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Economia

Falta de política estratégica amplia desemprego na indústria paulista

Em 2016, indústria de transformação perdeu mais de 116 mil postos de trabalho

CUT São Paulo
Dorival Elze
A atividade ocorreu no centro da capital paulista e contou com a participação dos ramos químico, metalúrgico, da alimentação, da construção e madeira e do vestuário e calçados.

A atividade ocorreu no centro da capital paulista e contou com a participação dos ramos químico, metalúrgico, da alimentação, da construção e madeira e do vestuário e calçados.

Mesmo sendo referência econômica no Brasil, o estado de São Paulo deixou há tempos de ser a locomotiva do País. E o cenário se agrava devido às políticas equivocadas adotadas por governos estaduais desde 1983, principalmente quando o tema é indústria, que provoca recordes de desemprego no setor e o fechamento de importantes empresas.

Essa foi a avaliação dos dirigentes sindicais no Encontro do Macrossetor organizado pela CUT São Paulo na última terça-feira (6). A atividade ocorreu no centro da capital paulista e contou com a participação dos ramos químico, metalúrgico, da alimentação, da construção e madeira e do vestuário e calçados.

Em 1985, São Paulo representava 47,8% do mercado de trabalho da indústria de transformação do Brasil e hoje representa 33,3%, segundo dados de abril de 2017 do Ministério do Trabalho e Emprego.

“Isso demonstra a ausência de uma política efetiva na área”, afirma o secretário-geral da CUT-SP, João Cayres, que coordenou o encontro.

“É preciso construir uma política industrial para o estado de São Paulo. Indústria forte significa economia forte e países de economia forte têm sindicatos fortes. Mas sabemos que o governo tucano não tem preocupação nenhuma com a construção de uma efetiva política industrial, mesmo que os dados atuais sejam péssimos neste setor. Sem falar que a classe de endinheirados paulista também representa um atraso”, avalia.

Para o economista do Dieese, Leandro Horie, o governo de São Paulo deveria ter uma política industrial com foco na complementaridade e não na competição. “Só que isso não existe porque as políticas regionais foram colocadas de lado, sem falar que o governo vem sucateando seus órgãos de pesquisa”, complementa.

Arquivo/Agência Brasil
Em 12 anos, São Paulo perdeu 6,4 pontos percentuais no PIB industrial nacional.

Em 12 anos, São Paulo perdeu 6,4 pontos percentuais no PIB industrial nacional.

Indústria paulista empobrece

A indústria de transformação paulista, em 2016, perdeu mais de 116 mil postos de trabalho. Entre janeiro e abril deste ano houve uma relativa melhora, com a criação de 28 mil postos, o que, contudo, não resultou numa recuperação para o setor. No acumulado dos últimos 12 meses (maio de 2016 a abril de 2017), foram fechadas mais de 74 mil vagas na indústria de transformação paulista.

São Paulo representa 29,9% do PIB (Produto Interno Bruto) industrial nacional e 38,6% da indústria de transformação. Em 12 anos, São Paulo perdeu 6,4 pontos percentuais no PIB industrial nacional e 4,8 na indústria de transformação, mostram dados de 2014 das Contas Regionais, divulgadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

“Quando a indústria perde a participação no PIB significa que ela perdeu importância na economia brasileira e que a participação da indústria na riqueza produzida pelo país é menor”, explica a economista do Dieese, Rosângela Vieira.

A economista avalia que isso se deve pelo fato de a economia ser mais diversificada, com um setor de serviços mais dinâmico e especializado, mas, também, se deve ao processo de desnacionalização da produção. “O câmbio tem favorecido a importação de produtos que anteriormente eram produzidos no país. Além disso, a alta taxa de juros desestimula o investimento que tende ampliar a produtividade, competitividade e inovação da indústria”, diz.

Além da ausência de uma política industrial estadual, as mudanças que a indústria vem passando neste momento de crise, desde que o golpista Michel Temer assumiu a Presidência, demostram que não há política industrial nacional efetiva.

“A queda na taxa de juros foi bastante tímida, o câmbio não estimula as exportações, o que poderia ser uma alternativa para um mercado interno desaquecido. Além disso, há um ataque aos bancos públicos, que inclui o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), grande indutor do crescimento brasileiro”, completa Rosângela.

Com as transformações econômicas, o presidente da CUT-SP, Douglas Izzo, aponta o desemprego como uma das principais preocupações. “Vimos experiências parecidas em regiões da Itália e, levando em consideração outras vivências, sabemos que essas mudanças compõem um fenômeno mundial, mas, a ausência de uma política no setor paulista só agrava o fechamento de postos de trabalho e de empresas”, afirma.

Demissões na metalurgia

Para o presidente da Federação dos Sindicatos de Metalúrgicos (FEM), Luiz Carlos da Silva Dias, o Luizão, a crise política aumenta ainda mais o sofrimento dos trabalhadores.

“O processo de desindustrialização visto aqui em São Paulo é também reflexo da ausência de políticas em âmbito federal e estadual. Se continuar dessa maneira, os empregos que estão sendo perdidos dificilmente serão retomados”, ressalta.

O número de metalúrgicos em 1995 no Brasil era de 1.377.777. Desse total, apenas o Sudeste representava 76,2% (destes, São Paulo representava 56,9%). O número de trabalhadores neste setor cresceu no último período no Brasil, mas diminuiu em algumas regiões. Hoje, o Sudeste representa 60,7% e o estado de São Paulo, que representava 56,9%, agora representa 42,4%.

“Além de o ramo apresentar muitas demissões diante da crise econômica que o país está inserido, ainda percebemos a ausência de uma política industrial voltada para o estado de São Paulo. Podemos perceber isso recentemente porque só no estado de São Paulo, de janeiro 2016 a abril de 2017, houve fechamento de 70 mil postos de trabalho”, afirma a economista do Dieese, Caroline Gonçalves.

Alimentação em evidência

No Brasil, a alimentação concentra quase 10% dos ocupados no segmento industrial no Brasil e 2% do total de ocupados no país, em um total de quase 1,8 milhões de ocupados, segundo levantamento da subseção do Dieese da CUT Brasil. No estado de São Paulo, a base é de 399 mil trabalhadores.

Na avaliação do secretário de Política Sindical da Confederação Brasileira Democrática dos Trabalhadores nas Indústrias da Alimentação da CUT (Contac), Nelson Morelli, o ramo da alimentação, diferente de outros setores, não enfrentava problema até os recentes escândalos.

“Era um ramo que estava contratando e produzindo, mas sabemos que a Operação Carne Fraca e, mais recentemente, o escândalo da família Friboi, o caso da JBS, refletiram no setor. Não houve mudança drástica ainda, mas mantemos a nossa preocupação futura com a indústria e o desemprego”, diz.

Para Morelli, o desafio hoje é dialogar com os mercados europeus sobre a qualidade dos produtos brasileiros para que o país não perca mercado e não afete o mercado de trabalho, mas, paralelo, denunciar que no Brasil há uma política perversa contra os trabalhadores da alimentação.

Nesse sentido, a Confederação irá elaborar um documento relatando as práticas e ações das empresas contrárias aos trabalhadores do setor, como retirada de direitos e judicialização das campanhas salariais. Depois, prevê o lançamento conjunto de uma campanha internacional de denúncia às empresas que exploram os trabalhadores.

Indústria química

“A indústria química passa igualmente por transformações”, diz o coordenador político da Federação dos Trabalhadores do Ramo Químico da CUT do Estado de São Paulo (Fetquim), Airton Cano.

“Nos preocupamos com o êxodo e a migração da indústria química. Nosso desafio é também sensibilizar vários setores no debate sobre a indústria e de maneira unificada no estado para discutirmos o aprofundamento da terceirização, da precarização e do home office (serviço remoto) porque, afinal, é o trabalhador quem está pagando o alto preço da crise e das reformas que querem aprovar no Congresso”, disse o dirigente.

Dados da subseção do Dieese, na Fetquim, mostram que, ao analisar os números absolutos, em 2006 o ramo químico no estado de São Paulo contava com 283.977 trabalhadores e, em 2015, com 309.136 trabalhadores, o que representa um crescimento de 8,8% no período.

Contudo, observa-se queda no percurso ascendente a partir de 2013. Entre 2013 e 2015, o estoque de emprego caiu em mais de 25 mil postos de trabalho e a queda para 2016 está projetada em aproximadamente 4,5 mil empregos. O movimento de fechamento de postos de trabalho está diretamente ligado à queda da produção industrial que, por sua vez, tem reflexo na crise econômica que o país tem enfrentado em tempos de crise.

Vestir e calçar

No 1º trimestre de 2017, o ramo do vestuário concentrava 2,9% do total de ocupados no país, com 2,5 milhões de trabalhadores. No estado de São Paulo, são 540,8 mil ocupados, com 44% de formalizados, segundo Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua).

“Nosso setor vem sofrendo ao longo dos anos por uma série de fatores. Temos também a guerra fiscal que promove o deslocamento das grandes empresas do estado de São Paulo para outros estados do país”, diz o presidente José Carlos Guedes, da Federação dos Trabalhadores e Coureiros e Vestuaristas do Brasil (Fetracovest).

Segundo Guedes, no setor de calçados paulista, em 1992, a base era de 23 mil trabalhadores, hoje caiu para 3.500 trabalhadores. “Foi uma redução drástica e só não foi pior porque unificamos com outras entidades do ramo”, aponta.

Presidenta da Confederação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Ramo Vestuário da CUT, Francisca Trajano lembrou que o macrossetor fez vários debates e sentou para negociar até mesmo com os governos de Dilma Rousseff e de Lula, mas depois veio o golpe.

“Fizeram com o que a nossa pauta caísse, mas continuamos o debate. Sabemos que o estado de São Paulo tem sua importância, mas a descentralização mudou a conjuntura e a mudança de estado não foi acompanhada com a mesma estrutura que havia, com a mesma qualidade de emprego e o mesmo salário. As fábricas se deslocaram para outros estados e as condições pioraram para a classe trabalhadora”, falou.

Guedes lembrou ainda que empresas como a Alpargatas, de calçados e artigos esportivos, localizada em Mogi Mirim, no interior paulista, mudou-se para a Paraíba, fechando todos os postos de trabalho. Igualmente a empresa Penalty transferiu a fábrica para a Bahia.

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