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Em menos de 15 dias, Sorocaba registra três mortes por acidente de trabalho

O acidente mais recente foi no setor de construção civil; os anteriores foram no comércio e na prestação de serviços

Paulo Andrade (Portal Porque)
Divulgação/GRTE

A morte no trabalho mais recente de Sorocaba aconteceu em uma obra entre a Vila Santana e a Vila Gabriel.

Desde o início de julho, Sorocaba registrou três mortes por acidente de trabalho. No dia 4, um montador de estruturas metálicas morreu após sofrer descarga elétrica de 10 mil volts. Já na sexta passada, dia 12, um pizzaiolo foi esmagado por um elevador de carga de um restaurante. Nesta quarta-feira (17), um operário não sobreviveu à queda de 20 metros em uma obra. “Notamos a falta de cuidados com a segurança e a vida dos trabalhadores em todos os casos”, afirma o chefe regional de fiscalização do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), Ubiratan Vieira, ao Portal Porque.

Os locais onde aconteceram os acidentes e as empresas – Alumiglass Esquadrias de Alumínio, Pizzaria Manuelitta e RK Construtora – sofreram interdições e embargos pelo MTE, informa Ubiratan, conhecido como Bira. No caso da queda na obra, o auditor fiscal comenta que a vítima “nem luvas tinha. Ele se machucou todo, tentando segurar em alguma coisa enquanto despencava com um guindaste”. No ano, as ocorrências fatais na região já somam 32.

A vítima da queda de aproximadamente 20 metros em Sorocaba foi José Antônio dos Santos, 56 anos. Ele trabalhava em uma obra na rua Gonçalves Dias, entre as vilas Santana e Gabriel. O trabalhador era funcionário da RK Construtora. A empresa afirmou à fiscalização e à imprensa que José usava todos os equipamentos de segurança.

Mas o Ministério do Trabalho afirma ter notado falta de dispositivos de segurança e de engenheiro responsável no empreendimento. A obra foi paralisada até que a notificação de segurança do engenheiro e auditor fiscal João Lúcio Spindola Sanches seja atendida.

Cinco dias antes, o pizzaiolo Lucas Gabriel Silva de Campos, 25 anos de idade, sofreu lesões múltiplas ao ser atingido por um elevador de mercadorias no local em que trabalhava, a pizzaria Manuelitta, no bairro Júlio Mesquita Filho. O MTE interditou o elevador até que medidas de segurança sejam tomadas.

Após o acidente, na sexta passada, a pizzaria disse, em nota à imprensa, que as causas estão sendo apuradas e que ela colabora com os órgãos oficiais que investigam o ocorrido.

No acidente do dia 4, o montador de estruturas metálicas Pedro Antônio de Oliveira, de 25 anos, foi exposto à corrente elétrica de um transformador enquanto atendia a um cliente da Alumiglass Esquadrias de Alumínio. Ele havia sido admitido pela empresa no dia 6 de junho. O local do óbito foi na rua Recife, Jardim Paulistano.

A reportagem tentou contato com a Alumiglass, mas telefone, site e redes sociais da empresa não estavam acessíveis. O Portal Porque segue aberto para contato.

Mortes na região

Sobre as 32 mortes por acidente de trabalho na região em pouco mais de seis meses, Bira ressalta que 18 deles eram jovens, em torno de 25 anos. Dos 18 óbitos de jovens, 12 ocorreram em Sorocaba.

“Hoje (18), em Buri, aconteceu a terceira morte na mesma empresa em dois anos, funcionários do Grupo Resinas Brasil”, lamenta. O Porque tentou contato coma empresa, mas não obteve resposta até a publicação desta matéria. O espaço está aberto a manifestações do Grupo Resinas.

O chefe de fiscalização afirma que o problema da falta de segurança no trabalho não se restringe à região de Sorocaba. “Tivemos acidentes com morte em quase todos os estados do país e em pelo menos quatro regiões do estado de São Paulo”.

Ubiratan afirma o alto número de acidentes ainda é consequência “do desmonte do governo federal passado na área de Segurança e Medicina do Trabalho”. Além disso, segundo ele, devido a forma como o assunto era tratado poucos anos atrás, “muitos empresários seguidores do governo passado custam a crer que estão sendo autuados”.

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