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Emprego X Precarização

Demitidos da Sorocaba Refrescos esperam pelo julgamento do TRT

Os 217 trabalhadores demitidos da Sorocaba Refrescos (Coca-Cola) continuam aguardando julgamento do TRT da 15ª Região, em Campinas, sobre a reintegração aos postos de trabalho

Simone Sanches e Telma Silvério/Cruzeiro do Sul

Os 217 trabalhadores demitidos da Sorocaba Refrescos continuam aguardando julgamento do TRT da 15ª Região, em Campinas, sobre a reintegração aos postos de trabalho. A decisão ocorreu quando o Tribunal Superior do Trabalho (TST) suspendeu, no último dia 10 de abril, a decisão pela volta ao emprego dos trabalhadores. A empresa impetrou mandado de segurança e o sindicato manifestou junto ao TRT. A entidade que representa a categoria informou que continua mobilizada e no aguardo do desfecho do caso pela Justiça e que medidas já foram encaminhadas para tentar reverter novamente a situação.

Os funcionários deixaram os postos – que não chegaram a assumir – e continuam acampados nas imediações da empresa. Segundo a assessoria de imprensa do sindicato, os trabalhadores e os sindicalistas continuam fazendo uma escala de plantão no acampamento montado em frente à fabricante da coca-cola. O sindicato, por meio da assessoria, informou que está mobilizando a população distribuindo boletins sobre a situação dos trabalhadores.

A maratona dos trabalhadores começou em fevereiro deste ano quando a empresa decidiu terceirizar os serviços de sua central de distribuição para a Master Cargas, operadora de logística baseada em Itu. Com isso, 217 operários foram dispensados. A fábrica alegou que promoveu reestruturação interna com foco no desenvolvimento de produtos e, por essa razão, desligou motoristas e ajudantes.

O desligamento dos funcionários motivou, desde o dia 23 de fevereiro, carreatas e protestos pela cidade. No dia 13 de março, o Fórum Trabalhista de Sorocaba determinou a reintegração ao emprego. Nos dias 23 e 24 de março, em duas audiências de conciliação, o TRT de Campinas decidiu favorável aos trabalhadores e manteve a decisão do Fórum de reintegração dos demitidos. Os funcionários voltaram ao trabalho no dia 24 de março sem terem reassumido funções na empresa, que não disponibilizou os caminhões para o exercício da atividade. A empresa recorreu ao TST de Brasília, que suspendeu a decisão de Sorocaba e Campinas até que seja julgada definitivamente a ação coletiva do sindicato.

Demora na homologação

A demora na homologação com a Sorocaba Refrescos também está gerando uma série de problemas para um grupo de aproximadamente vinte ex-colaboradores – de um total de 217 demitidos – decidido a se desligar definitivamente da empresa. Além da dificuldade de conseguir um novo emprego, o grupo está impedido de sacar o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) e de dar entrada no seguro-desemprego.

Embora continue na luta pelos direitos dos trabalhadores demitidos, o diretor do Sindicato dos Condutores de Sorocaba e Região, Adalberto de Souza Carvalho, afirma que a entidade compreende a situação de todos e se dispôs a agendar as homologações das pessoas que tiverem interesse. Em nota oficial, a Sorocaba Refrescos lembra que existe uma ação coletiva que pleiteia a reintegração dos postos de trabalho, inclusive do grupo que deseja a homologação.

“Não estamos empregados e nem desempregados”, ressalta Jeferson Neves Bueno da Cruz, 32. Motorista na empresa há seis anos, Cruz tinha esperança de ser reintegrado. Dois meses depois da demissão e com as contas chegando decidiu distribuir currículos. “Se mandou embora que homologue de uma vez. Assim acaba tudo e a gente vai atrás de outro emprego”, critica. Na casa do motorista Rubens Antunes de Lima, 40, quem está “dando uma força” é a sua esposa. “A gente não tem de onde tirar dinheiro e tem contas para pagar”, justifica.

O motorista entregador Fernando Souza Dias Bexiga, 36, afirma que desde a demissão recebeu da empresa apenas um vale refeição de R$ 550. “A demissão por uma cartinha foi entregue por um motoboy. E agora querem que a gente escreva uma cartinha pedindo a homologação”, destaca. Casado e pai de dois filhos, ele trabalhava na Sorocaba Refrescos há pouco mais de 13 anos e não imaginava que seria demitido. “Pegou a gente de surpresa, sem conversa nem nada.”

Para a alívio da família, Fernando Bexiga disse ter poupado algum dinheiro para outros projetos. Também está ajudando o pai. Ele confessa que o retorno causa insegurança, pois não poderia fazer financiamentos, exemplifica, então decidiu se desvincular definitivamente da empresa. Cleberson Almeida Porto, 33, se sente aliviado por não pagar aluguel e afirma que o comércio da família tem ajudado. Porto foi um dos ex-funcionários a acampar em frente da empresa. “Além de ser cansativo tem gasto com combustível.”

A maior parte dos ex-colaboradores interessados na homologação, revela Fernando Bexiga, têm entre 30 e 40 anos e são casados. Ivan Carlos Tódero, 33, teme perder o prazo para dar entrada para o seguro-desemprego, pois uma audiência estaria marcada somente para daqui a dois ou três meses. “Parece que estão enrolando. Pedem (empresa) uma carta e o sindicato diz que não precisa.”

Homologação e direitos

O diretor do Sindicato dos Condutores, Adalberto Carvalho, explica que alguns ex-colaboradores de fato “desgostaram” da empresa, e de fato não têm vontade de retornar ao quadro. Ele afirma que o sindicato deixa a decisão para o trabalhador. Em dois meses a situação financeira apertou para muitos que pagam aluguel, têm pensão alimentícia e financiamentos, justifica. O sindicato está aberto para as homologações dos interessados e aguarda o contato da empresa para fazer os agendamentos. Por outro lado, destaca, a luta pelos direitos da categoria continua, inclusive com ex-colaboradores fazendo manifestações de forma pacífica.

A Sorocaba Refrescos, por meio da assessoria de comunicação, lembra da ação coletiva movida pelo sindicato, e esclarece que, neste caso, necessita da autorização expressa do Judiciário para proceder a homologação. Também destaca a busca por uma solução negociada, além de se manter aberta ao diálogo com o sindicato que representa seus ex-colaboradores. A reportagem questionou a empresa a respeito da exigência de uma carta de próprio punho solicitando a homologação, mas até o fechamento não obteve resposta.

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