Na segunda-feira, dia 6, a subsede regional da CUT em Sorocaba encaminhou carta ao deputado federal Vitor Lippi (PSDB) explicando os prejuízos que o PL 4330 poderia causar aos trabalhadores que votaram nele. O parlamentar local, no entanto, ajudou a aprovar, nesta quarta-feira, o projeto que precariza o mercado de trabalho.
O ex-prefeito de Sorocaba chegou a convidar os representantes das centrais sindicais para uma reunião na qual ele iria se posicionar o PL. A CUT declinou do convite e explicou os motivos na carta abaixo. Mas no mesmo texto fez questão de pedir que o parlamentar honrasse os votos dos trabalhadores da região e votasse contra o projeto da terceirização.
Confira a íntegra da carta.
“Sorocaba, 6 de abril de 2015
Sr. Vitor Lippi,
Deputado Federal (PSDB-SP)
Comunicamos, por meio desta que, por razões abaixo expostas, os sindicatos filiados à CUT na região de Sorocaba declinam do seu convite para participar de uma reunião nesta segunda-feira, dia 6, sobre o famigerado PL 4330, que ameaça terceirizar e, com isso, precarizar desenfreadamente o mercado de trabalho brasileiro.
O posicionamento da CUT sobre o PL, de autoria do empresário e ex-deputado Sandro Mabel (PMDB), é o mesmo desde que ele começou a tramitar na Câmara, em 2004. Somos contra e, desde então, temos pedido a todos os parlamentares que, independente de partido, por um mínimo de compromisso social, votem contra o projeto em todas as etapas pelos quais ele passar no Congresso.
Defendemos a regulamentação em lei da prestação de serviços terceirizados, mas do ponto de vista dos interesses dos trabalhadores e da evolução de direitos; e não da ganância patronal e do desmonte da legislação de sustento da dignidade no mercado de trabalho, como pretende o PL do ex-deputado da bancada patronal.
Caso o senhor tenha informações sobre os princípios da CUT e sua postura básica sobre essa questão, sabe que nossos dirigentes não precisam de uma foto com o deputado para deixar clara a nossa reivindicação: se o senhor tem alguma afeição pela classe trabalhadora, deve defender a extinção do PL 4330.
O senhor pode até argumentar para a imprensa que sua intenção era nos ouvir pessoalmente sobre o assunto. Mas refutamos esse argumento pelo histórico da falta de diálogo conosco que o senhor cultivou.
Nossas razões
Podemos elencar inúmeras situações em que o senhor desprezou nossas opiniões e propostas; e até tentou abafar nossas vozes e nossa representatividade nos oito anos em que foi prefeito de Sorocaba. Seguem apenas algumas delas.
* Não fomos ouvidos quando alertamos, por escrito, que o então secretário Daniel de Jesus tinha uma visão sectária, autoritária, excludente e interesseira a respeito do desenvolvimento do município. Pouco depois, o secretário caiu em desgraça ao ser descoberto beneficiando a empresa da família com isenções fiscais. Em seguida, outros tantos secretários viriam a sair da administração por motivos semelhantes e até mais asquerosos (caso Renna).
* Não fomos ouvidos quando fizemos uma campanha pela construção de um Hospital Municipal, que poderia hoje estar atenuando o sofrimento de milhares de doentes, inclusive por dengue. Tanto o senhor quanto seu sucessor barraram essa iniciativa popular, sem diálogo, sem negociação, sem ouvir.
* Não fomos ouvidos quando nossa bancada sindical na Câmara teve proposituras, inegavelmente importantes para a classe trabalhadora, engessadas ou injustamente derrubadas por seus aliados no Legislativo.
* Não fomos ouvidos quando pedimos ao senhor que intercedesse, como chefe do Executivo municipal e correligionário do governador, para que a Polícia Militar contivesse seus modos repressores contra ações legítimas do movimento sindical nas portas das empresas.
* Não fomos ouvidos quando sugerimos ao senhor que deixasse o ranço partidário de lado e celebrasse mais convênios e parcerias com o governo federal, que na época dispunha de fartos recursos para creches, unidades básicas de saúde, unidades pré-hospitalares, saneamento básico, planos habitacionais, entre outras melhorias para os municípios.
Registro de incoerência
Por outro lado, a CUT registrou uma única e lamentável convocação que o senhor fez em seus dois mandatos ao Sindicato dos Metalúrgicos. Nessa reunião articulada por empresários junto à sua administração, seus representantes pediram, em clara bajulação ao poder econômico, que o movimento sindical cutista parasse de fazer o papel que sempre cumpriu, o de reunir manifestantes para protestar contra irregularidades trabalhistas e sociais.
Na época, o senhor alegou ao Sindicato que tais manifestações públicas e democráticas de insatisfação iriam “manchar a imagem da cidade junto a futuros investidores e a outras instâncias de governo (estadual e federal)”.
A lembrança desse pedido absurdo (e logicamente não atendido) se tornou ainda mais revoltante quando nos deparamos, recentemente, com as imagens do senhor, em redes sociais, munido de números deturpados sobre o governo federal, conclamando a população a sair às ruas para protestar ferozmente contra adversários do seu partido. Nessa hora, a imagem futura de Sorocaba como foco da direita reacionária não lhe importou.
Sua iniciativa, nobre deputado, não beirou a irresponsabilidade. Ela a alimentou. O populismo e o oportunismo publicitário conviveram, naquele dia, com mensagens de violência contra autoridades democraticamente constituídas, com pedidos aventureiros de impeachment sem base legal e com a exortação à volta da ditadura militar.
Todo esse histórico contrário à trajetória nacional de lutas populares não será desfeita com um estalar de dedos do senhor ou de uma pretensiosa e obtusa ideia propagandística de assessores a seu serviço.
Participação crítica
Reconhecemos o deputado como representante da região democraticamente eleito, embora sua noção de democracia e grandeza política esteja obscurecida pelo seu marketing no dia 15 de março. Infelizmente, o senhor é um dos poucos eleitos como representante local na Câmara Federal. Sorocaba e região perderam, no sentido mais amplo, na eleição em que o senhor foi vitorioso.
Vamos, certamente, cobrar com vigor o seu compromisso com a sociedade regional e com os temas gerais da classe trabalhadora. Mas não espere de nós adesão em sua necessidade de ocupar, na mídia, todos os espaços que perdemos em termos de representatividade na região. Não nos prestaremos a ser objetos cênicos em fotos com os movimentos sociais que o senhor e seu partido, na maioria das vezes, fez questão de desprezar, calar e até destruir.
Se para as câmeras de TVs e jornais o senhor sempre foi o “homem sorriso”, para nossas propostas e mobilizações sociais sempre prevaleceu sua carranca de má-vontade.
Não precisamos atender a esse seu chamado, repentino e pouco claro, para uma reunião nesta segunda-feira, dia 6, para revelar nossa reivindicação a respeito do PL 4330. Ela é firme e nítida desde muito antes de o senhor, enfim, se dispor a debater o tema coletivamente.
Pauta antes da foto
Esperamos não somente que o senhor vote contra o PL, mas que combata esse projeto. Aliás, temos feito o pedido de voto e atuação contra a propositura nociva de Sandro Mabel a todos os partidos e parlamentares que atuam em nossa Região Metropolitana de Sorocaba.
No mais, a decisão de participar ou não de eventos de divulgação de alianças pontuais sobre quaisquer temas sempre foi, e continuará a ser, objeto de debate entre os sindicatos de compõem a subsede regional da CUT em Sorocaba.
Sendo assim, caso mantenha o interesse no contato, solicitamos que, em eventual próxima oportunidade, providencie um convite formal com a pauta e as metas de tal encontro. Não costumamos nos submeter ao risco de ter nossa central representada, de maneira oportunista, em fotografias que tendem a não somar nada ao nosso movimento e à nossa luta sincera contra o PL 4330. Quem conhece de fato os princípios, a trajetória e a dinâmica coletiva da CUT sabe disso.
Boa reunião.
Saudações,
Joselito Mansinho da Silva
Coordenador da subsede da CUT Sorocaba, em nome dos sindicatos filiados”
