O fim do desconto de 40% na alíquota de importação de autopeças, proposto pelo governo, é bem recebido pelas fabricantes de peças, porém não agrada às fabricantes de veículos, maiores importadoras destes componentes. De acordo com o Sindipeças a medida beneficiará em especial as empresas tiers 2 e 3, que perdem competitividade no mercado por conta dos altos preços dos insumos nacionais.
Para a entidade este desconto é uma distorção que provoca a retração do consumo interno de autopeças e, por consequência, a redução do número de empregos e de investimentos: “É mais barato importar do que desenvolver novas tecnologias”.
A Anfavea não se manifesta sobre o assunto, mas é certo o desequilíbrio na balança comercial. No início a importação era realizada pelo setor secundário mas passou a ser adotada em larga escala pelo primário, as fabricantes de veículos. Em 2008, por exemplo, as importações de autopeças somaram US$ 12,6 bilhões, cabendo às fabricantes de veículos 68% e às sistemistas 19% do total. O restante foi realizado por tradings ou terceiros independentes.
De opinião divergente Luiz Carlos Mello, ex-presidente da divisão Ford da Autolatina e diretor do CEA, Centro de Estudos Automotivos, não acha negativo as montadoras terem ocupado este espaço: “Vivemos num livre mercado”.
Segundo ele as empresas de autopeças investem pouco em desenvolvimento e, por conseguinte perdem vendas: “Para sobreviver é necessário caminhar lado a lado com as fabricantes de veículos”.
Roberto Alves, consultor do setor, pondera que a mudança será benéfica no médio e longo prazos e “exigirá investimentos em tecnologias e em capacidade produtiva”. Segundo ele as importações definidas por questões de tecnologia sofrerão encarecimento pela impossibilidade de o mercado local atender na qualidade e no volume necessários.
Ele pondera que caso o dólar estivesse em torno dos R$ 2,40 a redução de 40% se justificaria, mas não a R$ 1,70. Dentre os setores que acredita sejam beneficiados estão estampados, fundidos e forjados. Wílson de Francisco Júnior, diretor comercial da Lepe e coordenador da comissão de comercialização da Abifa, Associação Brasileira de Fundição, concorda com as demais empresas de autopeças: a redução na alíquota e o câmbio trazem problemas de competitividade para o setor e para o governo, por conta da balança comercial. Segundo ele a Anfavea pleiteava junto ao governo a ampliação do desconto para 80%, que não foi aprovada.
Outra questão importante para que a indústria nacional torne-se mais competitiva é a desoneração tributária. Francisco Júnior acredita que o País precisa produzir e exportar mais e investir em infraestrutura para prosseguir crescendo de maneira sustentável. Ele acredita que o governo eliminará o desconto para fortalecer a balança comercial.
O mesmo não pensa Mello: “Essa medida afetaria o consumidor final”. A General Motors e a MAN Latin America são algumas das fabricantes de veículos que terão que arcar com aumento de custos ou repassá-los ao preço do produto caso o governo decida eliminar o desconto. As empresas mantêm acordo para a montagem de seus motores importados com a MWM International, para a qual a questão não provocará alterações, pois seu contrato é de montagem, cabendo às suas clientes a importação das unidades.