Segundo a pesquisa “Gênero é o que importa: determinantes do trabalho doméstico não remunerado no Brasil”, desenvolvida pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), as mulheres continuam a dedicar, em média, 10,4 horas a mais por semana do que os homens às tarefas domésticas e ao cuidado de pessoas.
A pesquisa reforça os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2019, que demonstram que as mulheres dedicavam, em média, o dobro do tempo semanal com os afazeres domésticos do que os homens.
A dirigente do Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba e Região (SMetal) Nazaré Inocência da Silva, do Comitê Sindical da Flex, afirma que esses dados reforçam, mais uma vez, que a sociedade é extremamente desigual para as mulheres. “A estrutura da nossa sociedade, infelizmente, é muito injusta”, ressalta.
Agravantes
Os dados do IPEA demonstram que a sobrecarga é maior quando há presença de filhos pequenos ou idosos acima de 80 anos na configuração familiar que, nesse caso, impactam apenas as horas de trabalho das mulheres.
Na medida em que os filhos crescem, as horas de trabalho doméstico reduzem, porém, o estudo demonstra que apenas as meninas entre 15 e 18 anos contribuem para diminuir as responsabilidades das mães.
“Mesmo quando as mulheres respondem pela maior parte da renda dos casais, elas continuam sendo responsáveis pela maior quantidade de trabalho doméstico, comportando-se de forma ‘tradicional’ no espaço doméstico como uma maneira de neutralizar os ‘desvios’ no mercado de trabalho (no qual ganham mais que seus companheiros). A educação é um equalizador das relações de gênero, mas seu efeito é também determinado por papéis de gênero e raça”, ressalta a pesquisa.
Direitos das metalúrgicas
Nazaré destaca que é necessário que as tarefas domésticas sejam divididas igualmente entre todos, “afinal, é algo básico para a nossa sobrevivência. E nós, enquanto sociedade civil organizada, seguiremos mobilizadas por igualdade no mercado de trabalho e, para isso, medidas individuais não são suficientes”.
Na Campanha Salarial 2023 dos metalúrgicos e metalúrgicas, a Federação Estadual dos Metalúrgicos, ligada à Central Única dos Trabalhadores, (FEM-CUT/SP) reivindica em sua pauta, entre outras questões, a manutenção e ampliação das cláusulas sociais das Convenções Coletivas de Trabalho (CCTs).
Uma delas é o avanço do auxílio-creche que, segundo Nazaré, além de contribuir para que mais mulheres possam trabalhar fora de casa, reduz a jornada de trabalho não remunerada do trabalho doméstico, que inclui o cuidado com os filhos.
*Com informações da CUT