Todo ano, durante o mês de março, é a mesma coisa. Jornais, portais de notícias e as mídias em geral dão destaque à desigualdade entre homens e mulheres no mercado de trabalho, especialmente quando o assunto é salário. Na categoria metalúrgica, na qual ainda há outro fator histórico que é o número de trabalhadoras na base, a situação também não mudou.
O incentivo a contratações femininas e à progressão profissional sem qualquer tipo de discriminação de gênero no local de trabalho é uma reinvindicação constante da diretoria do Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba e Região (SMetal). Inclusive, está prevista na Convenção Coletiva de Trabalho (CCT) negociada pela FEM-CUT/SP em praticamente todos os grupos patronais.
Mas como pode-se perceber no quadro ao lado, a participação das mulheres na categoria pouco mudou nos últimos anos. Segundo dados da RAIS (2020) e o Novo Caged (2022), compilados pela subseção do Dieese dos Metalúrgicos de Sorocaba, a estimativa é que apenas 18,93% da categoria seja feminina. Em 2019, elas representavam 18,97% e, em 2018, somente 19,57%.
Quando o assunto é salário, as diferenças também são grandes. Mas por que isso continua? Para a socióloga Adriana Marcolino, técnica do Dieese da CUT Nacional, essa desigualdade entre homens e mulheres é estrutural porque, independente do período, essa proporção reduzida das mulheres se mantém. E enfatiza: “não haverá mudanças enquanto houver apenas políticas genéricas, para toda a classe trabalhadora”.
Segundo ela, alguns fatores fazem com que essa situação se perpetue. A menor participação de mulheres em ocupações de maiores qualificações, a dificuldade para evoluir na carreira e a maior frequência com que trabalhadora sai do mercado de trabalho são algumas delas.
Como mudar?
A socióloga acredita que há elementos efetivos de como o movimento sindical pode atuar para colaborar na busca por igualdade de gênero no trabalho. A primeira questão é garantir creche, seja com o auxílio previsto nas Convenções Coletivas ou lutando por uma política pública localmente.
“Apesar de ser um direito da criança, para a mulher se manter no local de trabalho, a creche é fundamental. O Estado fazer a parte dele é essencial, mas em negociação coletiva também podemos debater algumas questões, como o horário de funcionamento, que às vezes não acompanha a jornada de trabalho dos pais”.
Medidas de proteção às mulheres que tiveram filhos, com o objetivo de impedir que as trabalhadoras sejam demitidas após voltar do seu direito à licença maternidade é também uma forma de ajudar a reduzir essa desigualdade. “Outra questão é verificar se o plano de cargos e salários não está cometendo injustiças com as mulheres. Se ele está sendo, de fato, uma oportunidade para homens e mulheres dentro das empresas”, alerta.
Adriana lembra ainda que, na indústria metalúrgica, há ocupações que são socialmente avaliadas como tarefas de homens, o que dificulta a contratação e promoção de mulheres. “Em casos de gerências, chefia e maior qualificação é o machismo que muitas vezes impede a ascensão da mulher. Por isso, a empresa também deveria ter uma atitude de formar os seus quadros de gerência e superar as avaliações machistas e discriminatórias contra a mulher”.
Segundo dados da subseção Dieese do SMetal, quando são analisamos os cargos de chefia nas empresas metalúrgicas de Sorocaba e Região, como supervisor, gerente, encarregado, diretor e coordenador, o percentual de participação da mulher é equivalente ao encontrado em toda a categoria, de 19,33%. Porém se o assunto é salário, a diferença entre homens e mulheres aumenta significativamente e chega a 36,95%.
A socióloga finaliza dizendo que em países como Suécia e Dinamarca estão sendo debatidas, inclusive, cotas para a ampliação da participação feminina em empresas privadas. “Na categoria metalúrgica, na qual já há a cláusula de incentivo às contratação de mulheres, o que é bem importante, pode-se criar uma mesa permanente de negociação para discutir ações mais concretas e transformar a cláusula em algo efetivo. Para esse processo negocial, é fundamental que as mulheres sejam protagonistas nas discussões”, conclui.
Mulheres protagonistas
Para ampliar a participação feminina na luta por mais direitos foi retomado, em dezembro de 2021, o Coletivo de Mulheres do SMetal. Para elas, seja na questão de equiparação salarial, contra assédio no local de trabalho ou qualquer outro tema do mundo feminino, é importante que as mulheres sejam protagonistas.
Na época, as dirigentes do Sindicato entregaram uma carta ao presidente do SMetal, Leandro Soares, com o intuito de formalizar a retomada do Coletivo e falando sobre seus principais objetivos. “A luta pelos direitos das mulheres é constante e devem estar em todos lugares, seja na fábrica, na sociedade em geral e também na política. O Coletivo do SMetal ressurge com o objetivo de engajar as mulheres trabalhadoras nessa árdua batalha”, contam.
Leandro Soares, por sua vez, reforça a importância de todos participarem da luta por direitos, especialmente contra o machismo existente em toda a sociedade. “Ser mulher traz diversas especificidades nas quais, somente quem passa por situações machistas diariamente, sabe dizer. Nós, homens, temos a obrigação de respeitá-las e estar ao lado delas nas lutas por igualdade. Ter um Coletivo para tratar desses temas tão importantes, com certeza, trará diversos ganhos para a mulher trabalhadora”, enfatiza.