Até 2017, acidentes ocorridos no trajeto entre a casa e o emprego eram considerados acidentes de trabalho, o que garantia direitos como estabilidade no emprego por um período após a recuperação, auxílio-doença pago pelo INSS, entre outros benefícios trabalhistas e previdenciários.
Com as mudanças introduzidas pela reforma trabalhista, os acidentes de trajeto deixaram de ser automaticamente reconhecidos como acidentes de trabalho, dificultando o acesso à respaldo e auxílio.
Foi o que aconteceu com LL*, 48, que sofreu um acidente de trajeto em 2022. Para além da dor da fratura no pé, a trabalhadora também teve danos emocionais. “Fui afetada tanto fisicamente, como psicologicamente, porque evito até sair de casa devido ao modo de andar que hoje, inclusive, afeta minha coluna também”, relata.
Após a empresa ter se recusado a abrir a Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT), LL* não conseguiu dar entrada no INSS para receber qualquer auxílio após o acidente. O caso é acompanhado de perto pelo Sindicato.
De acordo com um levantamento feito com base nas CATs registradas pelo departamento de saúde do SMetal, ao longo de 2023 foram abertos um total de 334 comunicações na base do SMetal.
Dedos e mãos
O ano era 2006 e, durante seu trabalho em uma empresa de baterias, o metalúrgico JC*, 44, teve o dedo esmagado por um cilindro, amputando a ponta do dedo e estourando os ligamentos do tendão. Mesmo ocorrido há mais de dez anos, o local da amputação de JC* (dedos e mãos) ainda é uma das regiões do corpo mais afetadas pelos acidentes de trabalho entre os metalúrgicos, correspondendo, em 2023, por 21,26% do total de casos.
JC* ficou permanentemente afetado pelo acidente. Ele relata que tem sequelas e não consegue movimentar o dedo em forma de “pinça”, além de ter pouca força na mão em virtude das mais de dez cirurgias de reparação a que foi submetido.
Na visão do metalúrgico, a prevenção é a chave. “Os operadores deveriam ter uma voz mais ativa, pois quem trabalha na linha de frente sabe o que precisa ser feito para que as máquinas sejam melhor revisadas nas preventivas”, destaca.
Para Valdeci Henrique da Silva (Verdinho), vice-presidente do SMetal e secretário de Saúde do trabalhador da Central Única dos Trabalhadores (CUT-SP), os maquinários, em muitas empresas, precisam ser revistos. “Precisamos constantemente revisar os maquinários nas fábricas. A NR12 é crucial para assegurar que as máquinas e equipamentos sejam seguros, prevenindo acidentes e promovendo um ambiente de trabalho saudável”, reforça.
Dados
Dos 334 CATs abertos na base do SMetal em 2023, 12,28% dos casos foram acidentes ocorridos no trajeto; 48,20%, foram acidentes típicos, 39,52% foram enquadrados como doença ocupacional. (veja ilustração acima)
No primeiro semestre de 2024, houve uma redução de 16% no número de CATs abertos em comparação com o segundo semestre de 2023, mas um aumento de 34 casos ou 25,37% em comparação com o primeiro semestre de 2023.
Denuncie
Saúde e segurança são itens básicos para que você, trabalhador, possa exercer suas funções no ambiente de trabalho. Denuncie condições adversas e inseguras ao SMetal. Sua vida é muito valiosa para ignorar condições arriscadas. Além disso, caso a empresa se recuse a abrir a CAT, procure imediatamente o Sindicato! WhatsApp: (15) 99714-9534
*A reportagem decidiu preservar a identidade dos trabalhadores