Depois de realizar um ato unificado na terça-feira, dia 19, o primeiro sob o governo interino, as centrais sindicais farão um encontro nacional daqui a uma semana. As entidades pretendem aprovar ações e um documento com propostas de retomada do crescimento econômico e contra corte de direitos.
“O que vem pela frente é uma agenda de precarização”, disse o secretário-geral da CUT, Sérgio Nobre, citando propostas do governo e afirmação recente do presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Braga de Andrade, sobre jornada de trabalho, posteriormente contestada. “Essa declaração tem de ser levada a sério”, disse o dirigente.
A manifestação desta terça-feira, diante da sede do Banco Central em São Paulo, na Avenida Paulista, lembrou do primeiro dia de reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que nesta quarta, dia 20, anunciará a taxa básica de juros para os próximos 45 dias – a expectativa é de manutenção em 14,25% ao ano. Todos os discursos relacionaram os juros altos com a estagnação da economia e o desemprego. Participaram representantes de sete centrais. “Quantos maiores forem os juros, menor será o investimento”, afirmou Nobre.
“Para nós, é um ato simbólico porque retomamos a unidade de ação. Essa reaproximação é importante”, comentou o secretário-geral da Força Sindical, João Gonçalves, o Juruna, citando reuniões entre o presidente da central e do SD, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, defensor do impeachment, com dirigentes da CUT e da CTB, que não reconhecem legitimidade no governo Temer.
O encontro da terça que vem (26), com representantes das centrais em todos os estados, será realizado no mesmo local (Espaço Hakka, na Liberdade, região central de São Paulo) onde, em dezembro, centrais e entidades empresariais aprovaram o Compromisso pelo Desenvolvimento, com propostas de recuperação da economia. Segundo Sérgio Nobre, o documento a ser aprovado no próximo encontro vai refletir a preocupação das centrais com medidas discutidas pelo governo interino, como reforma da Previdência, o projeto de terceirização, o papel da Petrobras no pré-sal e privatizações. “Há um plano de retirada de direitos. Temos propostas para o Brasil”, afirmou.
A ideia de uma greve geral, pelo menos neste momento, não encontra unanimidade entre as centrais. Foi defendida por dirigentes da CUT e da CTB. “Tem clima para isso”, disse Nobre. “Estamos discutindo o melhor momento”, afirmou o secretário-geral da CTB, Wagner Gomes. “Temos de mostrar muita força ou nossos direitos vão embora.”
“Isso não está em discussão no momento”, comentou Juruna. “Temos de discutir passo a passo.” O secretário-geral da UGT, Francisco Canindé Pegado, também foi cauteloso. “Vamos, sim, manter essa unidade de ação e lutar para intensificar a mobilização.”
Juros
A presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, Juvandia Moreira, destacou a sangria de recursos que ocorre por causa dos juros, que só no ano passado, lembrou, representaram quase R$ 500 bilhões, aproximadamente 8,5% do Produto Interno Bruto (PIB). Neste ano, já foram mais R$ 300 bilhões.
“Eles estão se aproveitando do orçamento público, dos impostos, para ficar com a nossa riqueza”, afirmou Juvandia, citando ainda as taxas cobradas pelo uso de cheque especial e cartão de crédito e o lucro líquido dos cinco principais bancos brasileiros, que no primeiro trimestre somou R$ 13 bilhões. “Precisamos que o capital seja investido na produção e não colocado no sistema financeiro.”
Muitos dirigentes afirmaram que os empresários aproveitam o momento de crise para tentar retirar direitos ou impor reajustes abaixo da inflação. Diretor do Sindicato das Costureiras de São Paulo, que está em campanha salarial, Jonas Arcanjo contou que a entidade patronal ofereceu reajuste de 3,5%, para uma inflação de 9,48%. O sindicato representa 80 mil trabalhadores, com data-base em 1º de agosto.