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Dia do Orgulho LGBTQIA+: mercado de trabalho é excludente no país

Pesquisa aponta que 54% não fala sobre orientação sexual ou identidade de gênero no ambiente profissional. Gisele da da Graça, 52 anos, é metalúrgica em Sorocaba e contou sua experiência na indústria

Arquivo pessoal
Gisele da Graça e sua esposa

Gisele da Graça e sua esposa

“Já sofri preconceito lá no comecinho, não dos meus líderes e coordenadores, mas de pessoas que trabalhavam comigo. Mas você, bem de mansinho, vai tirando de letra. Eu tenho respeito e quero que me respeitem”, conta Gisele da Graça, de 52 anos, auxiliar de produção na metalurgia, em Sorocaba.

Ela é parte da comunidade que celebra hoje, 28 de junho, o Dia Internacional do Orgulho LGBTQUIA+. A origem da data é marcada por diversos movimentos que aconteceram no ano de 1969, nos Estados Unidos, impulsionados pela Rebelião de Stonewall, um bar conhecido como ponto de encontro dos LGBT+ em Manhattan, invadido pela polícia de Nova York de forma violenta.

Mas apesar da comunidade ter se fortalecido e alguns direitos terem sido conquistados desde então, a sociedade tem avançado a passos lentos sobre o tema. No mercado de trabalho a situação é ainda pior. De acordo com uma pesquisa realizada pela consultoria Mais Diversidade, no Brasil, 54% dos entrevistados disse que não sente segurança para falar abertamente sobre a própria orientação sexual ou identidade de gênero no ambiente profissional.

Gisele conta que levou um tempo para se assumir para a família e também no trabalho. “Quando eu comecei a trabalhar nessa empresa, eu já sabia que era lésbica, mas eu ainda não era assumida. Uns dois anos depois que eu estava na empresa, que eu fui me assumindo aos poucos para as pessoas. Não tive muitos problemas, preconceito, foi um processo legal. As pessoas perguntavam se era algum trauma, se era por causa do meu marido. Não era isso. Eu me assumi porque eu não estava satisfeita, resolvi ser feliz. Aí eu contava a história, contava como foi, alguns entendiam, outros eram muito curiosos, questionavam e eu explicava”.

A mesma pesquisa da Mais Diversidade mostra que 74% dos entrevistados sentem falta de um ambiente de trabalho mais inclusivo, enquanto para 54% é preciso mais referências de pessoas LGBTQIA+ no mercado profissional.

“Por mais que as pessoas falem que não têm preconceito, mas eu acho que numa vaga, se tiver uma pessoa hetero e uma que não seja, com certeza a hetero vai conseguir e você não. É mais difícil ainda se você tem um estereótipo diferente. Por exemplo, eu sou lésbica e feminina, você não sabe se eu sou ou não. Mas uma pessoa mais masculina, ela poderia ter um problema sim. Chega lá para fazer uma entrevista, a pessoa já te olha com outros olhos. Tem esse preconceito sim, porque eu conheço amigas que já passaram por esse tipo de preconceito”, conta Gisele.

Para a auxiliar de produção, as pessoas LGBTQIA+ têm que se unir mais e exigir que sua opinião seja ouvida e valorizada. Ela conta que na empresa onde trabalha há muitas contratações e inclusive algumas iniciativas de inclusão, mas que seria ainda melhor se a própria comunidade que trabalha lá dentro fosse também usada como exemplo nessas iniciativas.

Outra pesquisa, essa realizada pelo Center for Talent Innovation, mostrou que, no Brasil, 33% das empresas existentes não contratariam pessoas LGBTQIA+ para cargos de chefia e que 41% dos funcionários dessa comunidade já sofreram algum tipo de discriminação sobre sua orientação sexual ou identidade de gênero no ambiente de trabalho.

Ame Digital/Divulgação
Faltam oportunidades para a comunidade LGBTQIA+ no mercado de trabalho

Faltam oportunidades para a comunidade LGBTQIA+ no mercado de trabalho

Para construir essa reportagem, a equipe de imprensa do SMetal tentou encontrar fontes que estivessem trabalhando em cargos de chefia nas metalúrgicas em Sorocaba ou até mesmo em outros setores, mas não conseguimos. A maioria das pessoas com quem falamos não eram assumidas na empresa ou preferiam manter a discrição. Essa situação escancara o preconceito que essas pessoas ainda têm que enfrentar.

Gisele da Graça, que representou sua comunidade nesta reportagem, deixou um recado para as empresas. “Nos contratem, temos muito o que contribuir, somos pessoas comuns, que têm muita capacidade como qualquer outra, às vezes até mais que quem está lá. Tem que dar a chance sim, é a capacidade da pessoa que está em jogo e não a sexualidade”, finaliza.

População que mais morre no Brasil

O Brasil ainda é o país que mais mata a comunidade LGBTQIA+ no mundo. Pelo menos 316 pessoas tiveram morte violenta em 2021, 285 foram homicídios e 26 suicídios. O número representa a morte de um LGBTI+ a cada de 27 horas no país. O balanço foi divulgado Observatório de Mortes e Violências LGBTI+ no Brasil, coordenado pela Acontece – Arte e Política LGBTI+ e pelo Grupo Gay da Bahia (GGB).

As mortes aumentaram em 33,33% se comparado a 2020, mas a pesquisa ressalta ainda que os números são subnotificados no país, e esse aumento pode ser ainda maior, já que não existem dados governamentais sobre o assunto. Os dados são coletados por meio de reportagens publicadas pela mídia brasileira.

Entre as mortes 112 são de pessoas pretas e pardas e 127 de pessoas brancas. 96 vítimas tinham entre 20 a 29 anos. Outro número que chama atenção é o de suicídios: 10 travestis e mulheres trans e 8 gays cometeram suicídio. A região do país com mais mortes é o Nordeste, com 116, seguido pelo Sudeste, com 103.

“Juntos, homicídios e latrocínios representaram 90,19% das mortes violentas. Todas essas violências contra LGBTI+ foram perpetradas em diferentes ambientes – doméstico, via pública, cárcere, local de trabalho etc”, diz a pesquisa.

Confira o dossiê completo aqui

Vale lembrar, que desde 2019, quando foi julgada no STF, a homofobia configura crime, tal como o racismo. A pena pode variar entre 1 a 5 anos, dependendo do ato homofóbico, além de multa.

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