Na maioria das vezes, a história oficial — aquela estimulada pelos governantes e pela elite financeira de direita — destaca apenas os nomes de celebridades na construção do país, do estado, das cidades e da sociedade.
É como se apenas os grandes empreendedores formatassem o mundo em que vivemos e à população coubesse apenas o papel de espectadora desse processo.
Quem quiser saber da história das organizações sociais e de trabalhadores, terá que buscar publicações específicas. É como se a história operária e a história da civilização moderna fossem coisas distintas; e não faces de uma mesma jornada ao longo dos anos.
Embrião da cidade
Em Sorocaba, de perfil histórico coletivo e operário, essa omissão é ainda mais disseminada. Afinal, aqui a direita resolveu fincar mais fundo suas bandeiras neoliberais, que buscam justificar a exclusão e pregam o conformismo diante das injustiças sociais e trabalhistas.
É bastante divulgado, por exemplo, que os bandeirantes da família Sardinha construíram a primeira fundição rústica do continente no morro Araçoiaba (atual Fazenda Ipanema) por volta de 1590. Mas é bem menos divulgado que, após os patrões terem abandonado o empreendimento, no início do século 17, os operários fundaram uma vila na Zona Norte, nos altos do Itavuvu.
Quando Baltazar Fernandes chegou já existia uma comunidade de trabalhadores bem organizada, que ele tratou de incorporar ao município que fundou em 1654.
Pioneirismo
Também é notório que Dom João VI, nas primeiras décadas do século 19, mandou construir uma grande siderúrgica (a Real Fábrica de Ferro) também no morro Araçoiaba. Mas é raro vermos ressaltado que os escravos negros desse empreendimento formularam as primeiras pautas de reivindicações que se tem registro na região.
Ou seja, os operários escravizados da siderúrgica, com ajuda de técnicos estrangeiros, suecos e alemães, organizaram-se para exigir condições de trabalho, de vida e dignidade.
Primeiras leis
Na greve de 1917, que deu início à conquista de uma série de direitos, os trabalhadores de Sorocaba tiveram participação exemplar. Mais de 10 mil operários locais participaram da paralisação, em uma cidade que contava então com apenas 40 mil habitantes.
Nas décadas de 20 e 30, novas greves e protestos continuaram conquistando direitos trabalhistas em muitas regiões e categorias profissionais, como registro de trabalho, regulamentação da jornada, direito de férias, redução do trabalho infantil e aposentadoria.
CLT foi conquista coletiva
No início dos anos 40, o presidente Getúlio Vargas, espertamente, condensou os direitos que os trabalhadores vinham conquistando em um único documento, a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).
A CLT, hoje praticamente arrancada de nós pelos golpistas, portanto, não foi um presente de Getúlio, foi fruto de uma série de lutas coletivas da sociedade.
Séculos 20 e 21
Na segunda metade do século 20 os operários de Sorocaba, inclusive metalúrgicos, continuaram moldando a história local não somente com seu trabalho, mas também com sua consciência de classe, seu espírito coletivo e seu senso de cidadania.
Poucos anos atrás, as organizações de trabalhadores, junto com os movimentos sociais, foram responsáveis por alertar a sociedade que havia um golpe em curso do país. E que o objetivo desse golpe era retirar nossos direitos, fazendo a sociedade regredir mais de um século na história.
Dito e feito. Mas a retomada da consciência e da fraternidade entre a classe trabalhadora ainda é possível, com consequências bastante positivas no resgate dos direitos coletivos da população.
Reflexão
Nesta semana de aniversário de Sorocaba, sugerimos que cada um de nós tenha a humildade de refletir sobre a história. Não somente a história que já passou, mas também aquela que estamos construindo neste momento e aquela que queremos deixar para os próximos anos e para as próximas gerações.