Entre 2019 e 2021, saltou de 30% para 36% o percentual de brasileiros que vivem sob constante situação de insegurança alimentar e ameaça de fome. A taxa no Brasil alcançou recorde da série histórica, iniciada em 2006. Além disso, também superou a média global (35%). Os resultados são de uma pesquisa do Centro de Políticas Sociais do FGV Social, que analisou dados coletados pelo instituto Gallup em 160 países.
No ano passado, entre os 20% dos mais pobres, três em cada quatro brasileiros (75%) disseram que faltou dinheiro para comprar comida nos últimos 12 meses. Em todo o mundo, nesse mesmo estrato social, o percentual de entrevistados que afirmou não ter renda para comprar alimentos para ou para a família foi de 48%. Em 2019, a taxa de insegurança alimentar nas classes de baixa renda era da 53%.
“Entre os 20% mais pobres no Brasil, o nível (de insegurança alimentar) é próximo dos países com maiores taxas, como Zimbábue [80%]”, afirmou o diretor da FGV Social, Marcelo Neri. Em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, ele se disse impressionado com “o aumento abissal da desigualdade de insegurança alimentar” no país.
Entre as mulheres, a taxa de insegurança alimentar no Brasil está na casa dos 47%, enquanto a média global ficou em 37%. E é de 45% para brasileiros e brasileiras com idades entre 30 e 49 anos. Nesse sentido, as taxas elevadas entre esses grupos têm “efeitos de longo prazo” por causa do risco de desnutrição nas crianças, segundo Neri.
Fome piorando
Também à Folha, o coordenador da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan), Renato Mafuf, disse que todos os fatores que mantinham os níveis elevados de fome entre os brasileiros se agravaram no ano passado; e seguem em deterioração neste ano. Além disso, ele destacou que não há “política de governo” estruturada para combater à fome.
“O desemprego segue elevado e a renda, em baixa, sobretudo entre os informais. Temos um benefício social (Auxílio Brasil) menor do que em 2020 (quando chegou a R$ 600 mensais) e uma guerra entre grandes produtores de alimentos” afirmou, referindo-se ao conflito militar na Ucrânia.
No ano passado, a Rede Penssam já havia apontado a volta do crescimento da fome no Brasil, depois de recuar significativamente até meados da década passada. Naquele momento, 117 milhões de pessoas estavam em situação de insegurança alimentar.
Desse total, 19,1 milhões de brasileiros estavam efetivamente passando fome, em um quadro de carência grave de comida. Os dados do Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil.
Combate à fome em Sorocaba
O Banco de Alimentos de Sorocaba (BAS), entidade que tem como missão o combate à fome e tem como único apoiador o Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba e Região (SMetal), tem percebido o aumento desses números apontados pela pesquisa no dia a dia da entidade. De acordo com a assistente social, Meire Elen Rodrigues, a procura por atendimento por causa da fome é comum.
“O desemprego, todas as retiradas de direitos e, para completar, a pandemia. Tudo isso junto faz com que as pessoas não tenham opção e procurem pelas nossas doações e projetos. Nós chegamos a sair do Mapa da Fome em 2014, mas com o fim do PAA (Programa de Aquisição de Alimentos) e o desmonte das políticas públicas, tudo isso se desfez. É muito triste ver essa realidade”, explica.
Atualmente, o BAS atende mais de 10 mil famílias por ano, por meio de mais de 70 entidades, 10 comunidades que recebem doações diretas e projetos de economia solidária, geração de renda e apoio assistencial e psicológico. Mas, segundo a entidade, ao contrário da fome, as doações têm diminuído consideravelmente.
A entidade recebe doações de grandes redes de supermercados, produtores rurais e dos próprios comerciantes da Ceagesp, onde está localizada. Mas toda ajuda é mais do que bem-vinda!
Para doar alimentos, basta entrar em contato com a entidade pelo whatsapp (15) 97400 0206. Também é possível doar via PayPal ou via PIX pelo CNPJ: 08741511000176.