O segmento eletroeletrônico foi tema de debate em encontro realizado no Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba e Região (SMetal), na última quinta-feira (4). Dirigentes sindicais do ramo metalúrgico debateram sobre a agenda dos trabalhadores nas fábricas, que envolve investimentos para geração de empregos e melhores condições de trabalho.
A atividade, realizada pela Confederação Nacional dos Metalúrgicos da CUT (CNM/CUT), em parceria com a Federação Estadual dos Metalúrgicos da CUT-SP (FEM-CUT/SP), contou com a presença de dirigentes de diversos sindicatos do estado de São Paulo.
O encontro visa promover a integração entre trabalhadores do segmento, por meio de formação sobre o tema e da troca de experiências entre o grupo, contribuindo para a organização no local de trabalho e faz parte de uma jornada de debates; o primeiro foi realizado na última semana em Extrema (MG), o segundo no SMetal, em Sorocaba (SP), e o terceiro será em Manaus (AM).
Loricardo de Oliveira, presidente da CNM/CUT, afirma que o segmento é estratégico para o país. “Precisamos conhecer o setor e encaminhar nossos debates. Discutir com os sindicatos, com os trabalhadores nas fábricas, avançar com conhecimento”, ressalta.
O secretário-geral da CNM/CUT, Renato Carlos de Almeida (Renatinho), explica que o encontro tem como objetivo justamente sistematizar as demandas dos trabalhadores, para abrir diálogo com o Governo Federal.
“Tivemos um problema na pandemia com o fornecimento de semicondutores e as montadoras e os trabalhadores foram muito impactados, então a gente precisa reestruturar esse segmento. No final desses encontros, queremos construir uma pauta que seja comum e levá-la para o governo para tentar diminuir as importações e garantir que se desenvolva a produção local, que esse é o foco para gerar emprego”, explica o dirigente.
Pautas dos trabalhadores
Uma das questões abordadas foi a importância do investimento na produção nacional. “O Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação planeja modernizar o parque produtivo do CEITEC [Centro Nacional de Tecnologia Eletrônica Avançada], para retomar a fabricação de condutores no Brasil, visando a exportação de chips, em especial para a América Latina, que é um mercado importante, e tentar também consolidar e ampliar a participação do Brasil na exportação para a América Latina”, conta a economista do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Renata Filgueiras.
Além disso, outras pautas foram abordadas, como o reajuste salarial, a promoção da saúde e combate ao assédio, além da capacitação profissional frente ao avanço das tecnologias. “É um setor que está se modificando com a indústria 4.0, com a inteligência artificial e a gente vê muitas perdas de postos”, afirma Kelly Galhardo, secretária executiva de políticas sociais da CNM/CUT e coordenadora do segmento eletroeletrônico da entidade.
Eletroeletrônico em Sorocaba
Conforme dados da RAIS de 2022, levantados pela subseção Sorocaba do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), o segmento eletroeletrônico representava cerca de 20,55% da base do SMetal.
O vice-presidente do SMetal e secretário de saúde do trabalhador da Central Única dos Trabalhadores (CUT-SP), Valdeci Henrique da Silva (Verdinho), conta que a maior parte dos produtos do segmento são produzidos fora do Brasil e vêm apenas para a montagem no país.
Mantendo a proporção da RAIS e projetando a partir dos dados do CAGED de maio de 2024, estima-se que a Flextronics, por exemplo, emprega cerca de 21,74% do total de trabalhadores do segmento, sendo uma das mais importantes produtoras de eletroeletrônicos em Sorocaba, segundo levantamentos da subseção do Dieese.
“A Flextronics chegou a ter sete mil trabalhadores em Sorocaba e esse número tem reduzido. Precisamos lutar para ter mais empregos e de qualidade”, afirma.
Verdinho ressalta que uma das grandes demandas na Flex é a melhoria da jornada de trabalho. “Precisamos ter mais organização para fazer o enfrentamento da forma correta e lutar para que estes trabalhadores consigam ter tempo de lazer e ficar mais com a família”, completa.
Mulheres são a maioria
Grande parte dos trabalhadores do segmento é composto por mulheres, trazendo à tona desafios específicos. Kelly Galhardo ressalta que, por exemplo, as mulheres ainda recebem salários menores que dos homens, na mesma função e os Sindicatos buscam amenizar essa situação por meio das Convenções Coletivas de Trabalho (CCTs).
Além disso, outra questão enfrentada é o assédio, seja sexual ou moral, Verdinho conta, por exemplo, o caso de uma trabalhadora que foi recentemente demitida por justa causa na Forusi, empresa da base do SMetal e atua no segmento eletroeletrônico, após denunciar que estava sofrendo assédio. Após negociação com o Sindicato, a empresa reverteu a demissão por justa causa e pagou as verbas rescisórias da metalúrgica.
*Com apoio de Caroline Queiróz e Carol Fernandes