Cerca de 160 pessoas participaram das exibições de peça teatral inspirada em álbum do consagrado grupo de rap, Racionais MC’s, na manhã e tarde do último sábado, 29. Após a apresentação, o grupo teatral ‘Companhia Itage’ realizou debate com a plateia.
Pela manhã, participaram da peça os estudantes do Instituto Federal de São Paulo (IFSP), matriculados no Ensino Médio Integrado e em cursos técnicos junto com o ensino básico. Já na parte da tarde, o público contou com participantes do cursinho pré-vestibular da instituição. Além da exibição, o SMetal forneceu o transporte e a alimentação para os estudantes.
O secretário de administração e finanças do Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba e Região (SMetal), Tiago Almeida do Nascimento, explica que a iniciativa é parte do compromisso da direção do Sindicato com o fomento à cultura.
“Temos um histórico em investir na cultura de Sorocaba e região desde os anos 1990, quando o espaço cultural dos metalúrgicos era coordenado pela lenda Carlos Mantovani. Mais recentemente, organizamos uma feira literária, shows para a categoria no Clube, além do Cine SMetal, que semanalmente exibe filmes nacionais”, ressalta o diretor.
O diretor geral do IFSP, Denilson de Camargo Mirim, destaca que o SMetal e o IFSP já possuem parceria de longa data, inclusive, realizando um curso de pós-graduação na sede do Sindicato. “Para nós é muito importante essa parceria com o sindicato, onde há uma visão progressista da educação”, afirma.
Tiago destaca que a entidade deve realizar mais eventos como este para que, futuramente, se desenvolva uma política permanente de apresentações teatrais na entidade.
Bruna Costa, atriz da companhia, afirma que se sentiu valorizada enquanto artista ao se apresentar no auditório do SMetal. “A gente se sentiu muito incluído nesse projeto do Sindicato de levar a arte e a cultura de maneira acessível para a população no geral”, disse.
Sobrevivendo no inferno
A peça ‘Somos racionais’ retrata a violência carcerária, direcionada especialmente à jovens negros das periferias e traz à tona o racismo ainda atual na sociedade brasileira. Considerado um dos principais álbuns brasileiros, em 2018, ele foi transformado em livro.
O objetivo da leitura teatral do álbum é promover a conscientização por meio da arte educacional e teatral.
A professora do IFSP, Ticiane Rafaela Moreno, conta que o principal objetivo da instituição era levar os alunos para um espaço cultural. Para ela, assistir a peça sensibilizou os estudantes. “A obra tem importância singular, pois é reconhecida hoje como patrimônio intelectual, valorizando a linguagem e a vivência das periferias, denunciando inúmeras violências, tornando-se discurso de força, esperança e resistência para sujeitos marginalizados”, comenta.
Para a estudante Ysabelli Camile Gomes, a peça transmitiu a mensagem de a força das músicas do grupo de rap e agradeceu pela performance artística. “Os atores conseguiram transmitir a intensidade e a autenticidade das letras e da história dos Racionais”, diz a aluna.
“O livro, além de ser uma espécie de raio-x da vivência nas favelas e outras comunidades no Brasil, é também um manifesto pela resistência dos favelados. Os atores da peça cumpriram o objetivo de proporcionar uma experiência mais imersiva sobre os ideais e ideias do álbum, dando cor e rosto aos personagens invisíveis perante a sociedade”, afirma o coordenador do cursinho pré-vestibular, Ewerthon da Silva Silvestre.
Companhia Itage
A ‘Companhia Itage’, fundada em Campinas no ano de 2019, possui integrantes de Sorocaba, é formado majoritariamente por jovens e tem como principal inspiração o Teatro Experimental do Negro, companhia teatral fundada por Abdias do Nascimento, em 1944 no Rio de Janeiro.
Para a companhia, o teatro é uma potência artística educacional, que trabalha campos necessários para o desenvolvimento na interpretação e leitura, assim como memorização, e olhar crítico. O grupo acredita que o conhecimento pode e deve utilizar-se da arte e cultura para sua manifestação dentro do teatro, como uma possibilidade de conscientização e despertar social.
“Através da interpretação teatral das músicas, viemos das margens pela arte, para organizar denúncia popular e produzir representatividade, evidenciando pessoas negras, suas vivências e o lugar social que o negro ocupa no Brasil”, afirma o grupo.
O grupo é composto por Bruna Costa, Alexandre Garcia, Thiago de Lima, Jhonny Lima, Antônio Carlos, Manuela Fontana, Daniel Miranda (direção) e WM (produção musical/sonoplastia).