Antes de trabalhar na produção da Apex Tool Group, aos 23 anos, Silvio Luiz Ferreira da Silva, aos 19, foi um dos jovens contratados por uma empresa terceirizada para atuar no Controle de Qualidade na metalúrgica Dana. Desde este período ele não concordava com o tratamento que via na fábrica: se quer podiam usar o transporte fretado por serem contratados por intermédio da terceirizada. Isso, e várias outras condutas exploratórias, fez com que o hoje secretário-geral reeleito do SMetal tivesse despertado para as diferenças esmagadoras nas relações de trabalho.
“Os trabalhadores não eram tratados de acordo com a importância que tinham”, recorda. Ele pondera que as funções desempenhadas por aqueles garotos que cuidavam do Controle de Qualidade, valiam mais do que o salário, benefícios e tratativa que eles recebiam. Passou a conversar com o Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba e Região (SMetal) e organizar os companheiros que, assim como ele, tinham dimensão das desigualdades dentro da terceirizada. Foi o suficiente para que o patrão o demitisse.
Silvinho já havia se reunido com o SMetal e os metalúrgicos da fábrica, para lutar por melhorias organizaram uma assembleia mesmo já estando demitido. Os saldos desse encontro foram imensos: uma greve por melhorias foi instaurada, além de um pedido, massivo dos trabalhadores, para que os patrões rasgassem a demissão do companheiro Silvio.
Traçou seu caminho assim: sempre combativo. Em 2007 foi contratado na Cooper Tools, compôs a Comissão de PPR e presidiu a Comissão de Condições de Trabalho, Saúde e Meio Ambiente (CCTSMA), negociando melhorias que surtissem efeito no bolso do trabalhador e garantindo a preservação da saúde e a segurança dos metalúrgicos e metalúrgicas da antiga Cooper. Em 2011 concorreu ao seu primeiro mandato como dirigente sindical no SMetal, pelo Comitê Sindical de Empresa (CSE), junto aos companheiros Mineiro, Carpinha, Bolacha e Cirilo.
Em 2014 concorreu novamente e passou a compor o quadro da direção executiva do sindicato. O convite para ser secretário-geral, no primeiro mandato, se deu em 2017. Antes disso, Silvinho passou por coletivos como a Juventude Metalúrgica e já foi secretário de Juventude da Confederação Nacional dos Metalúrgicos CNM/CUT. Hoje, reeleito ele revê o passado e projeta o futuro em entrevista que você confere aqui.
Imprensa SMetal: Esse é o seu segundo mandato como secretário-geral. O que você tirou de aprendizado no primeiro momento e o que está levando de experiência para o seu próximo desafio?
Silvio: A secretaria-geral do Sindicato é um dos cargos políticos mais importantes da instituição. Você é responsável por garantir a construção de todos os paradigmas, junto com a categoria, para todas as negociações. A ser o contato direto junto as empresas, em relação às negociações. O mandato anterior foi pautado pela ousadia e tomada de decisões que mudaram a dinâmica e garantiram muitos avanços. O que eu vejo para o novo mandato é uma nova geração de trabalhadores e trabalhadoras que buscam por melhor qualidade de vida e o SMetal tem que estar ligado para representa-los com a devida qualidade, sem esquecer de olhar para as pautas e princípios que é a característica deste sindicato.
Imprensa SMetal: O momento impulsou algumas mudanças como a plataforma de votação online, reuniões realizadas de forma remota. Como você observa essa modernização que o Sindicato teve que passar de uma forma tão rápida. Na sua concepção, tem dado certo?
Silvio: Eu vejo que tem dado muito certo porque, quando o SMetal adotou a inovação e renovação da diretoria, algumas pessoas mais velhas diziam que essa gestão que estava chegando – desses garotos – seria feita através de assembleias no Facebook e eram várias piadas. Precisou de uma crise, uma pandemia, para que se colocassem os velhinhos atrás das telas. Então a gente provou, por a mais b, que isso funciona. É claro que, para nós, o momento impar do Sindicato é a porta da fábrica junto com os trabalhadores, mas quando você não tem essas condições por conta de uma pandemia como essa que estamos vivendo, nada mais justo e digno do que poder continuar representando, continuar negociando e levando as deliberações para eles. Seja através de uma assembleia virtual ou de qualquer outra ferramenta que esteja disponível.
Imprensa SMetal: Voltando a falar sobre assembleias, um espaço em que diversas conquistas são alcançadas, o Sindicato negociou diversos acordos, fez muito pela categoria neste último período. Há alguma conquista específica que você gostaria de destacar aqui?
Silvio: Várias são as conquistas. Não dá para colocarmos peso em nenhuma delas. Porque, quando o Sindicato garante uma reintegração de um trabalhador por uma lesão, pode não ser uma vitória para toda a categoria, mas para aquela família é uma vitória. Quando nós fazemos uma negociação, seja de um PPR no qual você consegue garantir que os trabalhadores saiam felizes, acredito ser muito pontual. A grande conquista do Sindicato é organização no local de trabalho, ela é a força motriz que nos garante para que possamos ter novas conquistas. A categoria não pode olhar para uma assembleia e achar que a luta acaba ali.
Imprensa SMetal: Falando sobre questões econômicas, como você enxerga o futuro da categoria quanto a aumento real, campanha salarial e correlatos?
Silvio: É um momento cheio de desafios, precisamos sempre que a categoria esteja unida e com o olhar de que juntos somos mais fortes. É o lema da nossa campanha: ‘Juntos hoje pelos direitos do amanhã’. Não dá para falarmos muito de futuro, por conta de uma pandemia que já tem vacina, porém, se as decisões tivessem sido tomadas de forma correta, hoje teríamos condições de as empresas comparem as vacinas para imunizar os seus trabalhadores. Em relação a desafio, seja da campanha salarial ou qualquer outro benefício, sempre temos uma expectativa de crescer e buscar algo a mais. Porém, nos últimos anos a gente vem sofrendo, perdendo direitos como na Reforma Trabalhista. Se a categoria pretende avançar ainda mais, quer ganhar mais e ter mais benefícios, não pode ficar esperando por osmose. O Sindicato consegue avançar até um determinado limite chega um momento, que são necessárias políticas públicas e governamentais. Por isso que o SMetal sempre coloca projetos a nível de deputados e vereança. O Lula já dizia, nos anos 80, que o sindicato era uma grande ferramenta dos trabalhadores, mas até a instituição tem esse limite. Por isso, nada melhor do que ter um presidente que consiga olhar todas as camadas da sociedade. Se a gente fala em ter uma campanha salarial positiva, ouso dizer que, muito além de vislumbrar isso, o trabalhador deve olhar para as próximas eleições e parar de votar naqueles que retiram os seus direitos.