.