Transformar o que não é útil para alguns em comida na mesa de outros. Essa é uma das missões do Banco de Alimentos de Sorocaba, que trabalha para distribuir alimentos de maneira eficaz. Contudo o objetivo do projeto, de ajudar no sustento básico, que é alimentação, passa por obstáculos, que, além da recessão no País, envolvem a boa ação de doadores e corte de programas governamentais.
Com 11 anos de atuação na cidade, o Banco de Alimentos funciona na Ceagesp e atende, atualmente, a 150 entidades cadastradas. Conforme o presidente do projeto, Tiago Almeida do Nascimento, as entregas também envolvem a região. Iniciativa do Sindicato dos Metalúrgicos, o Banco é uma raiz do projeto Natal sem Fome. “Não bastava apenas manter a campanha no Natal; tinha de se fazer algo a mais”, conta.
Nascimento explica que no programa Fome Zero, do governo federal, já existiam os Bancos. “Então, o Sindicato apropriou-se da política do Fome Zero e, no fim da campanha Natal sem Fome, fundou o Banco de Alimentos.” Assim, diferentes cidades contam com o trabalho, principalmente as sedes de Região Metropolitana, como Campinas e São Paulo. “Não há critérios por cidade; trata-se de uma iniciativa de segurança alimentar”, ressalta.
Mas para que todo o processo para concretização do projeto fosse possível, o Sindicato teve de contar com a ajuda de outras áreas, firmando, assim, parceria com a Escola Técnica (Etec) “Rubens de Faria e Souza”, que colaborou na parte técnica, como seleção e manuseio dos alimentos, e com a Ceagesp, que cedeu o espaço para a retirada dos produtos e o acesso aos permissionários que fazem as doações.
Como tudo é registrado e avaliado para o recebimento dos alimentos, as entidades cadastradas devem estar incorporadas nos quesitos do projeto. Segundo o presidente, o atendimento envolve instituições que trabalhem com educação, saúde e assistência social. “Como exemplo, na área de educação, posso citar as creches comunitárias, principalmente as que atendem no contraturno, quando as crianças saem da escola.”
Ao se cadastrar como solicitante, a entidade interessada passa por um processo seletivo com uma assistente social do Banco, que visita, confere os trabalhos e certifica a documentação. “Se não estiver regularizada, isso não significa que não estará no cadastro, mas faremos um assessoramento”, explica Nascimento, afirmando que anualmente é feito o recadastramento de cada atendido.
Seleção
Para que o alimento chegue ao Banco é necessária uma força-tarefa para captação, ou seja, colaboradores e funcionários do projeto vão até o doador, que podem ou não estar na Ceagesp. “Nós pegamos alimentos dos permissionários da Ceagesp, que são as mercadorias que eles não venderam e não vão vender, o que, daí, é doado.” Ele conta, ainda, que muitos preferem doar em vez de pagar demandas excedentes, que são sobras.
Atualmente, trabalha-se com a Ceagesp e mais duas redes de supermercados na cidade, que também oferecem produtos, como legumes e frutas; contudo nada impede de a doação vir de outros lugares. “A gente também vai buscar nas empresas alimentícias, em algumas roças, onde o produtor pode ter um resto de plantação de pimentão; ou ele passa o trator por cima ou ele doa, porque não vai ter mais venda”, explana.
Ainda de acordo com Nascimento, não tem como fixar um número de doadores, porque em cada mês a demanda pode mudar. “Quem doa nesta semana pode ser que na próxima não colabore; não é uma questão contínua.” Porém ele ressalta que, em comparação com anos anteriores, o volume de produtos vindos da Ceagesp registrou queda de 50%, e ele atribui a realidade às compras mais enxutas pelos permissionários.
Para que a entidade que vai receber o produto tenha na mesa alimentos de qualidade, a seleção fica por conta de técnicos, professores e estudantes dos cursos de Alimentação e Nutrição da “Rubens de Faria e Souza” e voluntários. Entre os critérios, o primeiro ponto para liberar a doação está no aspecto visual. “Fora isso, são observados cheiro e textura, assim como toda a higienização necessária.”
Obstáculos
O presidente adianta que o Banco de Alimentos, atualmente, trabalha para divulgar o projeto, principalmente através dos meios digitais, para que as pessoas conheçam a iniciativa e se interessem pela colaboração, já que a crise econômica e o corte de incentivos, como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), do governo federal, onde se comprava alimentos da Agricultura Familiar e eram destinados à assistência social, dificultaram o trabalho.
Para Sorocaba, deste programa federal, eram destinadas ao Banco, por meio da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), 80 toneladas por mês de alimentos para, em seguida, chegar às entidades cadastradas. Fora isso, 900 cestas de hortifrútis eram feitas por semana e distribuídas a famílias de baixa vulnerabilidade social atendidas pelos Centros de Referência de Assistência Social da região.
Nascimento também afirma que a falta de parceria com a Prefeitura é algo prejudicial. Ele comenta que o convênio com o município perdurou até dezembro passado. “O Banco desenvolve dois programas, o Cesta Verde, que assiste a família diretamente, e de Educação Alimentar, mas a Prefeitura interessava-se apenas pelo Cesta Verde; porém, sem o PAA, não tem como garantirmos o projeto.”
O período chuvoso, de janeiro a março, apesar de comum, também interfere no funcionamento do Banco, por conta das colheitas. “Muita chuva acaba prejudicando a produtividade”, frisa Nascimento. A mesma interferência acontece na metade do ano, o início do inverno, com a seca. “Junho e julho são os piores meses.” Ele reforça que nessas ocasiões o auxílio do governo era uma das bases de sustentação para o projeto.