O metalúrgico Julio Valladão Neto morreu no início da tarde de hoje, dia 10, após grave acidente de trabalho enquanto operava uma máquina mandrilhadora na Metso Equipamentos, na zona industrial de Sorocaba. Foi o terceiro acidente fatal na fábrica em quatro anos, além de mutilações ocorridas no período.
Desde às 16h, diretores do Sindicato dos Metalúrgicos e membros da Cipa se concentraram em frente à fábrica para cobrar explicações da empresa, que até o final da tarde não havia dado informações à imprensa de Sorocaba.
Segundo colegas de trabalho, Valadão tinha 56 anos de idade, 30 anos de Metso (antiga Faço) e estaria cumprindo horas-extras para a empresa na tarde do acidente, que ocorreu às 13h40.
Não se sabe, ainda, se ele foi puxado pela máquina ou se peças pesadas da mandrilhadora o atingiram. A empresa não emitiu comunicado até às 18h30. Mas os principais ferimentos teriam sido na região do abdômen.
O metalúrgico teria saído da Metso com vida, mas morreu logo após dar entrada na Santa Casa de Sorocaba.
Trabalhador conhecido e respeitado na categoria metalúrgica, a morte de Valladão causou comoção e revolta em companheiros de trabalho e lideranças sindicais. Vários de concentraram em frente à fábrica logo após saberem do acidente.
RH acha que comoção é ‘baderna’
O dirigente sindical Adilson Faustino, o Carpinha, que esteve no local do acidente, disse que por volta das 17h colegas funcionários ainda tentavam retirar partes da camisa de Valladão das engrenagens da máquina.
Indignado com a morte do trabalhador, Carpinha teve que discutir com representantes da Metso para acompanhar a ocorrência no local do acidente. “Um funcionário do setor de recursos humanos da empresa, chamado Pedro, indiferente à tragédia com o companheiro, disse que não ia aceitar `baderna` dos funcionários e dirigentes em torno do acidente”.
O vereador Izídio de Brito (PT), de prontidão em frente à fábrica, revoltou-se ao ouvir o mesmo “Pedro do RH” dizer, ao entrar na fábrica, após a morte de Valladão, que ali não era “lugar de baderna”.
Apesar da falta de habilidade de Metso para tratar a ocorrência, não houve conflitos e os trabalhadores do turno foram dispensados devido à comoção pela morte.
Metso é reincidente
Após uma queda no número de acidentes da Metso no último ano, depois que a empresa foi duramente repreendida e multada em R$ 600 mil pelo Ministério Público do Trabalho, a incidência de denúncias de condições inseguras de trabalho voltou a acontecer nos últimos meses.
Devido às denúncias sobre condições inseguras e de pressões de chefes irresponsáveis, que causaram acidentes nas últimas semanas (incluindo a ponta de um dedo de trabalhador decepado há 15 dias), o Sindicato realizou duas assembleias na Metso sobre acidentes de trabalho esta semana.
Nas assembleias, os dirigentes sindicais pediram cautela aos trabalhadores e exigiram providências da empresa. Na Metso Equipamentos, local do acidente hoje, dia 10, a assembleia foi quarta, dia 7. Na Metso Fundição, a assembleia foi dia 8.
A Metso é uma empresa de capital filandês e, juntas, as duas unidades de Sorocaba reúnem aproximadamente 1.500 trabalhadores, sendo mil na Metso Equipamentos, local do acidente fatal.
Cipa é barrada
Ozéias Beltramo, dirigente sindical e membro da Cipa, também de prontidão de porta da fábrica hoje, denuncia que a empresa impede acintosamente a atuação da Comissão Interna de Prevenção a Acidentes. “Somos barrados, pressionados, desrespeitados em vários setores da fábrica. Quando pedimos informações ou fazemos reclamações, não obtemos retorno da Metso”, relata.
O dirigente sindical também afirma que qualquer alegação de democracia interna por parte da fábrica é enganosa. “Os suplentes de Cipa, que teriam muito a contribuir no quesito segurança, são desprezados, sequer participam de reuniões. O resultado, infelizmente, é o que temos visto há anos, com um pequeno intervalo após a repercussão social das mortes e mutilações de 2008”.
Danos à coletividade
A Metso, fabricante de equipamentos instalada em Sorocaba, foi obrigada, em 2010, a investir R$ 600 mil em projetos e programas voltados à segurança e à saúde dos trabalhadores do município.
A obrigação foi exigida pelo Mistério Público do Trabalho (MPT) como reparação por danos morais causados pela Metso à coletividade.
Em investigação, o MPT constatou irregularidades que resultaram em acidentes graves na fábrica. No segundo semestre de 2008 houve 4 acidentes na Metso. O saldo foi de dois mortos, um paraplégico e um mutilado.
O compromisso da Metso com os projetos consta em um Termo de Ajuste de Conduta (TAC) que a empresa firmou com o MPT.