Os R$ 147 que Ana Maria Gundin recebe do programa Bolsa Família é o único dinheiro que entra em sua casa. Sem condições de trabalhar e com a filha desempregada, o recurso é utilizado para a compra de itens básicos, como pão, leite e carne para o sustento de seus dois netos. “É um dinheiro que ajuda bastante, porque não tenho renda nenhuma. Gasto mais no mercado”, explica. Ana Maria conseguiu o benefício há pouco mais de um ano, após esperar por quatro ou cinco meses para que fosse inserida no programa.
A história dela é parte do cenário do programa do governo federal, Bolsa Família, em Sorocaba. Nos últimos quatro anos, o volume de dinheiro injetado na cidade pelo programa cresceu 15,75%. Eram R$ 12.744.329 em 2010 e subiu para R$ 13.816.990 em 2011. Em 2012, chegou a R$ 14.589.736 e fechou o ano passado com R$ 14.751.768 injetados na economia local. De janeiro a novembro deste ano, no entanto, os benefícios somam R$ 13.046.787. Na média mensal de 2014, o comparativo mostra que houve uma queda de 3,5% em relação a 2013.
O número de famílias beneficiadas em Sorocaba, por outro lado, tem caído anualmente, conforme reportagem do jornal Cruzeiro do Sul, publicada em maio. Em fevereiro de 2010, eram 12.695 famílias atendidas em Sorocaba. Na última folha de pagamento do programa no município, de novembro, foram beneficiadas 9.667 famílias. O resultado representa queda de 23,85% no número de famílias beneficiadas. Os dados são do Ministério do Desenvolvimento Social (MDS).
Fabiana Paulino, 41, foi uma das que perderam o benefício neste ano. Ela foi cortada do Bolsa Família seis meses atrás, depois de conseguir emprego como costureira. “Mas agora fui dispensada, estou desempregada e não estou recebendo”, revela ela, que perdeu o trabalho há três meses. Fabiana recebia R$ 130 por mês pelo Bolsa Família, dinheiro que servia para a compra de comida para os dois filhos. “Eu tenho que comprar os meus remédios também, que são caros.”
Assim como ela, Solange Fernandes, mãe de cinco filhos, também está sem receber o Bolsa Família. “Bloquearam faz um ano já e eu sempre venho e prometem que vai voltar, mas nada até agora”, conta. Diante da falta de recursos, ela não sabe como vai sustentar os cinco filhos sem o benefício. “Eu preciso cuidar deles, não dá para trabalhar.”
Estado e País
No Estado de São Paulo, os recursos disponibilizados pelo Bolsa Família cresceram 83,8% de 2010 a 2013, percentual bem maior que o registrado em todo o país, de 27,5%. Eram destinadas às famílias beneficiadas R$ 1.144.528.689 em 2010. No ano passado, o volume em dinheiro passou a R$ 2.103.544.648.
Nesse mesmo período, em todo o país, o volume financeiro desembolsado pelo governo federal com o Bolsa Família cresceu 27,5%, atingindo a soma de R$ 296.511.342.410,53. Na comparação entre o ano passado e 2012, quando esses benefícios atingiram o valor de R$ 299.878.708.104,98, houve queda de 1,12% nesse total.
Economia melhor
A variação do tamanho das famílias beneficiadas e a maior oferta de empregos em Sorocaba são os motivos que explicam o aumento no valor financeiro e queda no número de beneficiados pelo programa Bolsa Família, avaliam economistas. Delegado do Conselho Regional de Economia (Corecon), Sidney Oliveira ressalta que, como o benefício é pago de acordo com o número de filhos, o valor do recurso varia. “Uma família que tem dois filhos, recebe um valor diferente de outra com três.”
Já o número menor de famílias beneficiadas é reflexo do aumento do desenvolvimento de Sorocaba nos últimos anos, de acordo com o economista Flávio Fávero, professor da Universidade de Sorocaba (Uniso). A maior oferta de emprego e renda verificada na cidade incide na saída dessas pessoas do programa. “O Bolsa Família, quando você tem receita melhor, deixa de ter acesso a esses recursos e isso reflete a qualidade de vida da região”, avalia.
Por outro lado, aquelas famílias que recebem o benefício acabam por também aquecer a economia local. “A família vai consumir e isso vai virar tributo e acaba aquecendo um pouco a região onde normalmente a pessoa vive”, observa o delegado do Corecon. E o benefício se dá, conclui Fávero, porque as famílias acabam consumindo nos pequenos e médios estabelecimentos de bairro. “E acaba injetando esse recurso em toda a economia.”