O movimento sindical precisa se aproximar dos jovens e os sindicatos devem participar do Sistema S de ensino [SESI, SENAI] colocando na grade curricular dessas unidades aulas de Direito Sindical e Direito do Trabalhador.
A afirmação é do diretor técnico do Dieese, Clemente Gans Lúcio, que defende, ainda, uma participação ampla da classe trabalhadora na vida política para que a riqueza gerada pelo crescimento do Brasil nos próximos 20 anos não se acumule apenas nas mãos dos empresários, transformando o País na 5ª economia do mundo, mas com muita desigualdade social.
Clemente fez as afirmações durante palestra que ministrou na sede do Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba, na manhã desta terça-feira, dia 14. A palestra fez parte do evento dos 20 anos de criação da Federação Estadual dos Metalúrgicos (FEM/CUT), cujas comemorações aconteceram ao longo de toda a terça, em Sorocaba.
Para Clemente, o Sistema S de Ensino é mantido com dinheiro do trabalhador, mas sem que os trabalhadores participem da formação dos alunos. Ele defende a implantação das disciplinas Direito Sindical e Direitos do Trabalhador como forma de preparar a classe trabalhadora, não só para o mercado, mas também para atuar na sociedade, como agente de transformação da democracia.
O pesquisador também alertou os sindicalistas, base da plateia de sua palestra, sobre a necessidade dos sindicatos se aproximarem dos jovens. “Precisamos aprender a dialogar com eles, até porque daqui uns 20, 30 anos muitos de nós não estaremos mais por aqui”, frisou.
Escolha de rumo
Clemente ainda fez uma análise de conjuntura dos anos 90 e da primeira década deste século para mostrar que uma mudança de postura da sociedade e dos seus governantes pode mudar o rumo da história.
Nos anos 90, o modelo político neoliberal pregava que o salário mínino não poderia subir; que as leis trabalhistas deveriam ser flexibilizadas; que o estado deveria ser mínino, deixando os investimentos à iniciativa privada e que, para se enfrentar uma crise era preciso cortes no orçamento.
A partir de 2004, com a chegada da classe trabalhadora ao governo, representada pelo presidente Lula, esses conceitos foram contrariados, o que garantiu o crescimento e solidez ao Brasil.
Para Clemente, o política de valorização do salário mínimo, a transferência de renda [bolsa-família], a liberação do crédito e a condição do estado como indutor de investimentos foram as coordenadas que mudaram o cenário econômico brasileiro.
O pesquisador ainda provocou a plateia ao questioná-la qual seria o cenário econômico que os trabalhadores desejariam viver daqui 20 anos, em 2032. Para ele, o cenário pode ser construído pelos trabalhadores, mas desde que haja envolvimento, participação da classe na construção de propostas e pressão sobre os governos.
“Nem o Lula conseguiu aprovar a lei de valorização do salário mínino; só agora foi aprovada. Por isso não podemos parar. Temos que manter a governabilidade do nosso projeto, seja com qual governo for”, diz Clemente.
Para ele, os trabalhadores avançaram bastante nos últimos dez anos e o Brasil conseguiu superar uma crise mundial em seis meses, crise que assola a Europa há 4 anos. Mas alertou para a falta de participação da classe operária em diversos outros momentos.
“Os jovens [do Sistema S] estão sendo formados pelos empresários; perdemos a batalha do artigo 152 da OIT (Organização Internacional do Trabalho) e agora [em maio] teremos a primeira conferência nacional sobre trabalho decente e, pelo Estado de São Paulo, já perdemos”, disse, referindo-se a falta de propostas dos trabalhadores na conferência estadual, base da discussão em nível nacional.