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MÊS DA MULHER

Chefes de família são elas: quase metade dos lares é sustentado por mulheres no país

Estima-se ainda que só entre 2014 e 2019, quase 10 milhões de mulheres assumiram o posto de gestora da casa, enquanto 2,8 milhões de homens perderam essa posição no mesmo período

Lucas Delgado/Imprensa SMetal
No Brasil, chefes de família são elas

No Brasil, chefes de família são elas

Apesar do termo “chefe de família” remeter, normalmente, à figura de um homem à frente das finanças e responsabilidades de uma casa, os dados mostram que a realidade brasileira é bastante diferente. De acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o percentual de domicílios brasileiros chefiados por mulheres passou de 25% em 1995 para 45% em 2018. Estima-se ainda que só entre 2014 e 2019, quase 10 milhões de mulheres assumiram o posto de gestora da casa, enquanto 2,8 milhões de homens perderam essa posição no mesmo período.

A realidade impulsiona no país uma movimentação feminina que apela pela equidade salarial e direito a uma renda básica para elas. Com a pandemia da Covid-19, ficou ainda mais clara a necessidade dessas mulheres que ocupam a posição de provedoras dos filhos e da casa sendo mães solo. E para tentar compensar, ainda que não suficientemente, elas tiveram direito a um Auxílio Emergencial de R$1.200 em 2020, que depois caiu para apenas R$ 375 reais em 2021.

Além disso, está em andamento, desde 2020, o Projeto de Lei n° 2099/20, de autoria do deputado federal Assis Carvalho (PT-PI), que propõe o pagamento de auxílio permanente no valor de R$ 1.200 a mulheres que moram sozinha com os filhos.

O projeto foi aprovado pela Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher em outubro de 2021 e chegou à Comissão de Seguridade Social e Família em novembro do mesmo ano. Desde então não há nenhum novo parecer. Para ser aplicado, ele ainda deve passar por mais duas comissões, pelo Senado Federal e pelo presidente da República.

Apoio e assistência

Mariana M. Maginador/Imprensa SMetal
Meire Elen com as atendidas no Projeto Casa da Mulher

Meire Elen com as atendidas no Projeto Casa da Mulher

De acordo com Meire Elen Rodrigues, assistente social do Banco de Alimentos de Sorocaba (BAS), a realidade brasileira é também a realidade dos atendidos diretamente pela instituição, fundada e apoiada pelo Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba e Região (SMetal). De todos os atendimentos realizados pelo BAS, 95% são mulheres que buscam apoio.

Em 2022, até o início do mês de março, 55 pessoas procuraram ajuda, destas 47 eram mulheres. Esse número representa 85,45% dos atendimentos. Desse montante, 65,96% eram mães solo e chefes de família. Apenas 34,04% delas têm o apoio de um companheiro em casa.

A falta de emprego, a dificuldade de ter que cuidar sozinha dos filhos diante da necessidade de ter que trabalhar e problemas de saúde relacionado à hipertensão, essas são as principais demandas dessas mulheres, segundo a entidade.

“Todo o trabalho do BAS é muito importante, o combate à fome tem se tornado cada vez mais necessário devido ao aumento do desemprego e das diversas questões sociais que surgiram nesse momento pós-pandemia. Os projetos de atendimento direto estão sendo desenvolvidos visando à superação das vulnerabilidades de cada indivíduo, pois garantindo acesso aos alimentos, estamos dando segurança para que a família possa buscar caminhos alternativos de superação”, explica a assistente social da entidade.

Leandro Soares, presidente do SMetal, destaca a importância de iniciativas como essa. “Ser um Sindicato Cidadão é contribuir com projetos e instituições que atuam além do chão de fábrica. O trabalho do Banco de Alimentos é essencial para apoiar essas mulheres que lutam todos os dias para garantir um prato de comida na mesa dos seus filhos e ainda dar conta de toda a responsabilidade sozinha dentro de casa”.

Histórias reais

O Banco de Alimentos de Sorocaba tem como prioridade atender mulheres e apoia dois projetos realizados em parceria com outras instituições. São eles: o Semear Agrofloresta, que acontece no espaço da Associação Luar, no Jardim Novo Mundo em Votorantim; e o Projeto Casa da Mulher, na Casa do Menor de Sorocaba, que atende mulheres do Jardim Nova Esperança.

Arquivo pessoal
Ediana, uma das atendidas do Projeto Casa da Mulher, com toda a família

Ediana, uma das atendidas do Projeto Casa da Mulher, com toda a família

O papel do BAS nesses projetos é o de manter dentro das unidades o abastecimento de uma Mercearia Social, um espaço de aquisição de produtos por meio de crédito social, acumulado com a participação e o engajamento das atendidas no projeto. Na mercearia, as mulheres podem levar para casa os alimentos que de fato precisam, e de acordo com a necessidade de sua família.

“Ambos são ações que visam a garantia do acesso ao básico necessário para a sobrevivência humana, além da realização de atividades de roda de conversa para debater assuntos relevantes e promover o fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários, também são realizadas oficinas com intuito de promover o conhecimento, a capacitação profissional e a geração de renda através de economia solidária”, explica Meire Elen.

Para Ediana Clara do Carmo, 48 anos, uma das mulheres atendidas no projeto da Casa do Menor, a Mercearia Social ajuda muito. “Está tudo muito caro, mas o que eu consigo pegar na mercearia em alimentos, eu economizo em casa e uso o dinheiro para pagar gás, energia, água. Me ajuda muito e ao mesmo tempo vou dando meus pulos, fazendo meus bicos”.

Arquivo pessoal
Renata Leite, umas das atendidas do Projeto Casa da Mulher, com suas filhas

Renata Leite, umas das atendidas do Projeto Casa da Mulher, com suas filhas

Ela conta que a maior dificuldade como responsável pela casa é fazer o dinheiro dar para o mês inteiro. “A cada dia está mais difícil. Eu sempre fui chefe de família, posso falar isso. Eu nunca fui casada, eu criei meus filhos sozinha, sempre foi muito difícil pra mim, sempre uma luta, já vendi coisas na rua, trabalhei na roça”.

Já Renata Leite, 32 anos, conta que é chefe de família desde os 18 anos. “Nessa idade eu já virei mãe e pai e a maior dificuldade sempre foi conciliar a casa e ao mesmo tempo encontrar trabalhos fixos. Por enquanto, eu vivo de bicos, o que tiver que fazer eu faço, mas ainda assim é difícil”.

Renata conta que o projeto vem transformando sua vida. “Me fortaleceu. Quando eu cheguei lá, no começo da pandemia, eu estava em depressão. Hoje estou aprendendo em vários cursos, artesanato, culinária e ainda tem as reuniões que dão força pra gente. Foi lá que eu ganhei força e coragem de começar meu curso de enfermagem. Muitas vezes a gente acha que está acabando a nossa luz, mas logo ela se renova, como uma fênix. Nós mulheres somos a fênix, somos a luz, pai e mãe dos nossos filhos”.

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