Depois de mais de dois meses, os golpistas alojados irregularmente em Santa Rosália, onde fecharam uma avenida com a condescendência das autoridades para pedir um golpe militar, começaram, enfim, na tarde desta segunda-feira, 09, a desmontar o acampamento antidemocrático situado em frente à Base do Exército. Segundo foi informado no local, o desmonte do acampamento terá todo o apoio necessário da Prefeitura Municipal de Sorocaba — que cedeu veículos para a retirada das estruturas utilizadas para a ação ilegal — além de proteção das forças de segurança (veja vídeo abaixo).
Na conversa com os golpistas, o major, subcomandante da Base de Apoio do Exército, explicou aos golpistas (chamados de senhores e cidadãos “de bem”) estar apenas cumprindo ordens dos superiores. Por isso, precisava que desmobilizassem o acampamento, e informou que já havia acionado a secretaria de Segurança Urbana para cuidar da logística com vistas à retirada das barracas. A fala do major deixa claro que haveria cessão de caminhões por parte do poder público, para levar os materiais a qualquer lugar que precisassem ser levados.
Como o PORQUE apurou, os cones que cerceavam o direito dos sorocabanos de transitar nas vias próximas ao quartel eram de propriedade da Urbes – Trânsito e Transportes, ou seja, o apoio aos atos antidemocráticos pelo governo do prefeito Rodrigo Manga (Republicanos) ocorre desde o início, nos primeiros dias de novembro, logo após o resultado das eleições gerais de 2022.
Em vídeo enviado com exclusividade ao PORQUE, no momento em que o major conversa com os golpistas — já adiantando que não é para eles ficarem “assustados” –, a orientação do Exército é para falar “pacificamente com os senhores”, para que cumpram a determinação de desocupar o local, podendo acarretar, posteriormente, em uso da força. “A Prefeitura irá apoiar, junto com a PM”, afirmou.
Questionado pelos bolsonaristas se poderiam permanecer, mesmo sem as barracas, sob a justificativa de que cercear os atos golpistas deles seria anticonstitucional, o major respondeu: “É direito dos senhores, não vou falar o que é certo ou errado.” O interlocutor do Exército pontuava, reiteradamente, que se tratava de uma manifestação orgânica, pacífica e que ele estava ali cumprindo ordens.
Os golpistas, parecendo desacreditar no que ouviam, insistiam nos questionamentos e pontuavam que o local se manterá como ponto de encontro para planejarem outras formas de agir, dentro do ideal antidemocrático da horda. Em dado momento, uma mulher chegou a questionar o major: “Não ficaremos mais sob a sua proteção?”, e a resposta foi: “Não falei isso.” A partir da resposta do major, a mulher, mais tranquila, falou que o Exército precisa continuar protegendo o grupo, pois estão sendo atacados por pessoas que não são “de bem”. Um policial militar também reiterou que continuarão fazendo ronda naquele local, mas o major deixou claro que a ordem é não ter manifestações em frente aos quartéis.
“Então o Alexandre de Moraes agora manda no Brasil?” e “as Forças Armadas estão contra nós, contra o povo!” foram algumas das reações dos golpistas, claramente decepcionados com o fato das Forças Armadas, tão clamadas por eles, agora, têm, judicialmente, uma democracia para defender.
Sem pressa
Após a conversa com o major do Exército, os golpistas demonstravam calma e nenhuma pressa para recolher materiais como barracas e cartazes pedindo intervenção militar.
A invasão dos bolsonaristas que resultou em depredação do patrimônio público, em Brasília, teve como consequência a ordem de desocupação de todos os acampamentos no país em até 24h pelo Supremo Tribunal Federal (STF), com apoio das forças policiais.
Por volta das 15h30, integrantes da GCM e da Polícia Militar observavam o movimento, do outro lado do acampamento, em clima amistoso. Interpelados pela imprensa, disseram que a ordem do ministro Alexandre de Moraes seria respeitada e o acampamento ilegal, provavelmente, desmontado, mas pelos próprios ocupantes que, vagarosamente e parecendo ainda incrédulos pelo abandono, iam, aos poucos, devolvendo a ordem ao local. Antes, a passagem de helicópteros da PM sobrevoando o acampamento despertou a atenção dos golpistas. Em conversa entre eles, ouvida pela reportagem por proximidade, duas pessoas reclamavam que, agora, eles é que eram os “bandidos”, tendo que ser retirados pelas forças policiais.
De acordo com o secretário de Segurança Urbana de Sorocaba, Alexandre Caixeiro, tanto GCM quando Polícia Militar estavam, apenas, dando apoio à ação, que seguia pacificamente. Ele ainda disse que, do mesmo modo que os materiais dos golpistas haviam chegado em Santa Rosália, precisavam voltar. No entanto, em nenhum momento falou que o município financiaria o desmonte da ação ilegal. Ainda segundo ele, estavam “dando a oportunidade” para que os bolsonaristas concluíssem a retirada que acreditava ocorrer ainda nesta segunda-feira.
A orientação de Caixeiro à reportagem era para que procurasse o major do Exército, cujo nome não foi identificado, para mais informações. Ao procurar a pessoa indicada, enquanto aguardava o atendimento, o próprio Caixeiro, acompanhado de policiais militares, adentrou a Base do Exército e, logo em seguida, a resposta enviada foi a de que o major não poderia receber a imprensa, pois estaria em reunião.
O PORQUE segue com espaço aberto para manifestações do Exército e das pessoas citadas na matéria. Caso haja resposta, esse texto será atualizado.