Desde que o Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba e Região (SMetal) soube das demissões que estão acontecendo na Flextronics, a entidade está sendo procurada por ex-trabalhadores para denunciar o descaso que enfrentam no dia-a-dia na fábrica.
Uma das centenas de trabalhadoras que foram demitidas da Flextronics nas últimas semanas falou com o SMetal durante a homologação, que aconteceu na sede da entidade, mas pediu que não fosse identificada. Ela disse que estava há mais de 20 anos na empresa e que foi demitida com problemas de saúde. Além disso, a trabalhadora denunciou o descaso da Flex com mulheres e pessoas com deficiência.
“Simplesmente disseram que a demanda não estava boa e mandaram embora muitas mulheres, inclusive pessoas com deficiência. O mais triste é que contrataram através de agência mais de 100 novos funcionários e, em menos de um mês, mandaram todos embora para contratar novos. O meu sentimento é de mágoa, porque nós, mulheres da Flex, fazíamos múltiplas funções, inclusive tarefas que não estavam de acordo com meu cargo. Eles abusam da nossa mão de obra. O selo de humanitária da empresa é só para fora, porque dentro é totalmente diferente. É um descaso”, destaca a ex-trabalhadora na Flex.
Demissões na Flex
Desde outubro, o SMetal recebe denúncias de que centenas de trabalhadores foram demitidos da empresa. Na homologação do sindicato, mais 70% dos trabalhadores são mulheres.
“Se tivesse diálogo com o SMetal, há diversas formas que poderíamos evitar parte das demissões. Por exemplo, na CNH Case conseguimos negociar a redução do número de trabalhadores demitidos e a diminuição dos impactos”, conta Valdeci Henrique da Silva (Verdinho), vice-presidente do SMetal.
Falta de diálogo com o SMetal
O SMetal é a entidade representativa dos trabalhadores metalúrgicos de Sorocaba e região. Nazaré Inocência da Silva, que participa do Comitê Sindical de Empresa (CSE) da Flex, destaca que o sindicato conquistou o respeito de diversas empresas com anos de organização sindical, negociação e mobilização.
“Na Flex já contestamos várias práticas antissindicais da empresa, como nos boicotar nas negociações, e o descumprimento de direitos básicos, como limitar os trabalhadores a irem ao banheiro”, ressalta a dirigente.
A data base da categoria metalúrgica foi no dia 1º de setembro e, desde então, o Grupo 2, que representa a Flex, não apresentou nenhuma proposta que atenda as demandas dos metalúrgicos, que apontaram no mínimo 2% de aumento real, além da reposição do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), que ficou em 4,06%, resultando em 6,14%.
Por isso, o SMetal tem buscado cada empresa para negociar o aumento dos trabalhadores e a renovação da Convenção Coletiva de Trabalho (CCT), que garante direitos como licença maternidade de 180 dias. A Flex se negou a dialogar e aplicou um aumento menor que o restante da categoria sem negociar.
Só com mobilização há melhoras
O SMetal entregou em outubro uma nova pauta de demandas para a categoria e até agora não teve nenhum retorno da empresa. As propostas são: realização das reuniões entre empresa e Comitê Sindical de Empresa (CSE), concessão de tempo hábil para a entrega de materiais informativos para a categoria, como a Folha Metalúrgica; iniciar a discussão sobre calendário e dias pontes para 2024; iniciar uma discussão sobre jornada de trabalho para garantir descanso aos sábados.
A Flextronics presta serviços no setor de manufatura de produtos eletrônicos e tem mais de 2.500 trabalhadores, até a última atualização que o SMetal recebeu.