A persistir os atuais mecanismos de remuneração de homens e mulheres da categoria metalúrgica no Brasil, a histórica reivindicação de igualdade salarial só vai acontecer em 2091, ou seja, daqui a 74 anos.
É o que revela o estudo “A Inserção das Mulheres no Ramo Metalúrgico: uma década de avanços, desigualdades e lutas”, elaborado pela Subseção do Dieese da Confederação Nacional dos Metalúrgicos da CUT (CNM/CUT) e da Federação Estadual dos Metalúrgicos da CUT/SP (FEM-CUT/SP).
Divulgado nesta quarta-feira (8), Dia Internacional da Mulher, o levantamento comparou os níveis de emprego e salário das trabalhadoras metalúrgicas em 2006 e 2015 (último ano com dados disponibilizados pelo Ministério do Trabalho).
De acordo com o estudo, embora tenha caído, a diferença salarial entre homens e mulheres da categoria ficou em 25,3% em 2015 (em 2006, era de 28,18%). Isso significa que, ao se levar em conta o salário médio mensal por gênero, as metalúrgicas trabalham 92 dias de graça ao ano (a remuneração média mensal delas é R$ 868,28 menor que a dos homens).
“O que acontece com as mulheres na nossa categoria mostra que o mercado de trabalho ainda é perverso e discrimina. Elas têm a mesma jornada nas fábricas que os homens, ganham menos e ainda trabalham mais em casa”, assinala Marli Melo, secretária de Mulheres da CNM/CUT.
Ela lembra que, no geral, as mulheres trabalham 5,4 horas a mais na semana que os homens, com os afazeres domésticos e o cuidado com a família. “Não bastasse essa realidade, agora o governo golpista quer aumentar a idade da aposentadoria das mulheres de 60 para 65 anos”, ressalta a sindicalista, referindo-se à reforma da Previdência enviada por Michel Temer ao Congresso.
Ainda sobre o impacto da reforma sobre as trabalhadoras, Marli lembra que as mulheres são as mais afetadas pelo desemprego (o que as afasta do mercado de trabalho e, portanto, de períodos de contribuição previdenciária) e também acabam recebendo proventos menores que os dos homens na aposentadoria. “Por isso, nossa luta contra essa reforma tem de crescer cada dia mais”, completa.
Presença feminina na categoria
O levantamento da Subseção do Dieese aponta que em dezembro 2015, dos 2.061.368 postos de trabalho no ramo, menos de um quinto eram de mulheres (387.725), segundo os dados apurados junto à Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) do Ministério do Trabalho (MT). Em percentuais, as metalúrgicas ocupam 18,8% dos empregos no ramo. Em relação a 2006, houve crescimento de 3,3% da presença feminina no ramo.
Desemprego e rotatividade
O estudo revela ainda que o impacto da crise político-econômico é maior entre as trabalhadoras. Do total de desempregados no país em dezembro de 2015, as mulheres representavam 54,1%.
O Dieese avalia também o impacto da rotatividade de mão de obra sobre a remuneração de homens e mulheres na indústria metalúrgica. Prática comum do empresariado para rebaixar salários, em vários segmentos do ramo as mulheres são mais prejudicadas nesta situação. “Em relação aos segmentos, as maiores diferenças entre o salário dos admitidos estão no automotivo e eletroeletrônico: as mulheres entram ganhando em média 18,9% e 18,2%, respectivamente, a menos que os homens, lembrando que elas estão concentradas no segmento eletroeletrônico (32,41% delas estão nesse segmento)”, diz o estudo.
Nas demissões, o levantamento comprova a diferença salarial: “No caso, observa-se que mesmo tendo igual tempo de ‘casa’, as mulheres saem com salários inferiores ao dos homens. Ou seja, isso mostra que elas não conseguem atingir o mesmo salário que os homens, com o mesmo tempo de serviço. A diferença existe para qualquer faixa, chegando a 24,2% para trabalhadores e trabalhadoras com 3 a 5 anos de tempo de serviço”.
Subsídios
Para a secretária de Mulheres da Confederação, o estudo da Subseção do Dieese é um importante instrumento para a ação sindical da categoria metalúrgica. “Ele traz parâmetros concretos para nossa luta contra a desigualdade salarial e por oportunidades no mercado de trabalho. Traz também subsídios para a nossa luta contra a reforma da Previdência e por políticas públicas que de fato contribuam e estimulem a equidade de gênero no Brasil”, conclui Marli Melo.
O estudo completo “A Inserção das Mulheres no Ramo Metalúrgico: uma década de avanços, desigualdades e lutas” pode ser acessado aqui.