A Central Única dos Trabalhadores de São Paulo, a Frente Nacional pelo Saneamento Ambiental e outras dezenas de entidades assinaram um manifesto em solidariedade à relatora da Organização das Nações Unidas (ONU) para o Direito à Água e ao Saneamento, Catarina de Albuquerque, que foi pressionada pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB) a “corrigir” declarações a respeito da inoperância do governo paulista em relação à grave crise de abastecimento de água que assola o estado mais rico do país.
Numa mesa redonda, realizada em 27 de agosto na Assembleia Legislativa de São Paulo, a relatora criticou a falta de investimentos que resultou no desabastecimento da população e, à época, afirmou: “Quando temos uma porcentagem de lucros da Sabesp sendo distribuída a acionistas em Nova York e em São Paulo, significa que os recursos que deveriam ser investidos no sistema para fazer obras e expandir o acesso à água estão fugindo para outras mãos”.
Em ofício enviado em setembro ao secretário Geral da ONU, Ban Ki-moon, Alckmin rebateu as críticas da relatora em tom ameaçador, dizendo que Catarina confundiu as responsabilidades entre os entres da federação e que as declarações foram feitas poucas semanas antes das eleições. Além disso, o governador novamente transferiu para São Pedro a culpa do problema, alegando se tratar de uma realidade do país e não só estadual, o que estaria, inclusive, prejudicando o abastecimento nacional de energia.
Alckmin cobrou retratação e afirmou que, caso não seja feita a correção das declarações, será “obrigado a acreditar que a relatora encarna integralmente a posição das Nações Unidas sobre o assunto” sob o risco de “estar incerto” quanto à capacidade da ONU em abrigar a Cúpula do Clima e ser “liderança em assunto de importância vital e global”.
O documento não foi o primeiro a ameaçar a relatora da ONU – no final de agosto, a Casa Civil estadual já havia encaminhado um ofício ao Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos, alertando sobre as “declarações irresponsáveis” e “inverídicas” feitas por Catarina.
No manifesto, as organizações lamentam que Alckmin busque inquirir e condenar aqueles que denunciam o desabastecimento em vez de solucionar a crise da água. Afirmam, ainda, que essas situações de cerceamento também são violação de direitos humanos, tal qual a privação de água pela população