“Nós temos que estar muito lúcidos e focados que a Campanha Salarial é uma necessidade, é preciso fazer o melhor possível, mas não salva todas as lavouras”, afirmou o presidente estadual do Partido dos Trabalhadores (PT-SP) e ex-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Luiz Marinho, durante entrevista à Imprensa do Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba e Região (SMetal).
Ele enfatizou que, para além da Campanha Salarial, é preciso pensar em um projeto maior que, no futuro, garanta aos trabalhadores melhor poder de negociação com os empresários. “É preciso pensar, juntos, num projeto maior, que passa pela eleição do calendário democrático do ano que vem. Se permitirmos sermos derrotados, vamos permitir que esse projeto de fragilizar o mercado e as condições de trabalho sejam aprofundados”.
E ponderou: “não estou amenizando a necessidade de luta, muito pelo contrário, sem luta nós não chegamos a lugar nenhum”.
Marinho, que foi Ministro do Trabalho e da Previdência no governo Lula e prefeito de São Bernardo do Campo, esteve nesta quinta-feira, dia 16, na sede do SMetal, para participar de uma reunião com a diretoria plena na entidade. Mas antes, ele conversou com a imprensa da entidade sobre vários temas.
Além da Campanha Salarial, outro ponto debatido foi a política econômica desenvolvida pelos governos Lula e Dilma, que resultou no pleno emprego e a menor taxa de desemprego já vista no País, em 2014, cenário extremamente contrário ao que vivemos atualmente.
Para Marinho, o comportamento da elite brasileira é um dos principais fatores para a situação que o Brasil vive hoje. “Eles querem tudo para eles, querem se apropriar da riqueza nacional em pequenos grupos seletos, e a massa tem que estar à disposição quando eles precisarem. O nosso projeto é totalmente oposto a isso. Nós queremos que todos tenham alimentação saudável, que todos tenham acesso à educação, que tenham pleno emprego e de qualidade”.
Essa forma de governar para a elite – e não para a população – afeta também pautas específicas da classe trabalhadora, como a Campanha Salarial dos Metalúrgicos do Estado de São Paulo, que está em andamento. “Esse governo é tão bagunçado, que há um desarranjo na cadeia produtiva, tem setores com produção alta e seguimentos com produção baixa. Mas, seguramente, os sindicatos de trabalhadores vão saber encontrar um jeito de provocar uma negociação que corresponda minimamente a esse momento”.
As eleições de 2022 também foram pauta da entrevista. Para ele, a união da esquerda já no primeiro turno é o melhor dos cenários para derrotar os atuais projetos neoliberais no Estado de São Paulo e na presidência da República.
“O melhor é se conseguirmos unificar já no primeiro turno e vamos em busca disso. Mas não sendo possível, não vamos perder a cabeça e achar que o mundo está perdido. Nós temos todas as condições de vencer essas eleições no Estado de São Paulo, com Haddad governador e com Lula presidente”, assegurou.
Confira abaixo outros trechos da entrevista com Luiz Marinho:
O Brasil de ontem x o Brasil de hoje
Qual é o Brasil que encontramos em 2003, quando o Lula assumiu? Era o Brasil da fome, da miséria, do desemprego, da implementação de uma visão neoliberal, desmonte do patrimônio público e privatizações, era isso que estava em curso e que nós tivemos que interromper.
Qual o Brasil de hoje? É muito parecido. Da fome, da miséria, do desemprego de novo. E do desmonte do patrimônio público outra vez. O que diferencia de lá pra cá são algumas coisas que nós fizemos, que eles não conseguiram desmontar. Porque se tivesse como desmontar, estaria mais grave ainda. Como é o caso das reservas cambiais, por exemplo. As reservas cambiais foram um forte que nós montamos e conseguimos manter preservadas.
Quais outras coisas que nós fizemos? Investimentos flutuantes na vida das pessoas. Foi o projeto Luz Para Todos; o 1,5 milhão de cisternas no semiárido nordestino; a integração das bacias do Rio São Francisco. Isso eles não conseguem desmontar.
É também o jovem que fez mestrado, doutorado, faculdade. Em oito anos, o Lula fez mais vagas universitárias do que a soma de todos os presidentes da história do Brasil, desde Dom Pedro. Isso é um forte que fomos montando, que é o nosso legado e que vai ajudar agora a recuperar essa esperança.
Diferença dos projetos
O nosso projeto é totalmente oposto ao atual. Nós queremos que todos tenham alimentação saudável, todos tenham acesso à educação, que tenhamos pleno emprego e de qualidade. A estrutura da economia é diferente. Por exemplo, ao invés de fazer a plataforma da Petrobras em Cingapura, o Lula decidiu fazer aqui, porque gera emprego. E para eles pouco importava.
Porque a gente consegue gerar empregos e eles não? Porque a lógica deles é importar tudo. Importam as plataformas, vendem o patrimônio público, a Petrobras, vende a Eletrobras, o Correio, a Siderúrgica. Ou seja, era um processo de desmonte, essa é a grande diferença. Agora nós, não. É reestruturar a empresa pública e repactuar o papel dos bancos públicos, para gerar empregos, renda e oportunidades.
Fortalecimento da indústria nacional
Eles voltaram novamente com a lógica de que a Petrobras tem que estar a serviço do mercado e dos acionistas. Os acionistas não podem perder e, para nós, é o povo que não pode perder.
A preocupação com a Petrobras não deveria ser qual é o lucro dos acionistas na Bolsa de valores. Já o Lula e a Dilma conduziram a Petrobrás como uma empresa estratégica do povo brasileiro. Ela é estratégica para fortalecer a indústria nacional, para poder garantir que o preço do combustível, do diesel e a da gasolina não explodissem a inflação. Ela era um item para controlar a inflação e garantir um preço no gás em que a população tivesse acesso. Mas agora, eles vêm falando “não, é preço internacional, variação do dólar”. O que resulta nos R$ 7 o preço da gasolina, aumentos no diesel, R$ 130 o botijão de gás, e isso gera desemprego.
Nos nossos governos, a Petrobras foi indutora para reestruturar a indústria naval, por exemplo, e toda a cadeia produtiva, não só do setor automotivo. O debate dos projetos de defesa da marinha, da aeronáutica, do exército, de onde iríamos produzir os caminhões, os aviões. Tudo isso faz parte da nossa visão de desenvolvimento.
A Petrobras foi a cabeça de rede para pensar a produção local. Evidentemente, que passa por outras políticas reguladoras, regulamentadoras quando falamos em relação da produção de produtos locais do conjunto das cadeias produtivas, como a automotiva, por exemplo.
Enfrentamento à pandemia da Covid-19
Seguramente, se nós fossemos governo, no meio da pandemia, nós teríamos orientado o Ministério de Ciências e Tecnologia, o BNDES, os institutos federais vinculados à inteligência do Ministério da Educação e da Saúde para dizer: vamos sugerir a reconversão industrial para produzir os equipamentos de saúde no Brasil rapidamente. Inteligência, nós temos, tecnologia, nós temos, e empresas também.
Mas os caras, não. “Importa tudo!”. O Dória, que agora está usando de chaveirinho o Butantã, propôs o projeto privatizar o Instituto no início da pandemia. Depois ele se tocou e voltou atrás. Esses caras da elite não pensam em como estruturar o Brasil para o povo brasileiro.
Eleições estaduais
Nós estamos dialogando não só com o PSOL, mas com todo mundo, e está muito claro que se a gente conseguir unir a esquerda em São Paulo, nós podemos ganhar as eleições. Agora, nós temos que reconhecer a naturalidade dos partidos reivindicarem candidaturas.
O sistema de dois turnos propicia essa possibilidade. E é natural que a gente receba o apoio dos partidos de esquerda no segundo turno para vencermos as eleições. Nós temos todas as condições de vencer essas eleições no Estado de São Paulo, com Haddad governador e com Lula presidente.
É evidente que estamos abertos para compor, mas queremos mostrar que companheiro Haddad é a candidatura mais robusta para liderar o campo da esquerda. Se fosse ao contrário, nós estaríamos dispostos a apoiar outras candidaturas, mas o fato real e concreto é que a candidatura que melhor expressa a possibilidade de ser pólo aglutinador da esquerda para nos liderar é ele.
Essa é a razão de não ainda falarmos quem é o vice do Haddad, que será o nosso candidato ao senado. Estamos abertos para compor, seja com PSOL, com PSB, ou com outros partidos de esquerda que queiram ajudar no projeto.
Mas tenho segurança e muita esperança de que nós vamos conduzir bem esse processo. Não é porque o Boulos lançou sua pré-candidatura que isso está finito. A política é dinâmica e, nesse momento, é natural que todos os partidos se coloquem. Além disso, na hora de somar, é melhor que todos estejam fortes.