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Como combater a desigualdade entre homens e mulheres no trabalho

Socióloga traz elementos de como o movimento sindical pode atuar na luta por igualdade de gênero no trabalho; mulheres são 18,93% da categoria metalúrgica e, em média, recebem 25% a menos que os homens

Imprensa SMetal
Arte: Cássio Freire
Perfil da Mulher Metalúrgica de Sorocaba e região

Perfil da Mulher Metalúrgica de Sorocaba e região

Todo ano, durante o mês de março, é a mesma coisa. Jornais, portais de notícias e as mídias em geral dão destaque à desigualdade entre homens e mulheres no mercado de trabalho, especialmente quando o assunto é salário. Na categoria metalúrgica, na qual ainda há outro fator histórico que é o número de trabalhadoras na base, a situação também não mudou.

O incentivo a contratações femininas e à progressão profissional sem qualquer tipo de discriminação de gênero no local de trabalho é uma reinvindicação constante da diretoria do Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba e Região (SMetal). Inclusive, está prevista na Convenção Coletiva de Trabalho (CCT) negociada pela FEM-CUT/SP em praticamente todos os grupos patronais.

Mas como pode-se perceber no quadro ao lado, a participação das mulheres na categoria pouco mudou nos últimos anos. Segundo dados da RAIS (2020) e o Novo Caged (2022), compilados pela subseção do Dieese dos Metalúrgicos de Sorocaba, a estimativa é que apenas 18,93% da categoria seja feminina. Em 2019, elas representavam 18,97% e, em 2018, somente 19,57%.

Quando o assunto é salário, as diferenças também são grandes. Mas por que isso continua? Para a socióloga Adriana Marcolino, técnica do Dieese da CUT Nacional, essa desigualdade entre homens e mulheres é estrutural porque, independente do período, essa proporção reduzida das mulheres se mantém. E enfatiza: “não haverá mudanças enquanto houver apenas políticas genéricas, para toda a classe trabalhadora”.

Segundo ela, alguns fatores fazem com que essa situação se perpetue. A menor participação de mulheres em ocupações de maiores qualificações, a dificuldade para evoluir na carreira e a maior frequência com que trabalhadora sai do mercado de trabalho são algumas delas.

Como mudar?

A socióloga acredita que há elementos efetivos de como o movimento sindical pode atuar para colaborar na busca por igualdade de gênero no trabalho. A primeira questão é garantir creche, seja com o auxílio previsto nas Convenções Coletivas ou lutando por uma política pública localmente.

“Apesar de ser um direito da criança, para a mulher se manter no local de trabalho, a creche é fundamental. O Estado fazer a parte dele é essencial, mas em negociação coletiva também podemos debater algumas questões, como o horário de funcionamento, que às vezes não acompanha a jornada de trabalho dos pais”.

Medidas de proteção às mulheres que tiveram filhos, com o objetivo de impedir que as trabalhadoras sejam demitidas após voltar do seu direito à licença maternidade é também uma forma de ajudar a reduzir essa desigualdade. “Outra questão é verificar se o plano de cargos e salários não está cometendo injustiças com as mulheres. Se ele está sendo, de fato, uma oportunidade para homens e mulheres dentro das empresas”, alerta.

Adriana lembra ainda que, na indústria metalúrgica, há ocupações que são socialmente avaliadas como tarefas de homens, o que dificulta a contratação e promoção de mulheres. “Em casos de gerências, chefia e maior qualificação é o machismo que muitas vezes impede a ascensão da mulher. Por isso, a empresa também deveria ter uma atitude de formar os seus quadros de gerência e superar as avaliações machistas e discriminatórias contra a mulher”.

Segundo dados da subseção Dieese do SMetal, quando são analisamos os cargos de chefia nas empresas metalúrgicas de Sorocaba e Região, como supervisor, gerente, encarregado, diretor e coordenador, o percentual de participação da mulher é equivalente ao encontrado em toda a categoria, de 19,33%. Porém se o assunto é salário, a diferença entre homens e mulheres aumenta significativamente e chega a 36,95%.

A socióloga finaliza dizendo que em países como Suécia e Dinamarca estão sendo debatidas, inclusive, cotas para a ampliação da participação feminina em empresas privadas. “Na categoria metalúrgica, na qual já há a cláusula de incentivo às contratação de mulheres, o que é bem importante, pode-se criar uma mesa permanente de negociação para discutir ações mais concretas e transformar a cláusula em algo efetivo. Para esse processo negocial, é fundamental que as mulheres sejam protagonistas nas discussões”, conclui.

Daniela Gaspari / Imprensa SMetal
Coletivo do SMetal participa do ato pelo Dia Internacional da Mulher, em São Paulo

Coletivo do SMetal participa do ato pelo Dia Internacional da Mulher, em São Paulo

Mulheres protagonistas

Para ampliar a participação feminina na luta por mais direitos foi retomado, em dezembro de 2021, o Coletivo de Mulheres do SMetal. Para elas, seja na questão de equiparação salarial, contra assédio no local de trabalho ou qualquer outro tema do mundo feminino, é importante que as mulheres sejam protagonistas.

Na época, as dirigentes do Sindicato entregaram uma carta ao presidente do SMetal, Leandro Soares, com o intuito de formalizar a retomada do Coletivo e falando sobre seus principais objetivos. “A luta pelos direitos das mulheres é constante e devem estar em todos lugares, seja na fábrica, na sociedade em geral e também na política. O Coletivo do SMetal ressurge com o objetivo de engajar as mulheres trabalhadoras nessa árdua batalha”, contam.

Leandro Soares, por sua vez, reforça a importância de todos participarem da luta por direitos, especialmente contra o machismo existente em toda a sociedade. “Ser mulher traz diversas especificidades nas quais, somente quem passa por situações machistas diariamente, sabe dizer. Nós, homens, temos a obrigação de respeitá-las e estar ao lado delas nas lutas por igualdade. Ter um Coletivo para tratar desses temas tão importantes, com certeza, trará diversos ganhos para a mulher trabalhadora”, enfatiza.

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