Em 1982, na cidade de São Paulo, nascia Leandro Soares, o mais velho dos três filhos do seu Guilhermino dos Santos Soares e da dona Hilda Cândido Soares. Lá na capital, ele passou a infância até que, em 1994, a família decidiu se mudar para Sorocaba.
O pai era metalúrgico na Dana e havia sido transferido para o interior ainda em 1989. Por anos, foi possível conciliar o trabalho aqui e a família lá. Leandro tinha 12 anos quando a família se instalou definitivamente em Sorocaba no bairro Jardim São Judas Tadeu. O jovem foi matriculado na escola estadual Ezequiel Machado Nascimento, no Jardim Santa Rosália.
Dono de um visual chamativo para padrões sorocabano, foi apelidado de “baiano”, um apelido preconceituoso e estereotipado. Entre os estudos e a adaptação da vida no interior, Leandro mantinha o grande sonho: ser jogador de futebol.
A vida nos gramados
Em Sorocaba, Leandro foi atrás do grande objetivo no esporte. O baiano virou Baía quando começou a atuar no gol do time da Faculdade de Engenharia de Sorocaba (Facens).
Lá, em 1998, chamou atenção do Figueirense Futebol Clube. Em mais ou menos uma semana, o jovem deixou tudo em Sorocaba – família, amigos e namorada – e partiu sozinho para Santa Catarina. Em 2002, o ano que precisava ser profissionalizado, Leandro foi para o Caxias, em Joinville.
Mas 2002 também seria o ano que a vida lhe daria outros rumos. Uma infecção de amígdala mal diagnosticada evoluiu para um quadro mais grave, indo pela corrente sanguínea e se alojando no quadril. Isso levou a um quadro de septicemia, que resultou num coma natural e induzido de 24 dias.
Leandro lembra que chegou ser considerado como morto. Ele sobreviveu, mas o sonho de ser jogador de futebol profissional, infelizmente, não. A doença resultou numa artrose no quadril, sendo responsável pela diminuição de uma das pernas, impossibilitando a atuação como atleta.
O encontro com a militância
Findado o sonho no futebol, aos 20 anos, Leandro voltava para Sorocaba. E pouco depois, ainda no processo de recuperação, mais um golpe da vida: dona Hilda viria a falecer, em 2003. O casamento viria em 2006, com a Angela Clavijo Del Grossi, mesmo ano que nasceria a filha Ingrid.
Em 2004, precisando tocar a vida, Leandro foi beneficiado com o sistema de Cotas Para Deficientes (PCD), sancionado pelo presidente Lula, e ingressou na empresa ZF do Brasil Planta 2.
A militância começou quando ele entrou, em 2007, para a CIPA. E uma situação complicada o levou para militância no SMetal. Sem conhecimento da ação do sindicato, foi induzido pela a empresa a interferir nas negociações do PPR. Leandro conta que os representantes sindicais chamaram sua atenção, mas também o convidaram para participar da entidade.
Inicialmente, ele atuaria na questão de Cotas para Deficientes, mas, em pouco tempo, assumiu a coordenação da Juventude Metalúrgica, contribuindo para expansão do setor. Assim, Leandro foi para Confederação Nacional dos Metalúrgicos (CNM/CUT).
Ele também foi responsável por ajudar a construir a Secretaria de Juventude da Central Única dos Trabalhadores (CUT), em 2009. Já em 2011, tornou-se secretário nacional da CNM/CUT, onde teve a missão de incluir a juventude nos debates.
Na penúltima eleição sindical, Leandro foi eleito secretário-geral da entidade, cargo que ampliou sua atuação e, somado ao histórico de luta, o leva agora a presidência do SMetal.
Desafios e lutas
O atual cenário é difícil, em particular para o trabalhador. Especialmente por três projetos que o governo golpista de Michel Temer (PMDB) tanta aprovar: as Reformas da Previdência e Trabalhista e a terceirização total das atividades-fim.
O primeiro ponto defendido pelo novo presidente do SMetal é manter e aprimorar o conceito de sindicato cidadão, atuando além do “chão de fábrica”. “Estamos numa cidade bastante conservadora. Por isso, temos que disputar os espaços, seja nas fábricas junto com o trabalhador, seja nas ruas com a população”.
Para ele, também é fundamental equilibrar o histórico do sindicato e, ao mesmo tempo, entender o contexto atual e buscar o diálogo especialmente com os jovens. “A juventude de hoje vivenciou uma era do copo meio cheio, com oportunidade de emprego, acesso à universidade, diferente da nossa geração, dos nossos pais, que experimentou o copo vazio. Agora, essa juventude quer o copo cheio”. Ele completa que, para isso, é preciso levar até os jovens o histórico de luta do movimento sindical.
Leandro aponta ainda que tanto o trabalhador quanto o sindicato têm mudado. “Especialmente este ano, com os ataques aos direitos trabalhistas, os trabalhadores têm parado para nos ouvir e, também, o sindicato voltou para o lugar de origem: a porta da fábrica”.
E para ele essa é a receita. “Está mesmo na hora da gente resgatar a história, dormir em colchonete, fazer acompanhamento. Enfim, voltar para a base. É um momento ímpar para mostrar que nós, do movimento sindical, sempre estivemos do lado do trabalhador, do povo”.
Leandro afirma que é possível ganhar essa luta. “Temos a experiência dos companheiros que já têm todo esse lado de luta sindical. E temos essa juventude que vem revigorada para inventar coisas novas”.