O relatório final da Comissão Nacional da Verdade apontou cinco pessoas diretamente ligadas ao assassinato do estudante Alexandre Vannucchi Leme. O sorocabano foi torturado e morto em 17 de março de 1973 sob a custódia do Estado por motivação exclusivamente política. Foram identificados como autores de graves violações de direitos humanos o ex-secretário de Segurança Pública, Sérvulo Mota Lima, os ex-delegados do Departamento de Ordem Política e Social de São Paulo (Dops/SP), Edsel Magnotti e Sérgio Fernando Paranhos Fleury, o ex-chefe do grupo de tortura do Destacamento e Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi) do II Exército, Attila Carmelo, conhecido como doutor Jorge e o ex-delegado do DOI-Codi, Lourival Gaeta, que pertencia à equipe de interrogatório.
Magnotti e Fleury forneceram informações inverídicas sobre o paradeiro de Alexandre. As notícias foram passadas ao pai do estudante, José de Oliveira Leme. Já Mota Lima é acusado de publicar uma nota com dados falsos a respeito da morte do sorocabano.
Tanto Gaeta quanto o doutor Jorge participaram das sessões de interrogatórios, que culminaram na tortura e morte de Alexandre. Ambos foram citados em depoimentos de nove presos políticos na 1ª Auditoria Militar, ocorrida em 1º de julho de 1973.
O documento detalha ainda que Alexandre foi torturado em 16 e 17 de março de 1973 por duas equipes do DOI-Codi/SP. A equipe C atuou no primeiro dia e era composta por Lourival Gaeta, o PM Mário, o investigador de polícia Oberdan, o carcereiro Marechal e chefiada por doutor Jorge. A equipe A, composta por João Alfredo de Castro Pereira (Dr. José ou Alemão), Dr. Tomé, Dr. Jacó, Rubens e Silva seviciou o estudante no dia seguinte.
A cerimônia de entrega do relatório final da Comissão Nacional da Verdade ocorreu anteontem, no Palácio do Planalto, com a presença da presidente Dilma Rousseff (PT). O documento levou dois anos e sete meses para ser elaborado e relata as investigações referentes aos atos de violação de direitos humanos entre 1946 e 1988.
Justiça
O tio de Alexandre, o professor Aldo Vannucchi, classificou como importante a formalização do relatório. “Porque confirma a responsabilidade criminosa desses torturadores”, conta. “E põe em questão a própria Lei da Anistia. Eu, pessoalmente, não acho que os criminosos de ontem devam ser presos. Sou a favor que esses nomes sejam agora publicados de forma bem aberta”, relata.
Esse relatório nacional teve a ajuda da Comissão Municipal da Verdade, formada na Câmara de Vereadores. O pedido foi feito por um grupo de estudiosos do assunto, militantes e sindicalistas, liderados pelo professor de filosofia Daniel Lopes. A proposta recebeu o apoio unânime dos 20 vereadores.
Alexandre Vannucchi Leme foi considerado um terrorista na versão do regime militar. Quatro décadas se passaram e o governo brasileiro decidiu reconhecê-lo como anistiado político e oficializou um pedido de desculpas público pela violência praticada pelos seus agentes da ditadura.
A cerimônia foi conduzida pela Comissão de Anistia, do Ministério da Justiça, e contou com a presença de familiares e amigos de Alexandre Vannucchi Leme. Na ocasião, houve um julgamento simbólico no Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo (USP) para aprovação da anistia política ao estudante.