No próximo dia 16, o assentamento de Iperó completa 26 anos com quase 400 famílias, que produzem frutas, hortaliças e criação animal que abastecem aproximadamente 20 cidades, num raio de 150 quilômetros.
Para lembrar a ocupação da área em 16 de maio de 1992 promovida pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) haverá um ato político e cultural, das 14h às 18h, no barracão comunitário do assentamento, fica na Fazenda Ipanema (Flona).
O técnico de agroecologia Alan Martins Ribeiro, 30 anos, chegou com quatro anos em Iperó junto com a família, que é de Sumaré. Ele lembra que havia muita ciranda e outras atividades para as crianças e que havia uma união muito forte.
“Até porque na escola havia preconceito por parte dos professores em dar aulas para alunos sem terra, e muitos pais também orientava os filhos a não conversarem com a gente. Então, aqui dentro, era a nossa cidade”, relata.
Por dentro do assentamento, são 15 quilômetros percorridos de uma ponta a outra. Nesse território 1/3 dos alimentos produzidos são orgânicos, explica Alan.
Entre os produtores que estão solicitando a certificação orgânica está Edson Faccini, que acaba de completar 52 anos. Ele se recorda do dia da ocupação da área pública, que estava repleta de mato, sem ter nenhuma atividade produtiva no local. “Eu era um rapaz de 26 anos e quando chegamos só tinha mato. Vim de Santa Bárbara D´Oeste, assim como a maioria das famílias”.
Por três meses, o Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba e Região, sob presidência do metalúrgico Carlos Roberto de Gaspari, emprestou o caminhão de som para fortalecimento da posse da terra.
A escritura que tornou o acampamento em assentamento ficou pronta entre o final de 1994 e 1995.
Diversidade
Um dos marcos do assentamento de Iperó é a diversidade. Foram 800 famílias, inicialmente, planejadas para morar e cultivar a área, de 13 cidades diferentes. “De criação e de culturas diferentes. Tinha gente de Pernambuco, do Ceará, mas umas 100 famílias eram de Santa Bárbara”, conta Edson.
Diferente de outros assentamentos, Alan explica que não há um alimento que seja o carro chefe em Iperó. “Há uma enorme diversidade no cultivo aqui”.
Um dos maiores do Estado de São Paulo, o assentamento conta com cinco cooperativas e fornecem alimentos para prefeituras e escolas. Antes do golpe (de 2016) existiam programas que incentivavam a compra dos produtos da agricultura familiar.
“Então, fornecíamos para muitas prefeituras. Depois, com o Temer o PAA (Programa de Aquisição de Alimentos) e o PNAE (Programa Nacional de Alimentação Escolar) – implantados no governo Lula – sofreram cortes, assim como outras políticas públicas e isso prejudicou diretamente a agricultura familiar”, explica.
Uma jovem senhora
Um tronco forte que dá para ser abraçado por duas pessoas é o que mantém uma portentosa Jatobá, de copa larga e folhas bem verdes, em frente ao barracão comunitário do assentamento, onde também funciona a igreja.
“As crianças marcavam os nomes nela e ela foi crescendo, crescendo. Agora, dá para ver alguns nomes lá em cima, nos troncos altos, mas alguns já estão ficando apagados”, diz Edson olhando para cima.
Enquanto isso, Alan procura onde gravou seu nome, mas não encontra. Quando chegaram na área essa árvore de respeito já tinha uns 20 anos.
Assim como o assentamento, ela foi se desenvolvendo. “Já trocamos várias vezes o telhado do barracão. Porque prefiro trocar as telhas do que cortar os galhos”, conta Alan.
Assim como a árvore, as crianças cresceram e estão assumindo o cultivo e a luta pela sobrevivência na terra.
Uma luta desigual. O assentamento está próximo da cidade, a internet funciona normalmente e a cidade é muito atraente. Fora isso, ainda os grandes veículos de comunicação, como Globo, disseminam ideias consumistas e são vendedores de uma ilusão, que desagrega a classe trabalhadora.
Por outro lado, a força dos que resistem e que fazem valer a história por direitos e conquistas, continua repercutindo e mostrando que um outro mundo é possível. Um mundo sem agrotóxico, de uma vida saudável, mais natural, com famílias produzindo e abastecendo as cidades.
“Esperamos que em 10 anos todo o assentamento já esteja produzindo 100% alimentos orgânicos. É o que o consumidor está pedindo”. É para isso que Alan, Edson e outros assentados trabalham dia a dia, sol a sol. Ou até mesmo com chuva. Apesar que chuva é coisa rara, conta Edson. “O morro de Ipanema espanta a chuva”.
A atividade na quarta-feira, dia 16, das 14h às 18h, é aberta ao público em geral e contará com lideranças que ajudaram a construir o assentamento. Assim como a participação de um dos líderes do MST, Gilmar Mauro. Haverá brinquedos infláveis, música ao vivo e pipoca.