Condições de pacientes no Hospital Vera Cruz continuam precárias

Comissão de vereadores constata situação precária no Hospital Vera Cruz

Pacientes andando descalços na chuva e um forte odor de urina nas alas de internação foram algumas das situações precárias que vereadores de Sorocaba encontraram na tarde de hoje, dia 4, logo que entraram no hospital psiquiátrico Vera Cruz.

O hospital, denunciado várias vezes pela imprensa por submeter os pacientes a situações degradantes, foi investigado pelo Ministério Público em 2012. Os proprietários particulares foram destituídos da administração e, desde janeiro, a Prefeitura de Sorocaba é a responsável pela gestão da unidade de saúde.

Fiação elétrica exposta, pisos escorregadios, vidros quebrados, falta de ventilação, ambientes abafados e com infiltrações, iluminação insuficiente, vasos sanitários entupidos, pregos despontando do chão (muitos pacientes andam descalços) foram algumas outras irregularidades encontradas na vistoria desta tarde.

A visita surpresa foi feita por membros da Comissão de Educação, Saúde Pública, Juventude e Pessoa Idosa da Câmara Municipal, presidida pelo vereador Izídio (PT). Além do presidente da comissão, também participaram da vistoria os vereadores Carlos Leite (PT), Fernando Dini (PMDB) e Pastor Apolo (PSB).

Imprensa acompanhou

A visita ao hospital foi acompanhada, a convite dos vereadores, por diversos órgãos de imprensa. Alguns jornalistas chegaram a passar mal, com náuseas, devido ao ambiente insalubre, marcado pelo cheiro de dejetos. Outros, não conseguiam esconder o olhar carregado diante das cenas mais fortes.

A idade dos pacientes, alguns com poucas roupas ou seminus, vai de jovens aparentando cerca de 20 anos até idosos com problemas físicos visíveis.

“Às vezes, vende-se a imagem que agora está tudo bem no Hospital Vera Cruz. Mas não está. As denúncias sobre más condições continuaram chegando na Câmara nos últimos meses”, afirmou o vereador Izídio.

“Agora a imprensa constatou, junto com a gente, que a situação dos pacientes e dos funcionários do hospital continuam precárias. As condições eram subumanas quando a administração do hospital era privada e, por enquanto, não melhorou”, denunciou o parlamentar petista.

Faltam funcionários

O vereador reconhece que os 180 funcionários do hospital são insuficientes para cuidar dos 333 pacientes com problemas mentais. “Mas isso não justifica as condições degradantes dos seres humanos que estão internados aqui, nem as condições precárias e insalubres a que são submetidos também os trabalhadores da saúde”, ressalta o vereador.

A vistoria encontrou também pelo menos um tipo de alimento, a farinha de trigo, com data de validade vencida na despensa do hospital.

O jantar dos internos já estava pronto e acondicionado em marmitex às 14h30. A responsável pela cozinha alegou que as marmitas eram apenas para os pacientes com dificuldade de locomoção, que fariam a refeição “noturna” às 16h. Os demais, jantariam no refeitório. À noite, segundo ela, seria servido um lanche.

Gestor municipal

O gestor administrativo do hospital designado pela Prefeitura, Agenor Cheutchuk, acompanhou toda a visita dos vereadores. Agenor negou à imprensa que foi feita uma limpeza às pressas em algumas alas (o chão estava molhado) enquanto os vereadores visitavam os vários blocos de pacientes.

O gestor também disse que a situação está melhor após a intervenção, mas que o número de funcionários e falta de estrutura não permite mais melhorias. Ele afirmou que, na enfermagem, apenas 72 pessoas cuidam de todos os pacientes; e que esse número reduzido de profissionais seria a causa de fugas de internos, incluindo um paciente que recentemente morreu atropelado em uma estrada próxima ao hospital.

Segundo Agenor, o hospital precisaria do dobro de funcionários (360 no total e 144 só na enfermagem) para cuidar melhor dos pacientes.

Membros da Comissão de Saúde, vereadores Pastor Apolo, Izídio de Brito, Fernando Dini e Carlos Leite, realizaram a visita surpresa hoje ao hospital (Foto: Foguinho/Imprensa SMetal)

Soluções e providências

Ainda de acordo com o gestor, as soluções seriam o poder público repassar a administração do local para uma OS (Organização Social) e priorizar a “desinternação” na saúde mental. Ou seja, cuidar dos doentes nas casas, e não nos hospitais.

Sobre a “desinternação”, Agenor chegou a culpar veladamente as famílias dos pacientes pelos casos de condições precárias na saúde mental, pois muitos familiares estariam abandonando os doentes nos hospitais, causando superlotação nas unidades psiquiátricas.

O vereador Izídio afirmou que as informações e imagens obtidas na vistoria de hoje, dia 4, farão parte de um relatório que a comissão de saúde da Câmara vai enviar para a Prefeitura, Para o Ministério Público e para a União.

A inspeção surpresa dos vereadores no hospital começou às 14h e terminou às 15h30.

Entenda o caso

Há cerca de dois anos as condições precárias nos hospitais psiquiátricos da região vêm sendo denunciadas por organizações de luta antimanicomial. Deputados da região, como Hamilton Pereira, e vereadores de Sorocaba, incluindo Izídio, que hoje participou da vistoria no Vera Cruz, reforçaram as denúncias.

No ano passado, após denúncias de maus tratos veiculadas em redes nacionais de imprensa, o hospital foi inspecionado por uma força-tarefa integrada por representantes do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), Polícia Civil e Polícia Militar. Logo em seguida a unidade foi interditada pela Anvisa (Agência Nacional de Saúde).

Em dezembro do ano passado, prefeitos da região de Sorocaba e representantes da Secretaria Estadual da Saúde e do Ministério da Saúde assinaram um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) junto ao Ministério Público comprometendo-se a melhorar a assistência aos pacientes com transtornos mentais.

O Hospital Vera Cruz está inserido no TAC, que foi assinado pelo então prefeito de Sorocaba, Vitor Lippi (PSDB).

Em janeiro, após intervenção judicial, a Prefeitura assumiu a gestão do Vera Cruz, que até então era de propriedade particular.