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Covid-19: Recuperados relatam histórias de superação e complicações

Em entrevista, três recuperados da doença causada pelo coronavírus contam um pouco das histórias vivenciadas na pandemia e falam sobre as complicações que ainda vivem mesmo depois de terem melhorado

Imprensa SMetal

Desde o início da pandemia causada pela Covid-19, mais de 350 mil vidas foram perdidas para a doença. Do lado de quem se recuperou e sobreviveu, existem muitas marcas que ficaram mesmo depois da melhora do quadro e são comuns os casos de pessoas que ainda precisam viver com sequelas causadas pelo coronavírus.

Diego Neves, Laura Mariano e Cleriston dos Santos. Apesar das diferenças em idade, gênero e raça, os três estão conectados por um denominador em comum: os reflexos e sequelas deixadas pela Covid-19, uma doença relativamente nova com seus impactos e os tratamentos adequados para os casos ainda poucos conhecidos.

Diego sofreu três internações por conta da Covid-19

Arquivo pessoal
Diego Neves ficou mais de 20 dias em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI)

Diego Neves ficou mais de 20 dias em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI)

Diego Neves, de 36 anos, completa um ano de “renascimento”, como ele mesmo classifica, em abril deste ano. Logo no início da pandemia, ainda em 2020, o engenheiro acabou contraindo a Covid-19. O que ele não imaginava era que, uma simples visita ao hospital para exames após sentir sintomas gripais, seria o começo de uma batalha travada entre ele e a doença.

“Tive alguns sintomas muito básicos como febre e uma coriza sútil durante uns sete dias. Até brinquei com alguns amigos por mensagens que, se eu tivesse com Covid, só precisava sobreviver a mais sete dias”, conta Diego. Na verdade, sua luta durou mais de um mês, sendo que 15 dias foram de intubação em uma unidade médica localizada no interior de São Paulo. O resultado do PCR – exame para identificação da presença do vírus no corpo – deu positivo, mas o que assustou a equipe médica foi a presença do “vidro fosco” em seu pulmão.

A tomografia de tórax apresentou em seu resultado o que os profissionais da saúde chamam de efeito “vidro fosco”. Em linhas gerais, ele se caracteriza por manchas que trazem uma percepção de atenuação do pulmão e afeta, na maioria dos casos, os dois lados do órgão. Esse diagnóstico mostra que houve comprometimento e auxilia para que o paciente seja tratado de acordo com seu quadro. Assim, recebendo essa notícia, ele seguiu para a internação, mesmo “estando bem e respirando”, como recorda.

Foram dias de muitas dores e de respiração curta. De um instante para outro, 50% de seu pulmão já não funcionava como deveria e, desta forma, precisou ser intubado. Ao todo, 23 dias em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e, durante os 15 dias de intubação, relata ter vivenciado alucinações, sonhos e delírios causados pelos sedativos. Essas não foram, de longe, as piores sequelas.

As pernas estavam fracas, havia perdido 20 quilos e a língua parecia “estar mole”. Tarefas antes básicas tiveram que ser reaprendidas em período curtos de adaptação. “Eu entrei no hospital andando, comia e bebia sozinho e meu psicológico fico afetado porque não tinha mais essa autonomia. Olhava a sonda, o oxímetro, a máscara de oxigênio, me sentindo um robô. Eu brincava que não via a hora de voltar a ser um ‘homenzinho’ de novo” afirma.

Arquivo pessoal
Depois do susto, Diego começou a atentar mais para a saúde física e mental

Depois do susto, Diego começou a atentar mais para a saúde física e mental

Como se não bastasse, dias depois da cura de seu caso, desenvolveu trombose como consequência da Covid e precisou ficar internado novamente, por mais duas vezes. Hoje, quase um ano depois do episódio, Diego comenta que avançou no tratamento e apenas uma das pernas ainda precisa ser tratada com anticoagulante para a trombose. Para ele, a oportunidade do renascimento é de ordem divina. “Graças aos profissionais da saúde, que eu digo, são anjos, e a minha fé, hoje estou aqui revendo minha vida e história”.

Laura tem 20 anos e hoje precisa de tratamento para o pulmão

Apesar de desenvolver um trabalho que poderia ser realizado à distância, Laura Mariano, de 20 anos, precisou estar presencialmente em seu posto durante os meses da pandemia. A jovem, asmática, conta que todos os dias ficava aflita com a possibilidade de uma infeção causada pelo coronavírus. Diferente de Diego, não precisou ser intubada, mas hoje trata o pulmão que ficou danificado pela doença.

Ela foi exposta ao vírus em fevereiro deste ano e, entre os sintomas, registrou dificuldade extrema para respirar, dores nas costas e no dorso – região do pulmão. O diagnóstico surpreendeu a médica responsável, não por estar diante de mais um caso, mas por se tratar de uma jovem de 20 anos que, apesar de asmática, era saudável. “Eu chegava do trabalho ansiosa todos os dias pelo medo de me contaminar. Quando peguei, fiquei triste porque me cuidei a pandemia inteira e tive que lidar com a doença por um descuido que não foi meu. A médica ficou sem acreditar quando viu o estado do meu pulmão”, relembra.

Felizmente, ela conseguiu se tratar em casa e com a medicação indicada pelos profissionais de saúde. No entanto, o medo a acompanhava dentro da própria residência, já que precisava tomar o cuidado de se manter afastada da mãe, que tem problemas cardíacos, e da irmã que também faz parte do grupo de risco por uma comorbidade.

Alguns meses depois, ela realiza procedimentos para diminuir manchas que ficaram nos dois lados do pulmão e mostra preocupação com as medidas de gestão da pandemia propostas pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido). “Está muito mais que óbvio que o lockdown e uma campanha de vacinação, juntos, trariam benefícios para a sociedade. Se fosse algo coletivo, não estaríamos nessa situação. Principalmente se nosso presidente fizesse alguma coisa”, comenta. Laura pondera ainda sobre a importância de não deixar os cuidados de lado e de, se possível, permanecer em casa.

Pereira deu entrada no hospital com 50% do pulmão comprometido

“O que eu mais ouvia quando estava internado, eram os profissionais falando: ‘estamos salvando o amor de alguém’ e isso ficou gravado na minha memória”. O metalúrgico Cleriston Cristovão Albino dos Santos, o Pereira, é mais um dos 13 milhões de brasileiros que enfrentaram a Covid-19 e faz parte de um grupo de 11 milhões que se recuperaram da doença. Aos 48 anos, com algumas comorbidades, sua maior gratidão após o período é pelos médicos e enfermeiros que cuidaram dele e de diversos outros pacientes internados no mesmo estado.

Ele precisou de internação já que deu entrada no hospital com mais de 50% de comprometimento no pulmão. Ao todo, foram nove dias utilizando uma máscara de oxigênio e sob supervisão médica em uma instituição privada de saúde. Engana-se quem pensa que foi só chegar e conseguir o espaço. Pereira precisou esperar por uma vaga na Unidade Intensiva de Saúde (UTI), mesmo estando em uma unidade particular.

Arquivo pessoal
Pereira agradece, sobretudo, a Deus e a equipe médica por sua recuperção

Pereira agradece, sobretudo, a Deus e a equipe médica por sua recuperção

O caso de Cleriston vem se repetindo em Sorocaba há dias. Atualmente, o sistema de saúde da cidade apresentou uma leve melhoria – dispondo de alguns leitos vagos. Entretanto, nas últimas três semanas foi registrado ocupação total tanto para os leitos clínicos quanto para as UTI’s de Sorocaba.

Neste momento, o dirigente do SMetal faz questão de salientar a pressão que vem sendo vivenciada pelo corpo médico nos hospitais. “Eles fazem muito mais do que precisa ser feito e estão exaustos. Se a população amasse o próximo, teria um pouco mais de consideração para com quem cuida da gente”, pondera. Na visão dele, é importante que as pessoas fiquem em casa e que os órgãos competentes pensem em um plano de vacinação para a população.

Situação no país segue crítica

A história dos recuperados mostram que se “curar” da Covid-19 sem nenhuma sequela é para poucos. Aos que não terão a experiência das dores e de possíveis tratamentos futuros, ainda restará o fator psicológico que, segundo Diego, Laura e Cleriston, pesa durante e depois do diagnóstico.

O Sindicato dos Metalúrgicos recorda que a situação no país permanece crítica. A média de mortes diárias segue acima dos três mil casos e o Plano Nacional de Imunização (PNI) ainda é tímido, tendo vacinado apenas 11% da população (considerando a primeira dose do imunizante).

“Infelizmente, muitos dos nossos companheiros não resistiram à doença. Os que estão aqui conosco, contam histórias que devem ser lidas como um alerta para que não deixemos de nos cuidar e, se possível, fiquemos em casa”, afirma o presidente do SMetal, Leandro Soares.

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