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Saúde

Dengue: o que pode ser feito para a epidemia não voltar

Os descuidos do governo de Sorocaba em relação à coleta de lixo e ao atendimento à saúde são apontados como determinantes para a instalação da epidemia. Detectadas as prováveis causas, a pergunta é: as providências necessárias serão tomadas?

Imprensa SMetal/Paulo Andrade e Gabrielli Duarte
Arte: Cássio Freire/Imprensa SMetal
Distribuição dos casos por município

Distribuição dos casos por município

Quando resolveu, em 2013, tratar a questão do lixo na base do improviso e partidarizar os problemas da saúde, o prefeito de Sorocaba, Antônio Carlos Pannunzio, talvez não imaginasse que, dois anos depois, o despreparo da administração municipal fosse revelado por um mosquito, o Aedes aegypti, transmissor da dengue.

Por mais que o prefeito e seu secretariado tentem transferir a responsabilidade a terceiros, como o governo federal, o clima e a própria população, os números mostram que Sorocaba detém o infeliz título de maior número de casos de dengue por habitante em qualquer comparação, seja com o país, com o estado de São Paulo ou entre as 26 cidades da região metropolitana.

A crise na saúde estava instalada em Sorocaba há meses quando, no início deste ano, surgiu a epidemia de dengue, que, até maio, já havia incapacitado temporariamente mais de 52 mil sorocabanos e matado pelo menos 31.

Quando a dengue chegou, também fazia mais de um ano que as falhas na coleta e destinação do lixo na cidade haviam se tornado endêmicas. Sem contar a resistência do prefeito e do seu antecessor, Vitor Lippi, ambos do PSDB, em implantar uma política local de resíduos sólidos para coleta e destinação de recicláveis.

A ausência de mais rigor na exigência de limpeza dos terrenos particulares, o abandono de terrenos públicos, a negligência na fiscalização de focos do mosquito em fábricas e escolas, a falta de opções ao cidadão para destinação de entulhos, a retirada dos contêineres das ruas e o déficit de pessoal no setor de zoonoses foram algumas das críticas ao governo apontadas por parlamentares, munícipes e funcionários da prefeitura.

De acordo com as críticas publicadas em vários veículos, além da falta de medidas preventivas e de controle da epidemia, o governo municipal falhou no atendimento aos doentes, devido ao quadro insuficiente de profissionais na saúde, a inexistência do prometido hospital municipal e a demora na instalação de centros de monitoramento da dengue.

Automedicação

“O número real de casos da dengue em Sorocaba provavelmente é muito superior ao registrado oficialmente. Diante de uma fila de espera por atendimento de mais de seis horas nas unidades de saúde, muitos cidadãos passaram a se automedicar. Esses casos não entram no balanço oficial”, explica o vereador Izídio de Brito Correia, presidente da comissão de saúde da Câmara.

Certamente os maus hábitos de parte da população contribuíram para potencializar a epidemia. A limpeza regular de terrenos particulares por seus proprietários, a consciência de não jogar entulhos em terrenos desocupados e a preocupação de evitar criadouros do mosquito em casa são algumas atitudes que podem evitar a proliferação do Aedes. “Mas os cuidados dos munícipes, sozinhos, não evitariam a epidemia”, acredita o parlamentar.

Durante a epidemia, a administração municipal gastou tempo e energia tentando responsabilizar o governo federal, de Dilma Rousseff, do PT, pelo problema de saúde local. Alegou falta de recursos, argumentou que a dengue era um surto nacional e reclamou de falhas no sistema de comunicação com o ministério da saúde.

O prefeito e seus secretários, no entanto, pouparam cobranças públicas ao governo do estado, administrado por Geraldo Alckmin, do PSDB.

Os números, porém, comprovam que São Paulo foi o campeão de dengue no Brasil. Sorocaba, por sua vez, foi um dos municípios com mais casos da doença por habitante no estado onde o mosquito transmissor mais fez vítimas este ano.

Também entre os 26 municípios que integram a Região Metropolitana de Sorocaba (RMS), a cidade sede foi onde, proporcionalmente, a doença mais causou estragos.

Maior média do país

De janeiro a maio Sorocaba teve um caso de dengue para cada 12,1 habitantes, segundo cálculo a partir de dados da secretaria municipal de saúde. No Estado, essa relação foi de um caso a cada 88,8 paulistas. No Brasil, considerando os 26 estados e o distrito federal, a média foi de um caso de dengue a cada 198,5 habitantes no mesmo período. Os números estaduais e nacionais são divulgados pelo Ministério da Saúde.

No quesito óbito, os resultados de Sorocaba e do estado também foram trágicos. Até o final de maio Sorocaba tinha registrado 31 mortes por dengue hemorrágica e outras 13 estavam sendo investigadas. No estado, foram 256 mortes pela doença desde janeiro. No Brasil, 378.

O número de mortes confirmadas em Sorocaba representava, até o final de maio, 12% dos óbitos do estado. São Paulo, o estado mais rico do Brasil, era sozinho o responsável por 67,7% do total de óbitos por dengue no país.

Na RMS, criada há um ano, Sorocaba foi a líder absoluta de casos de dengue por habitante (veja quadro).

“Feitas as contas e recolhidos os cacos, fica a pergunta mais importante para a população: a prefeitura de Sorocaba vai continuar batendo panela contra o governo federal ou vai, finalmente, tomar as providências necessárias para que o caos e a tragédia na saúde não mais se repitam?”, questiona Izídio.

Problemas detectados

Contêineres de lixo
Desde novembro de 2013, os sorocabanos não contam mais com contêineres para depositar o lixo doméstico, que muitas vezes fica espalhado pelas ruas em sacos plásticos.

Centro de Monitoramento
Foram instalados dois centros de monitoramento da dengue (CMD) em Sorocaba. O primeiro foi aberto dia
6 de março, quando já haviam cinco mortes e 8.693 casos confirmados.

Limpeza dos terrenos
A roçagem de terrenos baldios só passou a ser fiscalizada a partir de 13 de maio quando foi reduzido
de 15 dias para 48h o prazo para que proprietários
façam a limpeza em situações de emergência municipal.

Destinação de entulhos
Sorocaba não tem política efetiva para o descarte
de materiais inertes. A população tem que pagar caçamba particular para se desfazer de inservíveis
ou entulho.

Fábricas e escolas
Segundo depoimento de um representante dos agentes sanitários à CPI da Dengue, não houve nebulização e fiscalização em escolas e fábricas, locais onde são encontrados muitos focos do mosquito transmissor.

Demora no atendimento
O tempo de espera dos pacientes na unidades de saúde era de seis horas ou mais. A demora fez com que pacientes com sintomas de dengue deixasse de procurar as unidades e passasse a se automedicar.

Leitos em hospitais
A falta de leitos hospitalares fez com que parlamentares e movimentos sociais relembrassem o não atendimento, por parte da prefeitura, de uma reivindicação antiga da população: a construção de um Hospital Municipal.

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