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Política

Em São Paulo, Aécio tenta emplacar discurso sobre desemprego, mas é ignorado

Tucano aproveitou para mandar recados à candidata derrotada Marina Silva (PSB), garantindo que o programa de governo do PSDB está aberto a 'novas contribuições'

Rede Brasil Atual
Ricardo Matsukawa/Folhapress

Operários mantiveram distância do palanque tucano durante discurso sobre desemprego e crise econômica

São Paulo – “Vamos aplaudir o nosso futuro presidente… Aécio Neves.” O apelo, retomado algumas vezes, só teve resposta das 40 pessoas ligadas ao PSDB e ao partido Solidariedade (SDD), legenda liderada pelo deputado federal Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força, que apoia os tucanos nestas eleições. Os trabalhadores da construção civil da capital paulista, observando de longe o pronunciamento do candidato à Presidência da República, deram pouca atenção ao discurso sobre baixo crescimento econômico, inflação alta e desemprego crescente. “Essa conversa não empolga ninguém”, opinou o pedreiro Sérgio Medeiros.

Aécio escolheu bem o lugar. A avenida Chucri Zaidan, no bairro do Brooklin, zona sul de São Paulo, é uma das regiões mais requintadas da capital paulista. No entanto, o tucano não foi tão feliz na escolha do grupo de trabalhadores a quem, como ele mesmo disse, fez questão de agradecer pela “votação extraordinária que teve”.

A atividade começou com uma caminhada nas ruas do entorno e passou pelo canteiro de obras. Com exceção do grupo de correligionários que portava bandeiras, camisas e adesivos, não havia animação.

O próprio candidato não falou muito. Apenas cumprimentava as pessoas com acenos e apertos de mão. Na entrada do canteiro, quase toda a mídia foi barrada. A exceção foi uma repórter do jornal Folha de S. Paulo, que teve livre acesso entre os assessores. Somente após 15 minutos, os demais jornalistas puderam entrar. Aécio atravessou o canteiro de obras rapidamente. E encontrou poucos trabalhadores no caminho.

Depois, o tucano fez um discurso curto, apenas cinco minutos. Somado às falas de apoiadores, o comício não durou 20. Aécio relacionou a presidenta e candidata à reeleição pelo PT, Dilma Rousseff, com a corrupção. Também falou em “recessão”, a “inflação fora de controle” e “a perda de credibilidade do Brasil” como riscos aos ganhos dos trabalhadores. “Se nós não vencermos essas eleições, infelizmente, serão quatro anos ainda piores do que estes últimos quatro que nós tivemos”, destacou.

Antes dele, o senador eleito por São Paulo, José Serra (PSDB), buscou explicar para os trabalhadores que o país vai entrar em uma crise. “Salário não melhora se a economia estagna. Para melhorar, tem de crescer a economia. Com a Dilma, não vai crescer.”

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O governador reeleito de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), associou um possível governo do PSDB ao período desenvolvimentista de Juscelino Kubitschek na presidência (1956-1961), que prometeu fazer o país avançar “50 anos em cinco”. “O Aécio vai ser o Juscelino do nosso tempo”, afirmou, ignorando o fato de que, ao final da gestão de Kubitschek, a dívida externa do país havia dobrado e a taxa de inflação alcançou níveis elevados. Situação bem oposta ao que prometem os tucanos.

Os trabalhadores, contudo, não pareciam assustados. Se colocaram distantes do caminhão de som decorado com bandeiras de Aécio, sem nenhuma reação de aprovação ou desaprovação coletiva ao candidato. No local, cerca de mil operários trabalham na construção de um conjunto de prédios, que abrigará unidades habitacionais, comerciais e um shopping center, mas menos de 100 foram ouvir o tucano.

“Não vejo esse problema todo aí não. A gente sai de um emprego, logo arruma outro. O que tem é rotatividade mesmo”, disse o auxiliar de hidráulica Daniel José de Lima, que declarou voto em Dilma.

Já o eletricista Luis Alberto Cruz declarou voto em Aécio porque acredita que é o momento de haver mudanças no governo federal. “Já votei duas vezes no PT. Quero mudar um pouco”, disse. Porém, ele também avaliou que o discurso do tucano não se sustenta. “Hoje em dia, não conheço ninguém que passe muito tempo desempregado, não.”

A única reação evidente entre os operários foi a do estômago. “Bem na hora do almoço. Daqui a pouco tenho de voltar pra obra”, protestou Ernesto da Silva, que dava mais atenção ao celular do que ao prenúncio de crise que saía estridente das caixas de som.

Operários não apoiam

Manifestações de apoio só vieram dos trabalhadores dos escritórios localizados no entorno dos prédios em construção. Alguns acenaram. Uma dezena de pessoas desceu para fazer selfies com o tucano, declarar voto e ganhar adesivos, mas, quando o mestre de cerimônia chamou os peões para fazer uma foto com Aécio, o silêncio foi constrangedor.

A agenda de Aécio com trabalhadores da construtora Odebrecht foi organizada pelo deputado estadual paulista Antonio de Sousa Ramalho, o Ramalho da Construção (PSDB), presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Civil de São Paulo (Sintracon). Também estavam presentes o suplente do senador Serra, José Aníbal, e o deputado estadual Fernando Capez (PSDB). Já Paulinho foi lembrado por Aécio, por sua “fidelidade”. “Vocês não me abandonaram hora nenhuma, nem na alta, nem na baixa.”

Recado

Já na entrevista coletiva, o tucano mandou recado para Marina Silva, que pretende declarar apoio a Aécio no segundo turno, desde que ele incorpore algumas propostas da campanha dela. “Um programa de governo é uma obra que não termina nunca. É uma construção permanente”, enfatizou o candidato do PSDB.

O tucano disse ainda que defende há muitos anos o fim da reeleição e desconversou sobre o fato de o partido ser o criador da medida. “Foi uma experiência”, ponderou. Questionado se abriria mão da reeleição, no entanto, ele declarou que isso precisa ser discutido no Congresso Nacional, pois não envolve somente o mandato do presidente da República, mas também de governadores e prefeitos.

Ainda falando para Marina, Aécio destacou que quer “avançar cada vez mais no campo da sustentabilidade” e da melhoria da educação com ensino integral, pautas caras para a candidata derrotada. “A minha candidatura não é mais de um partido político ou coligação. Ela representa o sentimento amplo de mudança que hoje permeia a sociedade brasileira. Estou pronto para liderar um projeto em favor do Brasil e de uma nova política”, concluiu.

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