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Editorial

A quem interessa e o porquê da carne fraca

É necessário ter prudência no trato com o assunto. Principalmente, é preciso não contribuir para generalizar a avaliação de qualidade de um importante produto de exportação brasileiro

Imprensa SMetal
Divulgação

A divulgação, na sexta-feira, dia 17, das investigações da operação Carne Fraca, da Polícia Federal, que indicava a adulteração de alimentos por grandes marcas do setor frigorífico, causaram justa indignação e receio em milhões de brasileiros, que se manifestaram principalmente nas redes sociais.

No entanto, é necessário ter prudência no trato com o assunto. Principalmente, é preciso não contribuir para generalizar a avaliação de qualidade de um importante produto de exportação brasileiro.

Especialmente no cenário atual, em que a indústria de transformação e o consumo de produtos não essenciais estão afetados pela crise, o agronegócio no Brasil tem se tornado importante para que o PIB e a balança comercial não afundem de vez.

Claro que não ajudou o fato do presidente Michel Temer (PMDB-SP), no fim de semana em que a operação da PF ganhava ampla repercussão, levar embaixadores para jantar numa churrascaria em Brasília que serve carne importada.

Não se trata de defender o grupo BRF (Sadia e Perdigão) e JBS (Friboi e Seara) e outras poderosas empresas citadas na investigação. Pelo contrário, o SMetal defende a rigorosa investigação, em nome da saúde pública e do direito do consumidor; e a máxima punição prevista em lei caso as terríveis irregularidades sejam comprovadas.

Mas recomendamos analisar com equilíbrio a quem interessa generalizar as suspeitas sobre a qualidade das carnes e derivados produzidos no Brasil.

Não podemos, no entanto, nos esquecer, por exemplo, que o presidente do conselho administrativo da BRF, Abílio Diniz, declarou publicamente, no final de janeiro deste ano, que o governo Temer representava a “esperança” porque iria realizar as “reformas” necessárias [leia-se da Previdência e Trabalhista].

O hoje sob suspeita empresário Diniz, da BRF, afirmou ainda que “não pode ter a ilusão de que vamos tirar boa parte dos 12 milhões do desemprego”. Para ele, a grande tarefa de Temer teria que ser realizar as reformas.

O escândalo da carne fraca nos reporta ao discurso do deputado federal Vitor Lippi (PSDB), eleito pela população de Sorocaba e região, que afirma acreditar na santidade dos empresários brasileiros, ao afirmar que eles são vítimas de leis que protegem demais os trabalhadores.

Lippi tem dito em veículos de imprensa que no Brasil existe uma “indústria de ações trabalhistas”, que sufocam os pobres empresários. Ele afirma isso para defender a Reforma Trabalhista e faz coro com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que chegou a afirmar que a Justiça do Trabalho “não deveria existir”.

Pois então. Existe a possibilidade de alguns desses “pobres coitados” estarem vendendo carne podre para a população brasileira a fim de aumentarem seus lucros. O que não fariam com o trabalhador se ele não tivesse ninguém a quem recorrer em caso de abusos trabalhistas?

Também não concordamos com a postura de Temer ao afirmar, no fim de semana, que a Polícia Federal talvez tenha se precipitado ou exagerado na divulgação da Carne Fraca. Quando os alvos eram os governos de Lula e Dilma (ou cada um deles como indivíduo) não havia precipitação ou exagero suficientes para os golpistas. Cada citação ou cada suspeita remota virava um circo de mídia, onde brilhavam policiais e juízes narcisistas.

Nunca havia também, para os golpistas, exageros nas redes sociais. Pelo contrário, apoiavam e investiam nos chamados haters da internet, que pregavam e pregam o ódio e a intolerância; e nos grupos virtuais e boateiros da direita.

Nós, do SMetal, por outro lado, defendemos o equilíbrio e a atenção séria às investigações. Afinal, como diz o ditado: cautela e canja de galinha não fazem mal a ninguém. Porém, por enquanto, é melhor que a ave da canja não seja da Sadia, da Perdigão, da Seara…

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