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Faltam seringas e fitas nas UBSs de Sorocaba para os diabéticos

As Unidades Básicas de Saúde (UBSs) enfrentam a falta de seringas e tiras reagentes para pacientes com diabetes e há relatos até de falhas na distribuição de insulina de forma gratuita

Jornal Cruzeiro do Sul
Aldo V. Silva

Pacientes da Vila Jardini sofrem com falhas na distribuição

As Unidades Básicas de Saúde (UBSs) enfrentam a falta de seringas e tiras reagentes para pacientes com diabetes e há relatos até de falhas na distribuição de insulina de forma gratuita. Pessoas atendidas em pelo menos três unidades dizem que o material está em falta e não recebem justificativas convincentes da Secretaria da Saúde de Sorocaba (SES), nem mesmo informações de quando o fornecimento será normalizado. A secretaria, por sua vez, não admite o desabastecimento, mas sim um racionamento por conta da redução de gastos. Diz ela que existem 7.950 pacientes diabéticos formalmente cadastrados na rede municipal e que cada um deles recebe mensalmente 60 seringas e 50 fitas reagentes para a medição da glicemia. Pacientes rebatem e relatam os gastos que estão tendo com a compra desses insumos.

Segundo alguns pacientes, as falhas na distribuição teriam se acentuado há mais de um mês, mas há relatos de que a falta de seringas e das fitas acontece já há quatro meses. É o que informou na semana passada uma senhora de 77 anos, cadastrada na UBS da Vila Haro, que desde março passou a medir a glicemia na farmácia. A idosa afirma que faz essa medição três vezes por semana, ao custo de R$ 2,50 cada, e que desde julho também compra as seringas, no valor de R$ 3.

O problema se agrava quando o paciente precisa fazer a medição da glicemia várias vezes ao dia. É o caso de um aposentado de 67 anos, cadastrado na UBS do Jardim Maria do Carmo, que repete o procedimento três vezes por dia, utilizando assim 90 tiras reagentes em um mês. Segundo contou à reportagem, ele tinha uma reserva de tiras até o início da semana passada. No entanto, os atendentes da unidade não tinham qualquer previsão para chegada do material e também não teriam explicado o porquê da falha.

A mesma situação afeta há pouco mais de um mês pacientes com diabetes que são atendidos na UBS da Vila Jardini. A dona de casa Maria de Lourdes Saraiva Trombelli, 61 anos, conta que ela e pelo menos outros dois vizinhos enfrentam o mesmo problema. Maria de Lourdes afirma que desde que iniciou o tratamento na UBS do bairro, há cerca de três anos, sempre pegou gratuitamente no local a insulina e os insumos necessários para fazer as aplicações em casa. Mas neste ano a situação mudou.

“Primeiro houve redução no número de seringas distribuídas para os pacientes. E há pouco mais de um mês não estão dando mais nada, ou seja, estamos tendo que comprar as seringas, a fita para medir a glicemia, e em alguns casos até a insulina”, diz Maria de Lourdes. A dona de casa alega ainda que na UBS foi informada de que não há previsão para a chegada dos materiais. “Perguntei mas não explicaram o motivo da falta dos materiais. Creio que a Prefeitura mandou cortar por falta de verba, mas tem gente que não pode comprar.”

SES trata falhas como pontuais

A Secretaria de Saúde de Sorocaba (SES) afirmou, em nota, que a falta desses insumos e medicamentos ocorre eventualmente e pontualmente em uma ou outra unidade. E que nesses casos, conforme determina o protocolo, a pessoa cadastrada deve perguntar em qual unidade poderá encontrar o que precisa e assim efetuar a retirada.

A SES também alegou que “os insumos de diabetes, asma e hipertensão também podem ser normalmente retirados em qualquer farmácia popular da cidade, sem qualquer custo ao munícipe”.

Mas a reportagem constatou, via telefone, que os atendentes — das UBSs com problemas relatados por pacientes — falam outra coisa. Informaram que as retiradas têm de ser feitas nas próprias unidades em que as pessoas são cadastradas e que as farmácias populares serviriam apenas para a distribuição de medicamentos.

Gasto com insumos também é problema

As falhas na distribuição gratuita de insumos para o controle do diabetes trazem gastos extras para os pacientes e, em alguns casos, podem provocar a interrupção no tratamento por falta de recursos.

Um paciente como o aposentado do Jardim Maria do Carmo, entrevistado pelo Cruzeiro do Sul, precisa desembolsar pelo menos R$ 214 para manter o controle da doença, uma vez que as tiras reagentes da marca Accu-Chek custam R$ 62, em uma caixa com 10 unidades, e R$ 107, na embalagem com 50. De uma outra marca de aparelho (One Touch), a caixa com 50 custa R$ 80. O aposentado faz 90 medições no mês.

De acordo com a farmacêutica Alcione de Fátima Navarro Vieira Tamashiro, apesar de haver vários modelos de aparelho para medição, as fitas não são padronizadas. Ela acrescentou que normalmente nas unidades públicas as tiras distribuídas são da marca Accu-Chek, obrigando o paciente a ter o aparelho correspondente. Com isso, a pessoa fica impedida de optar por marcas mais em conta.

A dona de casa Maria de Lourdes Saraiva Trombelli também tem despesas com a compra dos produtos. “No meu caso, eu faço a aplicação da insulina com a seringa duas vezes por dia. E cada pacote com 10 unidades custa R$ 30, e dá somente para cinco dias.”

De acordo com a paciente, ela só não precisou comprar a insulina, pois ainda conseguiu pegar um frasco no posto de saúde. “Eu até posso comprar o material se for preciso, mas nem todo mundo tem condições. Tem gente que está reutilizando as seringas porque não pode arcar com os custos do material, e para quem tem diabetes o risco de contrair uma infecção nesse caso é grande”, comenta.

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