São Paulo – A direção do HSBC garantiu hoje (10) aos representantes dos trabalhadores que a venda do banco no Brasil não vai causar demissões. Em reunião realizada no fim da tarde de hoje (10) com os sindicatos dos Bancários de São Paulo, de Curitiba e a Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), a direção confirmou que os postos de trabalho serão mantidos pela instituição até a venda. O HSBC tem 21 mil funcionários no país.
“O banco mais uma vez reafirmou que não vai fechar as atividades aqui no Brasil, demitindo todo mundo como saiu na imprensa ontem, pois na verdade o processo de venda continua, e o banco vai manter a operação normalmente”, disse a presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Juvandia Moreira. Segundo ela, os trabalhadores saíram da reunião com o compromisso de ter reuniões quinzenais com a diretoria para terem acesso às informações verdadeiras. “Vamos trazer para o banco as preocupações dos empregados e esclarecer qualquer dúvida que tenha no processo e tomar conhecimento daquilo que possa ser divulgado desse processo todo”, afirmou.
A dirigente disse que a direção do banco também esclareceu que a declaração da direção mundial sobre 50 mil demissões foi feita em reunião com analistas para esclarecer dúvidas e que o banco terá essas demissões em três anos, mas fora do Brasil e Turquia, país no qual o banco também está vendendo suas operações de varejo. “Não é que vão fazer demissões no Brasil; os funcionários farão parte de outra instituição que não será mais o HSBC, quando for vendido. Essa foi a informação do banco. O enxugamento de postos de trabalho, em até três anos, seria fora do Brasil.”
Estão na disputa pela compra do HSBC o Bradesco, Itaú Unibanco e Santander. As informações até aqui divulgadas dão conta também de que não haverá prejuízo aos clientes do banco. Juvandia diz que não foi registrado nesta semana nenhum movimento de corrida de clientes às agências do banco para saques ou encerramento de contas. Mas o simples fato de retirar suas operações de varejo do mercado e vendê-las a outro banco significa mais um lance de concentração do setor financeiro no país, o que é prejudicial para a população.
“O sistema bancário no Brasil ganha uma barbaridade, basta ver todos esses bancos estrangeiros”, afirma o economista Amir Khair. “Quando eles fazem a consolidação de todas as filiais no mundo, você vê que o Brasil tem uma participação muito importante porque, ao contrário de outros países, eles têm ganhos de tesouraria aplicando na Selic, que é uma taxa de juros muito mais alta do que no resto do mundo, os ganhos são muito elevados e eles cobram tarifas bancárias exorbitantes, nas barbas do Banco Central sem nenhuma restrição”, disse.
Sistema financeiro
Para Khair, falta regulação no sistema financeiro no Brasil. “Falta muita regulação, falta botar limites, falta estabelecer regras para a movimentação do capital internacional para vir e sair daqui, especialmente para vir, e com relação a essas questões o Banco Central é totalmente omisso. Eu não vejo nada mais danoso às finanças do país do que a atuação histórica do Banco Central, praticando taxas de juros extremamente elevadas, beneficiando o rentismo no país e as grandes empresas que têm saldos de caixa fortes para aplicar em títulos e gerando uma distribuição de renda às avessas”, afirmou.
Para o economista, dois números apenas dão a dimensão do desafio que existe no país para promover mais justiça social: “Este ano, R$ 28 bilhões serão para o Bolsa Família e de juros nós vamos pagar R$ 440 bilhões. Isso mostra que você não tem um comando da economia minimamente racional. Há um deslocamento de dinheiro de todos os setores que trabalham, com exceção dos que lucram com a taxa de juros, para o sistema financeiro, tanto o sistema financeiro da parte bancária quanto o sistema financeiro comercial – ai você pega a Casas Bahia, Magazine Luiza, essa turma toda vive dos juros, e os grandes conglomerados têm sobras de caixa fantásticas, que permitem viver aplicando no mercado financeiro, ganhando dinheiro às custas de todos nós”.