A ex-prefeita de Araçoiaba da Serra, Mara Melo vai assumir como gerente da Ceagesp (Companhia de Entrepostos de Armazéns Gerais do Estado de São Paulo). O anúncio foi feito durante plenária do PT realizada na noite de sexta-feira, 3, na sede do SMetal (Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba e região).
Para o presidente do SMetal, Leandro Soares, o anúncio é bastante positivo. “Conhecemos o histórico de trabalho e luta de Mara no combate à fome e em prol da agricultura, especialmente a familiar. Temos confiança na sua capacidade e estaremos juntos para desenvolver importantes ações para Sorocaba e região”.
Em entrevista ao Portal Porque, Mara falou sobre os planos no comando da instituição. Entre as prioridades estarão a atenção aos permissionários (que comercializam seus produtos na Companhia), o combate à fome, a segurança alimentar, o Banco de Alimentos, o combate ao desperdício (inclusive contribuindo para a produção de ração animal), a agricultura familiar e as parcerias.
Mara comemora o fato de, ao contrário do que aconteceu no governo Bolsonaro, quando a Ceagesp ficou atrelada ao Ministério da Economia e estava direcionada para a privatização, a instituição voltou a estar ligada a uma pasta que trata da terra, da agricultura e dos produtores de alimentos, por meio do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar.
A ex-prefeita disse que ficou sabendo da indicação na própria sexta à noite, quando recebeu uma ligação do presidente da Ceagesp, Jamil Yatim, que foi anunciado em 28 de fevereiro. Esta semana, Mara deve providenciar toda a documentação necessária para que seu cargo seja oficializado em publicação no Diário Oficial o mais breve possível.
Demandas e diálogo
“Sei que a pavimentação da Ceagesp é uma das demandas dos permissionários. Meu antecessor no cargo na época dos primeiros governos de Lula, o metalúrgico Carlos Roberto de Gáspari [morto pela covid-19 em 2020] trabalhou nisso, inclusive buscando parceria junto à Prefeitura de Sorocaba, visto que também se trata de uma demanda local. Vou retomar esse empenho e também vou propor parcerias para atender essa necessidade”, afirma a futura gerente.
Ela diz que “a gente vem muito nesse diapasão também [do diálogo], no sentido de ouvir as pessoas, de entender a máquina [a estrutura da Ceagesp e seus limites] e, no que for possível, a gente inovar, a gente colocar para andar, a gente vai fazê-lo. Talvez abrir novas frentes, abrir novas formas de trabalhar, abrir novas licitações, dialogar com novos serviços, dinamizar aquele espaço, pois tem muito espaço para ser ocupado [no terreno na Ceagesp]. Ele tem hoje metade ocupado e metade desocupado. Ou seja, dá para expandir, dá para dialogar com a realidade local. Tudo é uma questão de entender os limites”.
Quanto ao BAS (Banco de Alimentos de Sorocaba), que funciona dentro da Ceagesp, Mara disse que o próprio presidente da Companhia comentou por telefone que tem um carinho especial por aquele trabalho.
Além de dar apoio para que o BAS continue atendendo às famílias em situação de vulnerabilidade, a Ceagesp deve ajudar o Banco a implementar uma forma de também atender aos animais.
“Talvez utilizar sobra de alimentos para alimentação em zoológico, com fruta legumes e verduras; tem possibilidade de fazer ração vegetal; talvez fazer parceria com uma grande fábrica de ração que tem em Salto de Pirapora; dialogar com quem atua nessa área”, prevê.
Parcerias com universidades
A futura gerente também pretende dialogar bastante com as instituições acadêmicas. “Não só aquelas que tratam da agricultura, mas também outras tecnologias. Você precisa hoje rastrear os alimentos. Então dá para dialogar com ciência e tecnologia, trabalhar com estágios e projetos com universidades que focam na agricultura familiar, saber com se trabalha com uma logística melhor, oferecer cursos para os permissionários, para os agricultores”.
Sobre os pequenos agricultores e sua relação com o combate à fome, Mara comenta que “a gente entende que grande parte dos alimentos da agricultura familiar chega à mesa do povo brasileiro. Se você pegar a grande demanda do agronegócio hoje é a soja, é o eucalipto. Essas produções em alta escala são destinadas à exportação. Então, você observa que a agricultura familiar tradicional, a agroecológica e a produção dos assentamentos elas são as que de fato chegam ao consumidor nacional”. Por isso, para ela, foi estratégico por parte do governo Lula ter relacionado a Ceagesp com a pasta do ministro Paulo Teixeira [Desenvolvimento Agrário].
Mara acredita que essa decisão leva a crer que o desenvolvimento agrário vai voltar a apoiar as cooperativas e movimentos sociais da área, retomando políticas públicas marcantes das gestões anteriores de Lula, como o PAA (Programa de Aquisição de Alimentos).
Por esse programa, os órgãos públicos compravam alimentos da agricultura familiar, sem atravessador, e os destinam às pessoas em situação de insegurança alimentar e nutricional e à rede gratuita de ensino.
A ex-prefeita também prevê que o governo reimplante o Pnae (Programa Nacional de Alimentação Escolar), que determinava que, no mínimo, 30% da alimentação escolar no município deveria ser composta pela produção agrícola da própria cidade ou de cidades vizinhas.
Combate à fome
“Esses programas foram concebidos no âmbito do Consea [Conselho Nacional de Segurança Alimentar], cerca de 20 anos atrás; Consea que agora volta com força total, incentivado pelo próprio presidente Lula e sua prioridade no combate à fome e na alimentação segura e saudável para toda a população”, anima-se Mara.
Sobre o Banco de Alimentos, que atendeu e atende milhares de famílias ao longo dos anos (foi fundado em dezembro de 2005), nasceu de um projeto do SMetal e é mantido por ele, Mara afirma que além de apoio, a instituição vai ter paz para trabalhar, “sem ser ameaçada de despejo por ser uma proposta petista e ser acusada de comunista como aconteceu no governo federal anterior”.
“Quanto à empresa Ceagesp, vamos ouvir todo mundo, independente de partido. Vamos dialogar com permissionários, ouvir suas queixas, suas propostas, suas críticas. Vamos conversar com prefeitos, conhecer mais a produção da nossa região, vamos parcerias e vamos estabelecer regras universalizadas, que valham para todo mundo; com ética, transparência e equilíbrio”, finaliza.
Quem é Mara Melo
Nascida em Fartura, em 3 de junho de 1973, Mara Lucia Ferreira de Melo é filha de pequenos agricultores. Ainda criança, a família se mudou para Itaguaí, também para trabalhar na roça. Com sete anos, Mara veio na carroceria de um caminhão para a Vila Hortência em Sorocaba. Depois, a família foi cuidar de um sítio em Araçoiaba da Serra, onde ela diz que resgataram a dignidade e a conseguiram superar a fome e a miséria.
“Trabalhei na roça, arranquei feijão, apanhei algodão, quebrei milho, colhi café, rocei, tirei leite. Conheço um pouco da realidade do pequeno agricultor”, afirmou Mara ao Porque.
Ela se formou em sociologia pela AEI, em Itapetininga; e se especializou em Escola da Família Agrícola pela UFES.
Ela também morou em Ibiúna, onde estruturou a Escola Família agrícola local e também o projeto de agricultura familiar orgânica, que hoje é um grande polo de produção agrícola orgânica.
Foi assessora do deputado estadual Hamilton Pereira (PT) e tem muitos anos também de atuação no ramo imobiliário. Mara fez carreira política em Araçoiaba da Serra, cidade em que foi prefeita de 2013 a 2016, eleita pelo PT com 6.356 votos (39,85%).