“Negra, macaca, volta para a África, que é o seu lugar!” é o que ouviu Vera Lúcia da Silva ao defender um idoso envolvido em um acidente de trânsito com o comerciante Cláudio Kubo, em frente ao salão de cabeleireiro em que a sorocabana trabalhava, em 2011.
“Eu me senti envergonhada, mas voltei lá e disse que se ele continuasse batendo no senhor, ia chamar a polícia”. Após a chegada da polícia, Vera abriu Boletim de Ocorrência denunciando a Injúria Racial que havia sofrido, levando o homem à cadeia, que foi solto em 24h.
Em uma das audiências do inquérito, o agressor deixou de comparecer, e ela conta, que depois disso, passou a ser ameaçada diariamente em seu salão, com pessoas jogando ovos, sendo praticamente obrigada a fechar seu salão.
Após as ameaças, ela foi para Maceió/AL, cidade onde o filho mora, por medo da perseguição.
“Até hoje eu sinto medo, mas eu tenho esperança que o racismo um dia acabe. Nós somos seres humanos, mas na mente de muitos brancos ainda somos escravos”, conta Vera, que fez sua denúncia durante o Cine SMetal de novembro, especial do dia da Consciência Negra, quando foi veiculado o filme Medida Provisória.
Racismo no Brasil
Segundo o Atlas da Violência de 2021, 2.601 mulheres negras foram vítimas de homicídio no Brasil. Esse número representa 67,4% do total de mulheres assassinadas. Também corresponde a uma taxa de 4,3 vítimas para cada população de 100 mil. Trata-se de um índice 79% superior ao das mulheres não negras.
“O Racismo se manifesta no preconceito, ódio e exclusão da pessoa de cor Negra dos espaços Políticos, Sociais Públicos, Religiosos e Privados. A pessoa de cor Negra é tratada com desprezo, violência verbal, social e física”, afirma o sociólogo, Justino Amorim da Silva, para o Portal Geledés.
Segundo um levantamento feito por um grupo de trabalho criado pelo Ministério Público Federal, 90% dos casos de injúria racial denunciados à Polícia Federal entre 2000 e 2021 foram concluídos sem indiciamento. A proporção é ainda mais alta nos casos de discriminação e preconceito racial ou religioso, com 92%. Esses dados demonstram que há pouco amparo para quem busca no judiciário um caminho para viver com dignidade.
“Não vou me calar mais, porque tem muita gente sofrendo racismo por aí. E a Lei faz muito pouco, deveriam dar mais atenção para quem está sofrendo racismo, dar mais oportunidade para elas falarem e reagirem”, protesta Vera.
Cine SMetal
Lançado em julho de 2023, por iniciativa do Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba e Região (SMetal), o “Cine SMetal” acontece sempre às quintas-feiras, a partir das 19h, no auditório da sede da entidade, em Sorocaba, totalmente gratuito.
Renata Rocha, responsável pela curadoria e mediação, afirma que é muito importante o envolvimento da classe trabalhadora no sucesso do projeto.
“O Cine SMetal surge com a proposta de ampliar o acesso dos trabalhadores e trabalhadoras a atividades e espaços culturais em Sorocaba e região, que tanto carecem de políticas públicas voltadas a esse aspecto”, disse.
Interessados em exibir produções cinematográficas no Cine SMetal podem entrar em contato pelo WhatsApp (15) 99707-0999 ou e-mail [email protected], para falar com a curadora Renata Rocha.